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Goiano radicado na Holanda

Em temporada no Brasil, Duda Paiva produzirá espetáculo no Rio de Janeiro

Artista comenta mudanças no mundo das artes | 14.01.15 - 20:14 Em temporada no Brasil, Duda Paiva produzirá espetáculo no Rio de Janeiro (Foto: Petr Kurecka)
Lorena Lara

Goiânia - A última vez que Duda Paiva esteve no Brasil foi em 2012, quando veio apresentar o espetáculo "Bastard!", em Goiânia. Agora, o artista está de volta, tanto para passar as férias na capital goianiense, onde nasceu, como para produzir um espetáculo para a companhia carioca PeQuod.

Os trabalhos começam em fevereiro próximo, no Rio de Janeiro, e Duda adianta que é uma peça curta. "Será inserida na pesquisa do teatro de bonecos e dança, que a PeQuod faz desde 2010", explica. Apesar de morar fora do Brasil há duas décadas, Duda sempre acompanhou as produções brasileiras e a aproximação com a companhia carioca se deu através da Mostra Internacional de Teatro de Animação.

Radicado na Holanda há quase 20 anos, Duda Paiva conta que o país não é mais o mesmo. Em 1996, quando o artista se mudou de Goiânia em busca de um sonho, encontrou abrigo em Amsterdã. "Era uma meca de encontro e pesquisa cultural. Naquela época tudo era muito fácil e isso foi assassinado", lamenta.
 
Goianiense, Duda fez parte da Quasar Cia. de Dança, trabalhou no Martim Cererê e também no Balé do Estado de Goiás. Na Holanda, ele lançou sua própria companhia, a Duda Paiva Company.
 
Mudanças
Duda não foi o único a deixar sua terra natal com destino a Amsterdã. Na década de 90, o local, além de reunir toda uma geração de artistas, também recebia gente de todo o mundo. No entanto, o artista afirma que isso mudou.
 
Duda explica que a ascensão da extrema direita no país gerou um corte de 65% de todo o financiamento que anteriormente era destino às artes. "O que está acontecendo agora na França, com o Charlie Hebdo, aconteceu na Holanda há cinco anos".
 
Ele relata a morte do cineasta Theo van Gogh, que foi assassinado por um terrorista islâmico. Morto a tiros - foram oito disparos -, esfaqueado e vítima de uma tentativa de degolação, seu corpo foi encontrado com um recado que continha uma ameaça de morte, enderessada à ativista Hirsi Ali.
 
"Ela era uma política muçulmana que queria proteger as mulheres muçulmanas. O governo não deu suporte e ela teve que se mudar dali", rememora Duda.
 
A ascensão da extrema direita ao parlamento holandês também significou a ascensão de políticas anti-imigração e anti-cultura. Pergunto se existe algum lugar, atualmente, que seja parecido com a época multicultural de Amsterdã. Duda diz que nenhum lugar é igual, mas Áustria, Noruega e Alemanha têm feito esforços no sentido de valorização das artes.
 
Hoje, o artista é reconhecido internacionalmente por seu trabalho com bonecos. Quando Duda sentiu que a dança não era mais suficiente enquanto forma de expressão, encontrou nos fantoches uma saída. "Eu crio padrões coreográficos para estabelecer diálogos entre eu e os bonecos. É um desafio", revela.
 
Radicado
Duda revela que não ressente o fato de sua carreira não ter sido construída no Brasil. "Não tinha jeito", justifica. "Hoje, muita coisa mudou. Em Goiânia, as pessoas vão ao teatro, criaram esse hábito, são educadas". O artista se recorda da época em que ainda morava aqui. "As pessoas jogavam pedra na gente". Duda relembra o caso Nina Hagen, que se apresentou no Teatro Rio Vermelho em 1985. "Jogaram uma garrafa nela".
 
"Mas Goiânia está muito mais preparada para a cultura hoje, agora me dá vontade de voltar", revela. Apesar da vontade, Duda se apresentou no Brasil uma única vez, depois de ter se mudado para a Holanda. Foi em Goiânia, em 2012, com o espetáculo "Bastard!".

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"Sempre penso em voltar, mas não venho pela burocracia. Isso dificulta a organização". Duda diz que, lá fora, seus espetáculos são sempre programados com, no mínimo, um ano de antecedência. No Brasil, diz, as coisas acontecem na última hora.
 
Frutos
Duda Paiva será o artista convidado do Festival Mundial de Marionetes de Charleville, o maior da área. "É uma conquista muito grande", comemora. Seu trabalho com bonecos começou a ser reconhecido há cerca de 5 anos. Hoje, a Duda Paiva Company é referência em todo mundo no teatro de bonecos animados. "Faço muitas aulas em universidades, dirijo muitos shows", explica o artista.
 
O reconhecimento começou nos festivais, quando seus espetáculos sempre levavam os primeiros lugares. A Duda Paiva Company passou a ser a destaque nas competições e, agora, Duda recebe a homenagem do maior festival de marionetes do mundo.
 
Como artista convidado, ele poderá levar duas companhias, e as escolhidas são duas brasileiras. A já citada PeQuod e a Maurício de Oliveira & Siameses. Ambas realizam pesquisas nas áreas de dança e teatro de bonecos. 

O festival ocorre em setembro, na França, e escolheu Duda pela "qualidade e dinamismo de sua carreira artística". O objetivo do festival, ao homenagear o goiano, é promover a arte de bonecos em todo o mundo.
 

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