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Mobilidade

Lei Seca expõe precariedade do serviço de táxi em Goiânia

Carência de veículos e custo elevado evidentes | 05.01.13 - 19:23 Lei Seca expõe precariedade do serviço de táxi em Goiânia Presidente do Sinditaxi-Goiânia, Silone Antônio dos Santos apresenta questionamentos do MP ao serviço prestado na capital (Foto: Geovana Cristina)

Nádia Junqueira
 
Goiânia - A designer Isabella Gouthier, receosa com a rigidez da nova Lei Seca, pediu um táxi para ir a um casamento, ao invés de se arriscar dirigindo depois de beber. Após a espera de mais de 40 minutos pelo carro, desistiu. Foi dirigindo e chegou à cerimônia quando a noiva estava no altar. Por fim, não bebeu na festa, como gostaria.

Por trás da espera e reclamação de Isabella e de outros usuários de táxi em Goiânia está uma lista de denúncias elaborada pelo Ministério Público em relação ao funcionamento desse tipo de transporte e algumas demandas dos Sindicatos de Táxi da capital e do Estado. Altos valores cobrados nos taxímetros, falta de veículos nas ruas durante madrugadas e finais de semana além da reserva de pontos são alguns dos gargalos evidentes.

Goiânia, apesar de ser a única capital brasileira a não ter bandeira dois e o valor da corrida não sofrer reajuste desde 2008, ainda registra um dos preços mais caros entre as capitais do país, como se vê na tabela abaixo. Carlos Augusto Silva, professor, é usuário assíduo de táxi. Utiliza esse transporte tanto para o trabalho quanto para o lazer. No entanto, ele caracteriza como um “transtorno” utilizar táxi no dia-a-dia. “O serviço em Goiânia é caro, de pouca qualidade e de pouca oferta. Em horários de pico fica insuportável, pelo preço e pela demora dobrada para o carro chegar”, enumera. 

Carlos Augusto, que trabalha no Setor Jaó e mora no Centro, relata que pega caronas com colegas até a avenida que dá entrada ao setor para, de lá, embarcar em um táxi de volta para casa, porque é demorado esperar no Jaó. O preço também o desmotiva e o professor faz uma comparação. “Do Jaó até minha casa gasto R$20. Com isso, no Rio (de Janeiro), eu vou de Ipanema até o Centro da cidade com um trânsito nada agradável”, compara. A distância percorrida em Goiânia significa pouco mais de 6 quilômetros, enquanto a que ele exemplifica no Rio de Janeiro representa em torno de 15 quilômetros. 

Comparativo de valores de táxi em algumas capitais brasileiras*
 
  Bandeirada Valor por Km Bandeira 1 Valor por Km Bandeira 2 Valor desde
Rio de Janeiro R$ 4,70 R$ 1,70 R$ 2,04 abril/2012
Brasília R$ 3,30 R$ 1,80 R$ 2,28 junho/2009
Porto Alegre R$ 3,90 R$ 1,95 R$ 2,54 abril/2012
Goiânia  R$ 4 R$ 2,30 não tem junho/2008
São Paulo R$ 4,10 R$ 2,50 R$ 3,25 janeiro/2011
Fonte: www.tarifadetaxi.com

*Valores se referem a táxis comuns e não incluem taxas extras, como tempo de espera e volume de bagagem. 
 
O preço de reajuste nos taxímetros é de competência do prefeito da cidade. No entanto, o Chefe de Divisão de Fiscalização da Secretaria Municipal de Trânsito, Caubi Martins, afirma que não há nenhum estudo, por enquanto, no sentido de reajustar a tarifa. O presidente do Sindicato dos Táxis em Goiânia, Silone Antônio dos Santos, também diz que o órgão não pretende solicitar aumento da corrida. “Queremos fazer um trabalho de popularização do táxi. Como vamos querer que alguém deixe o carro em casa para pagar por um serviço caro e ineficiente?”, questiona o presidente. 

Silone Santos compara Goiânia a Curitiba, duas cidades com proporções semelhantes. “Goiânia tem cerca de 1 milhão e 300 mil habitantes e Curitiba 1 milhão e 800 mil. Aqui nós temos 1.680 permissionários, enquanto Curitiba tem 2,2 mil. A bandeirada é a mesma e o valor por quilômetro rodado lá é R$2. Ainda dá para segurar esse preço (R$2,30) aqui ou reduzir a bandeira um e criar a bandeira dois”, propõe.

Propostas
A proposta do presidente do sindicato visa estimular os taxistas a trabalharem durante finais de semana e madrugadas, quando o número de carros rodando pela cidade diminui drasticamente. Como não há  distinção entre bandeira 1 é bandeira 2, os taxistas não se motivam a trabalhar de madrugada.

“Atualmente a carga horária de um taxista é de oito horas. Ele trabalha quando ele quer, cumprindo essa carga. Não podemos obrigá-lo a trabalhar de noite ou durante final de semana”. Também reforça o problema o funcionário da SMT, Caubi Martins que afirma que há, de fato, uma maior demanda por táxis à noite e final de semana, sobretudo com o maior rigor da lei seca. 

Em contrapartida, a possível proposta da SMT para remediar o problema pode ser outra. A secretaria planeja um estudo para verificar a possibilidade de publicar edital com licitação específica, para permissionários trabalharem finais de semana, noite e madrugada. De acordo com Caubi, há a possibilidade, mas sem previsão de uma nova licitação. A última foi realizada no início de 2012 e até o final do ano os permissionários estavam ocupando essas vagas. Para o Sinditáxi-Goiânia, outra licitação deve ser feita em breve para dar conta da atual demanda da cidade. 

Outra proposta vem do Sindicato dos Táxis em Goiás, para que seja feito um remanejamento dos táxis. O presidente Joaquim Nascimento sugere uma escala entre os taxistas, de forma que haja carros disponíveis a qualquer momento. “Deve-se fazer uma escala para haver carros disponíveis por 24 horas, mesmo que não se faça corrida”, ele usa como exemplo o que acontece no Aeroporto de Goiânia. 

Presidente da Associação de Permissionários de Goiânia, Hélio Teodoro relata que o que falta na capital não são táxis, mas o costume da população em utilizá-los. “Um pequeno porcentual está usando táxi em função da lei seca. Se a gente fosse depender desse usuário, não sobreviveria. É uma cultura que goianiense não tem, porque táxis têm. Nós sabemos onde vai faltar táxi em Goiânia, mas vou ficar à noite por quê? Um número muito pequeno da população os utiliza”, diz. Ele também é favorável a um reajuste dos valores, já que não há desde 2008. “Dizer que não anda de táxi porque é caro é balela”, defende. 

Por trás do volante
Atualmente existem em Goiânia 1.680 permissionários de táxi. Credenciados a cooperativas de radiotáxis ou não, todos trabalham de forma autônoma. As vantagens de uma rádiotáxi, como padronização e facilidade em cooptar clientes, acabam atraindo alguns taxistas. No entanto, o  funcionamento, conforme descrito pelo presidente do Sinditáxi-Goiânia e denunciado pelo Ministério Público (veja documento abaixo) acabam afastando outros trabalhadores dessas cooperativas. 
 

O Ministério Público denuncia desconto de 15% a 30% no repasse do valor pago pelos passageiros aos
taxistas e pagamento de propina a funcionários de hotéis que ligam para determinada rádiotáxi

De acordo com o Presidente dos Permissionários de Goiânia, algo em torno de mil taxistas trabalham em radiotáxis. Os outros 680 rodam as ruas disputando os pontos rotativos da cidade. Por isso, explica o presidente do Sinditáxi-Goiânia, muitas vezes há táxis disponíveis na cidade - aqueles não credenciados a cooperativas. “Como o goianiense é acostumado a ligar para radiotáxis, nem sempre elas têm carros disponíveis”, explica. Eline Ferreira, produtora cultural, utiliza táxis há muitos anos e diz que em horários de rush e à noite é quase impossível conseguir um carro por telefone. “Só saindo nas ruas”, conta.   

Em Goiânia há pontos destinados aos carros de qualquer rádiotáxi e aqueles rotativos, que qualquer taxista pode utilizar, todos cedidos pela prefeitura sem qualquer custo. No entanto, o Ministério Público denuncia a comercialização desses pontos. O presidente do Sinditáxi-Goiânia afirma que não só há venda, como aluguel desses pontos, que custa cerca de um salário mínimo.

O presidente da Associação dos Permissionários não negou ao AR a venda dos pontos. “Todo mundo tem seu ponto. Se quero vender meu carro, venderia com meu ponto”, diz Hélio Teodoro. No entanto, para o Chefe de Divisão de Fiscalização da SMT nem todos os pontos devem ser rotativos. “Há aqueles pontos em que os moradores já têm relações de confiança com o taxista”, justifica Caubi Martins.   

De acordo com Silone Antônio, presidente do Sinditaxi-Goiânia, o desestímulo ao credenciamento vem dos altos custos para o taxista credenciado. Funcionários, telefone, aluguel de sede e outros custos pesam para o credenciado entre R$600 e R$1 mil mensais (o primeiro valor dito pelo presidente da Associação de Permissionários e o segundo pelo presidente do Sinditáxi-Goiânia).

Além desse custo, o carro de uma cooperativa deve ser lavado diariamente, conta Hélio Teodoro, da Associação de Permissionários. Por fim, para ser um sócio, deve-se pagar uma taxa. Caso queria ser somente locatário, o taxista é dispensado da taxa, mas perde o direito de participar de decisões e eleições da cooperativa. Também pode ser dispensado caso os associados decidam que há um número maior de credenciados que o necessário.

 

Comentários

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  • 18.03.2013 21:07 itamar fernandes monteiro

    Se pelo menos a metade da população de Goiânia for usar táxi em virtude da lei seca, 3000 mil táxis seria pouco, vale lembrar que esse aumento da demanda se dá(sexta a domingo), nos demais dias sobra táxi. A tarifa de táxi está a 5 anos sem reajuste, vale lembrar que nossos carros a 5 anos atrás era uno, classic, gol que tem uma manutenção bem inferior aos veículos utilizados hoje na praça, levando boa parte da renda em manutenção, combustível que já aumentou inúmeras vezes nesses 5 anos e o custo de vida da família do taxista que também é baseada na tarifa. Veja que funcionário de uma empresa já ficou 5 anos sem reajuste? Esta é a realidade do taxi que muitos fingem não ver,inclusive o presidente do sinditáxi-Goiás.

  • 06.01.2013 19:30 André Luis

    Não sou de Gyn mas lendo essa matéria parece que a questão táxi aí está uma bagunça. Aqui em SP funciona. Mas têm as tramoias e abusos que são pertinentes a categoria, infelizmente. Eu só lamento é o Governo interferir tanto nas nossas vidas assim. Essa Lei Seca só existe por que eles não tem competência de punir com rigor absoluto quem bebe, e ou, excede a velocidade. Quem excede a velocidade, excede tendo bebido ou não. E, na grande maioria das vezes, o que mata é o excesso de velocidade. Era só prender por 10 anos quem fizesse isso e queria ver quem iria brincar. Limparia a sociedade desses tranqueiras do trânsito rapidinho. Vocês acham que uma pessoa que possui um carro importado, desses de 100, 200, 300 mil reais dão bola para multinhas de Lei Seca, no valor de 2 mil reais??? Mas e se desse cana sem fiança, nem recursos???! Mas, apenas nos resta ficar em casa, sem ir às festas, ou pagar por esses serviços caros e mal prestados de transporte. Assim o nosso 'competente' Governo determina as diretrizes da nossa vida.

  • 06.01.2013 12:22 Renato Mendes

    Por que simplesmente não aumentar o número de permissionários? Já ouvi falar que é muito difícil conseguir uma permissão, que elas são vitalícias, etc..

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