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Crítica

Curta-metragem goiano explora singularidades da película

Filme será exibido no Fica deste ano | 27.05.13 - 10:48 Curta-metragem goiano explora singularidades da película Curta-metragem 'Atrás da História' será exibido na Mostra ABD do Fica deste ano (Foto: divulgação)
Fabrício Cordeiro

Goiânia
- Há pouco mais de uma semana, Jarleo Barbosa lançou seu terceiro curta-metragem, Atrás da História (ou no Coração do Filme) (2013). Essa primeira exibição aconteceu no cine Lumière do Shopping Bougainville no dia 16 de maio, com a presença muito emocionada do cineasta anapolino, atualmente residente de São Paulo. Ao lado de Ludielma Laurentino, Lidiana Reis e Larissa Fernandes, Jarleo é um dos responsáveis por tocar a Panaceia Filmes, produtora goiana de audiovisual. É um grupo disposto a colocar a cara a tapa, cientes de que tudo aquilo faz parte, antes de tudo, de um empenho.
 
Esses jovens se destacam por uma noção de organização que sugere compreensão mais ampla do que é fazer cinema e do que é preciso para se fazer cinema, sobretudo numa cinematografia ainda tão carente como a goiana. Estão presentes não apenas na produção bruta de seus filmes, mas em projetos de revista eletrônica e organizações de mostras. Demonstram olhar atento para o que é cinema além daquele momento de planejar, filmar e editar/montar.
 
Dos curtas realizados, a Panaceia fez seu nome justamente com a estreia de Jarleo, Julie, Agosto, Setembro(2011), sobre uma garota suíça que, mesmo na secura do terceiro trimestre do ano, descobre seu afeto por Goiânia e alguma paixão por goianienses. É também o filme responsável por ditar o que tem se tornado o selo da produtora: fofura urbana, às vezes com algo de indie aqui e ali. Deu certo em Julie, mas já não seria o momento de especular um possível cansaço das inevitáveis doçuras às quais a produtora não resiste se entregar?
 
Faltam Duas Quadras (2011), segundo curta de Jarleo, embora seja de pegada mais tristonha, parece todo construído para uma cena de sonho acalentadora. Mesmo quando o mote chega numa porrada complicadíssima, como no É uma Vez (2012) de Ludielma, a opção segura não tarda em se concretizar numa cobertura açucarada. Uma Carta Para Heitor (2013), de Larissa, seria o ponto alto dessa vontade de nos servir uma pílula de cafuné. A Panaceia encontra sua zona de conforto, e dela também vem o novo curta de Jarleo.
 
Numa perspectiva subjetiva que transforma o filme em protagonista de si mesmo, Atrás da História bebe do truque do roteiro que aparenta se formar durante a exibição, enquanto uma voz over narra a busca romântica do que, na prática, é uma câmera que se comporta que nem gente, inclusive indo ao bar e tomando umas, saindo de lá trôpega e desfocada. Pode soar como uma versão cute-cute do videoclipe Smack My Bitch Up do Prodigy, mas não é. Bom, essa cena talvez seja.
 
O filme/a câmera procura aquela que poderia ser sua mocinha. Faz isso em locais centrais da cidade, observando janelas, olhando de um lado pro outro. Ao pé da estátua do Anhanguera, na avenida Goiás, encontra a primeira pretendente (Salma Jô, que, acompanhada da Pixar, tem boa cena de choro). Ela meio que brota naquele lugar e lembra um tanto a introdução de Julie em Julie, Agosto, Setembro.
 
Essas personagens se materializam. São achadas com aparente naturalidade, apesar de não passarem a impressão de pertencerem àqueles arredores. Com a europeia Julie, estrangeira solta por aqui, tudo bem, mas as mocinhas de Atrás da História parecem saídas de catálogos da Cantão e da Dress To, uma beleza de revista configurando outro possível padrão da produtora, que enxerga uma Goiânia onde é estranhamente comum que Praça Cívica, eixo Anhanguera e avenidas Universitária e Goiás abriguem assim, tão fácil, garotas que poderiam estampar outdoors de shoppings elitizados.
 
É uma fixação curiosa por um tipo de embelezamento feminino, o que não precisa apontar, em princípio, um problema. Gera certa estranheza, porém interessa como maneira de lançar um olhar sobre uma cidade, de oferecer uma leitura daquele espaço. "Que Goiânia é essa?" seria uma pergunta válida, quem sabe até uma verdadeira preocupação desses realizadores. Alyne Fratari, por exemplo, captura outra capital, muito diferente, oposta à metrópole delicada que se vê na Panaceia.
 
 Atrás da História é perfumado e toma banho, podendo sugerir não mais que uma brincadeirinha inocente com o cinema, de metalinguagens e referências (peixinho Nemo e sacolinha Sam Mendes são identificadas de imediato). Sua engenhosidade está na celebração da falsidade do processo cinematográfico. Poderia até dedicar mais tempo isso, às frustrações e encantos do filmar.
 
Jarleo chega a se colocar na frente da câmera para, munido de claquete e voz de diretor, revelar a artificialidade do curta um nível a mais. Que aquilo é irreal, é montado, encenado, instante que deve muito ao fato de ser a primeira película da produtora, saltando viva na tela, entregando-se às tremulações que fazem dela um objeto muscular, de pulso e batimento. O filme que se vê humano tem de fato um corpo físico. Numa época em que celuloide tem se tornado material preterido, e cada filmagem e exibição se arquiteta na lógica de senhas e HDs, isso é muito legal. Em digital, o curta seria só um espectro.
 
Atrás da História (ou no Coração do Filme) será exibido na Mostra ABD do Fica 2013, que será realizado de 2 a 7 de julho.

Comentários

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  • 27.05.2013 17:16 Fabrício Cordeiro

    Olá, Ana. A ABD-GO divulgou a lista de selecionados no dia 23 de maio. São três curtas disputando ficção: Atrás da História (ou no Coração do Filme), dir.: Jarleo Barbosa (2013, 8 min) Bilhete, dir.: Matheus Leandro (2013, 15 min) O que Aprendi com Meu Pai, dir.: Getúlio Ribeiro (2013, 15 min)

  • 27.05.2013 16:55 Ana Clara

    Ué! Como vocês podem saber se o filme vai para a Mostra ABD do Fica 2013 se a lista - salvo engano - dos selecionados ainda nem saiu? Tenho um palpite... puro pressentimento, certo? Certo.

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