Sarah Mohn
Goiânia – Em consulta pública realizada na noite desta terça-feira (26), no Centro Cultural Oscar Niemeyer, ficou decidido que será retirado do local, no dia 20 de junho, o painel "Tartaruga Voante", produzido pelo grupo de designers goianos Bicicleta Sem Freio. Segundo a secretária de Educação, Cultura e Esporte, Raquel Teixeira, a decisão atende critérios legais estabelecidos em contrato entre o CCON e a empresa A Construtora Música e Cultura, realizadora do Festival Bananada, evento que abriu espaço para produção do mural ilustrativo. O contrato estipula que o painel seja mantido por 30 dias, após o encerramento do festival.
"Será retirado no dia 20 de junho, mas daremos sequência ao debate iniciado aqui hoje de ocupação dos espaços públicos, abertura de espaços culturais à arte urbana, ocupação urbana. Acho que começamos hoje um debate muito importante de ocupação dos espaços culturais", disse Raquel em entrevista coletiva à imprensa após a audiência pública.
A reunião realizada no CCON reuniu cerca de 50 pessoas, entre representantes de segmentos organizados e militantes culturais. De acordo com a secretária Raquel Teixeira, a polêmica sobre a permanência do painel do Bicicleta Sem Freio chegou a um consenso e foi importante para abrir o debate sobre intervenções artísticas em espaços públicos do Estado.
"Essa questão ficou superada. Tanto o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, quanto a Universidade Federal de Goiás, o Conselho Estadual de Cultura e os participantes entenderam que é um painel temporário, mas o debate vai continuar para que a gente ocupe outros espaços", garantiu Raquel.
Presente na audiência, o vereador Thiago Albernaz (PSDB) chegou a entregar à secretária um requerimento assinado por 34 vereadores da capital, na semana passada, solicitando a permanência do painel no CCON. “Independente do que for acordado nessa reunião, esse é um pontapé inicial para pensarmos políticas públicas e ampliarmos o debate sobre cultura na nossa cidade”, disse.
(Foto: Divulgação/Seduce)
Grupo gestor do CCON
Durante a reunião, a secretária Raquel Teixeira anunciou que será criado um grupo gestor “para ampliar o debate” quanto à ocupação artística em espaços públicos. Segundo ela, devem compor a comissão representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), da Universidade Federal de Goiás (UFG), do Conselho Estadual de Cultura e da sociedade civil. Sobre data para que o grupo seja definido e comece a atuar, Raquel brincou que avaliará e os convocará pela rede social Facebook.
Informada pelo maestro Otávio Henrique Soares Brandão sobre uma possível insatisfação do arquiteto João Niemeyer, sobrinho do também arquiteto falecido, a secretária informou que entrará em contato com a Fundação Oscar Niemeyer para esclarecer o episódio de polêmica. João Niemeyer teria dito que, caso o painel não fosse retirado da obra, a Fundação exigiria a exclusão de assinatura do centro cultural.
"Eu não tinha essa informação. Vou fazer um contato amanhã mesmo com a Fundação Oscar Niemeyer. Nós temos todo interesse em caminhar juntos pela valorização do espaço, que nos é muito caro. É um prestígio ter o Oscar Niemeryer tão grande, amplicado e visível na cidade, como nós temos aqui. Nós temos todo interesse em caminhar juntos com aquilo que valorize o nome e a obra de Oscar Niemeyer", assegurou Raquel.
(Foto: Divulgação/Seduce)
Veja abaixo opiniões manifestadas durante a consulta pública:
Raquel Teixeira (secretária da Seduce):
“Eu adoro o painel e acho que temos que discutir a abertura de espaço para a arte urbana. Acho que houve um equívoco da nossa parte ao não ter colocado, por exemplo, uma tela protetora ou algo do tipo que preservasse a integridade da obra (CCON) e a outra obra (painel do Bicicleta) fosse colocada de uma forma até mais fácil de ser removida. Mas aprendemos com a lição e não incorreremos com esse risco novamente.”
Aguinaldo Coelho (superintendente Executivo de Cultura da Seduce):
“O Niemeyer acha que o branco é importante, que o branco passa uma mensagem. É uma obra construtivista. É geracional? Talvez. Minha opinião é que temos um karma com o barroco. Quando vemos algo branco, nos incomodamos. O branco incomoda.”
Nasr Chaul (Chefe do Gabinete Gestor do CCON):
“Temos procurado preencher o Oscar Niemeyer com parcerias para a ocupação plural, democrática e republicana do local. O Conselho (Consultivo do Museu de Arte Contemporânea do CCON) não foi consultado, por houve contrato direto com a empresa para aluguel do espaço e realização, por parte dessa empresa, da intervenção do painel. Mas estamos abertos à avaliação e ao debate.”
Ana Flávia Maru (estudante de Arquitetura e Urbanismo):
“O edifício é da cidade. Nós, arquitetos, criamos edifícios para a cidade. As pessoas querem ver isso o que aconteceu aqui (intervenção artística) também em outros locais da cidade”
Vinícius Barbosa (Economista):
“Há um valor nesse tipo de manifestação, que é arte urbana. Reportes nas redes sociais vêm na intenção de trazer a discussão para o âmbito real, para que não fique restrita às redes sociais, ao academicismo ou às instâncias institucionais. A sociedade precisa desse tipo de discussão.”
Wanessa Cruz (produtora cultural):
“A meu ver, esses assuntos devem ser debatidos. O espaço é público, é nosso, e devem ser definidas regras para utilização dele.”
Arnaldo Mascarenhas Braga (presidente do CAU/GO):
“O Centro Cultural Oscar Niemeyer pode sim ter interferências, como por exemplo jogo de luz e sombra, como se faz no Museu do Louvre, ou obras como a do artista Christo (Vladimirov Javacheff, americano, que utiliza a técnica dos “embaladores”). Mas, por questões técnicas, é preciso definir critérios para preservar a obra.”
José César Teatini de Souza (professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG):
“(O painel) É um trabalho de qualidade. É inquestionável. Eu não destruiria jamais uma arte. Como o painel é arte efêmera, eu esperaria que ela por si só se destruísse. Destruir uma arte não se justifica.”
Ibis Brandão (produtora cultural):
“Grafite é uma arte que deve servir para contestar, em paredes e muros nas ruas, e não numa obra de Oscar Niemeyer. Não vejo como contestar uma obra de Niemeyer.”
(Foto: Divulgação/Seduce)