Carolina Pessoni
Goiânia - Dando sequência à rodada de entrevistas com os candidatos ao governo de Goiás, o jornal A Redação entrevistou em sua sede, nesta quarta-feira (10/9), o candidato do PSOL, Professor Weslei.
Leia mais:
A entrevista, feita pelos jornalistas Aline Mil e João Unes, foi dividida em três blocos, sendo o primeiro com perguntas elaboradas pela equipe de jornalismo do AR, o segundo com perguntas de leitores e o terceiro para considerações finais.
Além de falar de suas propostas, Professor Weslei destacou que a região do Entorno de Brasília precisa de atenção especial. "O Entorno é uma região excluída socialmente, que vive mais a realidade do Distrito Federal do que a de Goiás."
Na sexta-feira (12/9), o entrevistado será o candidato do PSDC, Alexandre Magalhães. A entrevista será às 15 horas e poderá ser assistida ao vivo através do site do
A Redação em parceria com a
plataforma Live Alive.
Assista na íntegra:
Confira os principais assuntos abordados pelo Professor Weslei:
Por que ser governador?
Sou professor Weslei, de Valparaíso de Goiás, da região conhecida como a região do "Nem" - nem Goiás, nem Distrito Federal - e bem pouco assistida. Me coloco como candidato por entender que sou a única candidatura que representa a mudança para o Estado de Goiás. Não estou atrelado a ninguém que já administrou ou administra o Estado, por isso podemos falar de forma franca e aberta sobre nossas propostas.
Educação
Nossas escolas têm modelo estrutural quadrados e retangulares, com grades na entrada e um grande corredor com salas de aula de um lado e de outro, então lembram presídios. Para que possamos implementar uma educação em tempo integral, precisamos de uma estrutura mínima, por isso nossa proposta é de uma escola ovalada, com jardins, equipada com biblioteca, ou seja, estrutura para manter os alunos o dia todo.
Chapa pura
Seria uma satisfação e honra se estivéssemos com os companheiros do PSTU e do PCB nessas eleições, porque temos o mesmo fim, mas com estratégias diferenciadas. O PSOL tem candidatura nacional, assim com o PCB e o PSTU, então para o Estado a coligação não se viabilizou. Não quer dizer que não podemos estar junto com eles nas próximas empreitadas.
Entorno de Brasília
É uma região excluída socialmente, que vive mais a realidade do Distrito Federal do que a de Goiás. As cidades são conhecidas como cidades dormitórios, onde os trabalhadores acordam muito cedo, de madrugada, dando seu dia de trabalho para o Distrito Federal. Não vivem a realidade da sua região. Queremos criar uma empresa pública de transporte para atender a região do Entorno. Em parceria com o DNIT queremos também implementar uma empresa de transporte interestadual e reativar a linha férrea de Luziânia a Brasília. Não é possível implementar a Metrobus no Entorno. Queremos criar também a polícia de segurança pública, desmilitarizada e unificada, que já está em trâmite no congresso pela PEC 51. Será uma polícia educativa, comunitária, que não amedronte a população.
Organizações Sociais na Saúde
As OSs não atendem todos os hospitais de Goiás. No Entorno não se tem hospital público, como também não há a mesma demanda para o Nordeste goiano. Portanto, as poucas unidades em que se tem esse tipo de gestão estão em Goiânia e região metropolitana. Por que Goiás está passando a Saúde para o controle das OSs quando se tem verba para administrar a saúde estadual? Onde estão os servidores públicos da saúde? Quanto ganha um diretor de OS? É um mistério. Nossa proposta é o fortalecimento do SUS. Queremos recuperar o laboratório do Iquego, subsidiando medicamentos gratuitos para a população. Vamos implementar também o programa Saúde em Casa, a Saúde vai se colocar à disposição da população, com uma equipe de médicos, enfermeiros e agentes que irão atender em domicílio, para que possamos mapear os problemas e agir quando for necessário.
Críticas aos índices do Ideb
Coloquei em xeque os critérios avaliativos do Ideb. Eu sou professor da rede pública municipal de Valparaíso, fui professor contratado da rede estadual e minha esposa é concursada do Estado. Quase a totalidade das escolas de Goiás está sucateada, não têm bibliotecas. Eu levei 90 dias para receber o primeiro salário como professor contratado. Os professores precisam dar aulas de várias disciplinas para conseguir cumprir a carga horária. E isso é proposital, porque se não há ensino de qualidade, as pessoas não são vistas como um ser humano, são vistas como números, estatísticas. A educação terá um novo viés. Eu espero que haja critérios mais transparentes de avaliação. Eu sei, como professor, que nossos professores são heróis e nossos alunos são sedentos de ensino.
Socialismo
O que falta realmente é um pouco mais de conhecimento do que são as políticas socialistas. O socialismo nada mais é do que igualdade social, combate à corrupção, desconcentração de riqueza, e é o que estamos defendendo. Quando eu defendo o fim das OSs, fim da privatização da Celg e Saneago, falo que quero trazer a gestão para o povo. Portanto, o socialismo é a defesa de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Muitas vezes somos apontados como candidatos que só defendem ideologia. Eu defendo sim uma ideologia, mas de igualdade para todos. Os quatro primeiros candidatos também têm as suas ideologias, mas de sucatear o setor público.
Perguntas dos leitores:
Sheila Moniz - Goiânia: Candidato, uma das coisas que mais castiga a população do Entorno é o transporte público caro e precário. Qual a solução para minimizar esse problema?
É importante colocar que a partir das lutas de junho de 2013 quando fomos às ruas protestar a partir das lutas das tarifas do transporte, nós conseguimos quebrar esse monopólio da empresa que operava no Entorno. Sabemos que não vai resolver o problema, queremos implantar uma empresa pública de transporte, ativar a linha férrea de Luziânia a Brasília, além de estudar o VLT para todo o Estado. Também queremos dialogar com a população que sofre com esse transporte. O VLT é possível sem parceria com empresas privadas porque há dinheiro para isso. O VLT é um transporte alternativo e vamos buscar a união para implantar as políticas públicas de transporte coletivo.
Mara Regina - Goiânia: O que o senhor acha das propostas de desmembrar o Entorno de Brasília de Goiás?
O candidato Alexandre Magalhães (PSDC) está falando em tirar o Entorno de Goiás e transformar em Estado do Planalto. Eu moro nessa região e acho que é uma ideia estapafúrdia, impensada, absurda. Nós vamos assumir o Entorno de Brasília. Nós estamos pautando o entorno, estamos incluindo essa região. Vamos assumir os problemas e resolvê-los. Moro no Entorno, minha família usa os serviços de lá e vou continuar lá. E quero que ele continue como Goiás.
Gisely Silveira - Goiânia: Candidato, nas suas propostas, o senhor cita que vai criar o programa Saúde em Casa. Como isso funcionaria já que faltam médicos nos hospitais do Estado, vai haver profissionais suficientes para atender nos domicílios?
Vamos fazer concursos públicos, ampliando as redes de profissionais, além da construção de novos hospitais.
Rafael Gonçalves - Goiânia: Quais são os projetos do senhor para manter o bom desenvolvimento da economia do Estado?
Esse desenvolvimento da economia que aparece nas propagandas é questionável. A riqueza de Goiás está concentrada nas mãos de latifundiários e donos de empreiteiras. O mesmo ocorre em nível nacional e isso não é justo. Nós vamos fazer uma auditoria completa nas contas e dívidas públicas porque temos certeza que sofremos muita corrupção. Nós iremos taxar ou sobretaxar os poderosos do Estado. Queremos questionar por que algumas multinacionais pagam baixos impostos enquanto o pequeno e médio empresário chega a deixar 17% em impostos. Vamos investir pesado em polos industriais e tecnológicos, que vão fomentar emprego e renda por regiões administrativas do Estado.
Wesley Porfírio - Goiânia: Como o senhor vai atender aos micro e pequenos empresários que precisam de acesso facilitado a fundos de investimento?
Nós vamos desburocratizar, porque o grande problema do Estado é a burocracia. O pequeno e médio empresário é fundamental para a economia e tem que ter acesso facilitado aos investimentos para aplicar no seu estabelecimento. Ao empresário, queremos dizer que a verdade é que no nosso governo o empresariado não vai precisar deixar 30% de propina, o dinheiro será seu.
Considerações finais
Quero agradecer essa rica oportunidade do jornal A Redação. O processo eleitoral não tem sido resultado de uma democracia. Nós defendemos o financiamento público de campanha e uma ampla reforma política, para dar garantias igualitárias de conhecimento dos candidatos. Esse processo atual só beneficia quem tem poderio econômico. Os empresários que financiam as campanhas não fazem financiamento, fazem investimento. São vampiros do erário público. Então, posteriormente virão as fraudes e corrupção. Chega disso.
Sou morador de uma região excluída do Estado, sei dos problemas que nós, de fato, enfrentamos. Não temos atrelamento a nenhum desses políticos, somos resultados sociais das mazelas que esses que setão aí vem cometendo a tantos anos, por isso somos diferenciados.
Não estamos querendo discutir socialismo e teoria marxista, queremos discutir propostas coesas e coerentes, para realmente resolver os problemas do povo com o povo. Defendemos o orçamento participativo, vamos ouvir a população através das assembleias populares, com um diálogo franco com a população. Por isso o voto no PSOL representa a mudança de fato para uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. É o conjunto de mulheres e homens guerreiros que estão nessa luta de Davi e Golias nas eleições em Goiás.
(Foto: Lorena Lara/A Redação)
