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Cães e gatos

Protetores de animais cobram políticas públicas de castração em Goiânia

Grupos sobrevivem de forma independente | 14.09.14 - 08:41 Protetores de animais cobram políticas públicas de castração em Goiânia A cadela Kiara e seus filhotes (Foto: reprodução/Facebook)
Lorena Lara

Goiânia - 
Era 31 de outubro de 2013 e Kiara estava prenha de seis filhotes. Abandonada na rua, a solução por ela encontrada foi cavar um buraco fundo em um lote abandonado no Setor Mansões Paraíso, em Aparecida de Goiânia. Em época de chuva, o buraco se enchia e se esvaziava de água.

Kiara se dividia entre parir seus filhotes e salvar os que nasciam do afogamento. Sua sorte foi que uma moradora a descobriu ali, escondida, e ela foi resgatada. Junto com seus seis bebês, a cadela deixou de fazer parte dos cerca de 40 mil cachorros que existem hoje nas ruas da Grande Goiânia.


O resgate de Kiara só foi possível graças ao Vida Lata, um dos muitos grupos de proteção animal que existem na capital goianiense. Funcionando de maneira independente, os protetores se dividem e se desdobram pela cidade, resgatando cães e gatos em todos os bairros.

Para eles, hoje os animais de rua de Goiânia estão sob a responsabilidade de ninguém, já que o poder público não tem qualquer tipo de iniciativa para a contenção populacional dos bichos e a única ação tomada parte de grupos privados e doações. A situação, no entanto, parece começar a mudar.

Voluntariado
A falta de políticas públicas para animais de rua em Goiânia gerou um movimento de pessoas interessadas na causa, nos últimos anos. Grupos de protetores de animais surgiram com o propósito de cumprir uma função que ninguém assumia - o resgate, cuidado e esterilização dos bichos.
 
O Vida Lata é um dos grupos de proteção animal que existe hoje na capital. Com três anos de existência e apenas cinco integrantes, o trabalho realizado por eles é voltado para animais em situação de maus tratos ou de abandono. "Realizamos o resgate, levamos para a clínica, onde os atendimentos são realizados. Depois do tratamento finalizado, fazemos a castração e encaminhamos o bicho para a adoção", explica Carlos Filho, um dos protetores do Vida Lata.
 
O grupo se sustenta com o financiamento dos próprios integrantes e com doações realizadas por quem se interessa pela causa. Apesar de ser um grupo conhecido e com um grande número de seguidores na internet, o Vida Lata não tem uma arrecadação fixa e muito menos expressiva - o dinheiro é sempre insuficiente.

Entre as 20 mil pessoas que curtem a página do Vida Lata no Facebook, apenas uma pequena parcela efetivamente colabora com o trabalho. "De 20 mil, são entre 300 e 400 que ajudam uma vez ou outra. As que colaboram regularmente são pouco mais de cem", revela Carlos.
 

Voluntários do Vida Lata (Foto: Vida Lata)
 
Outros grupos de proteção animal existem em Goiânia, todos sobrevivendo com doações e com o financiamento de seus participantes e uma ou outra empresa. Há os que são focados em feiras de adoção, como é o caso da Associação Protetora e Amiga dos Animais (Aspaan), há os que se voltam para a proteção de animais de grande porte, como é o caso do Recanto dos Pit Bulls. Já o Vida Lata é voltado para o resgate de cães que não têm chances de sobrevivência. "São os cães que ninguém vai pegar, os que vão morrer se continuarem na rua", explica Carlos Filho.
 
Bichanos
Os gatos de rua também são foco de grupos de proteção animal, como é o caso do Viva Gato. O grupo, que hoje cuida de 62 bichos, tem gastos de 4,5 mil reais por mês para manter o local, sem incluir despesas com veterinários e emergências.
 
Também sem incentivos do poder público ou apoio de empresas, o projeto depende de doações. Além disso, ainda há o fato de que o trabalho é dividido entre os integrantes voluntários, e todos têm empregos. "É como se fosse um segundo trabalho para a gente", diz a designer Stella Dalcin, uma das fundadoras do projeto.
 

Sede do Viva Gato recebe visitantes aos sábados mediante agendamento (Foto: Viva Gato)
 
Ainda que a ação dos protetores de animais tenha contribuído para melhorar a situação dos animais, os voluntários ainda são minoria. Outro fator relevante é que o controle populacional, que diminuiria a necessidade de resgate, depende da castração e não há hoje nenhum projeto fixo do poder público nessa área.
 
Stella relata que já houve casos de pessoas que chegaram ao Viva Gato em busca de castrações, indicadas pela prefeitura. A protetora critica a posição do poder municipal. "Estão jogando essa responsabilidade em cima dos protetores. Já houve, inclusive, ações da prefeitura contra os bichos. Tiraram os gatos do Bosque dos Buritis, por exemplo. O pessoal do museu cuidava deles", relembra.
 
Outro dos motivos responsáveis pela quantidade de cães e gatos de rua em Goiânia é a falta de aplicação da Lei Feliciano. Aprovada em 2012, a lei proíbe que centros de zoonoses e canis públicos realizem a matança indiscriminada de animais de rua. A lei, no entanto, apesar de aprovada em Goiás, ainda não é colocada em prática no Estado.
 
Uma de suas disposições trata da conceito de "animal comunitário", que seria o animal de rua devidamente recolhido, esterelizado, registrado e devolvido à comunidade, o que ainda não acontece.
 
Castração
A esterelização dos animais é a grande queixa dos protetores dos animais. Não existe, hoje, uma política pública voltada para a contenção populacional dos animais de rua e tampouco uma campanha de conscientização dos cidadãos para que castrem seus bichinhos de estimação.

Apesar do alto custo da cirugia, a castração é uma das prioridades dos grupos de resgate. No caso do Viva Gato, 90% do trabalho realizado é voltado para a castração. Stella explica a importância da conscientização. "São animais que se reproduzem a cada dois meses, com cinco a seis filhotes. Ter esse controle é essencial. Mesmo ficando muito caro, a gente faz questão de castrar os animais", ressalta.
 

Narizinho, do Viva Gato, foi castrada e conseguiu um lar (Foto: reprodução/Facebook Viva Gato)
 
Quem também bate na tecla da esterilização dos animais é Carlos Filho. No Vida Lata, ele conta, cachorros de todas as raças são resgatados - de vira-latas a poodles e labradores. "No último mês foram cinco shitzus", revela, e ressalta que "independentemente da raça, a gente defende a castração. Defendemos que a reprodução de cães seja autorizada somente para canis e que o cão já saia de lá castrado".
 
Ele explica que o hábito de cruzar animais sem critério deve ser combatido. "O grande erro das pessoas é achar que o cachorro é bonito e cruzar". Ele também lamenta que os animais ainda sejam tratados como objetos de valor. "Temos várias e várias histórias de gente que trocou um cachorro por um computador, por exemplo". E diz que, enquanto tal mentalidade persistir, a castração é o único jeito de resolver a situação.
 
Questão de saúde
A relevância da castração não se limita ao controle populacional dos animais. Luiz Augusto Souza, médico veterinário e professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a saúde humana também entra na questão.

"Com a castração, é possível evitar , por exemplo, que seja transmitido algum tipo de virose." Ele cita o caso de raiva, diagnosticado em Goiânia há seis meses.
 
Luiz Augusto também ressalta que a prática pode evitar que o animal tenha câncer no futuro. "Neoplasias mamárias, no caso de fêmeas, que são tumores malignos, capazes de crescer rapidamente, geram infecções e matam o animal. Quando você castra o animal, principalmente antes do primeiro cio, você praticamente anula as chances de uma neoplasia. A castração é muito benéfica para o animal", explica o professor.

"Além de evitar a doença, a castração também interfere positivamente no comportamento do bicho, que se torna mais dócil", completa.
 
Falta de políticas
Em busca de uma resposta do poder público para a questão, a reportagem de A Redação entrou em contato com o Centro de Controle de Zoonoses de Goiânia (CCZ). Edson Gomes, diretor do departamento de controle e vigilância de zoonoses, explica que a função do CCZ é trabalhar com foco na saúde humana. "Só trabalhamos com doenças que são de animais caso exista um potencial de transmissão para humanos, como raiva, leishmaniose e dengue", justifica.
 
Para cães e gatos, no entanto, não existe nenhuma política pública nem para a castração nem para a prevenção de doenças. "O CCZ pode ter uma política de castração, mas só quando isso for de interesse para a saúde pública. Por exemplo, se houver um surto de leishmaniose em determinada região", pontua Gomes.
 
Hoje, o Centro de Controle de Zoonoses não realiza mais a captura de animais sadios e a eutanásia só é realizada se houver a avaliação de um veterinário, que não é disponibilizado pelo CCZ.
 
Alternativas
Diante da inatividade do Centro no controle populacional e de doenças animais, algumas alternativas já são oferecidas à população. Além dos grupos de resgate e proteção animais, que se voltam para animais abandonados, o Hospital Veterinário da UFG também oferece serviços a baixo custo.

O professor Luiz Augusto cita as ações realizadas com frequência pelo hospital. "Temos uma campanha grande de castração que ocorre a cada dois meses, geralmente aos sábados, quando cerca de 50 animais são castrados", pontua. Neste caso, o procedimento é gratuito.
 
Além disso, o hospital realiza castrações às segundas-feiras, com os alunos do primeiro ano da residência. Neste caso, são cobrados os custos dos procedimentos - exames e anestesia, para que o hospital possa arcar com a cirurgia.
 
Aos sábados e domingos, também enumera o professor, os alunos da graduação realizam castrações e somente o valor dos exames e da anestesia são cobrados. Isentando os valores de consulta e procedimentos cirúrgicos, o hospital oferece possíveis alternativas de baixa renda.
 
Além disso, uma iniciativa em parceria entre Prefeitura, Centro de Controle de Zoonoses e Hospital Veterinário da UFG está em discussão.

"O CCZ vai fazer o cadastro das pessoas e dos bichos, realizando a triagem", explica o professor . O objetivo da campanha é fazer o controle populacional de animais de rua por setor. "Vamos cadastrar os bairros e fazer ações in loco", ressalta. Além do controle populacional, outra perspectiva é evitar problemas com zoonoses e ataque de animais agressivos.
 
Se colocada em prática, a iniciativa pode diminuir, a médio e longo prazo, a população de animais abandonados em Goiânia, assim como casos como o de Kiara, que ainda não foi adotada. Ela e Starla, uma de suas filhotes, ainda estão disponíveis para adoção - e adoção conjunta, porque são inseparáveis.
 

Kiara, que ainda não foi adotada (Foto: Vida Lata)

Doações
Quem se interessar pela causa, quiser apoiar grupos de resgate ou - melhor ainda - adotar um bichinho de estimação, tem várias opções. Veja abaixo a lista de algumas das principais entidades de proteção animal independentes de Goiânia:

Vida Lata
Recanto dos Pit Bulls
Viva Gato
Miau Au Au
Aspaan - Associação
Protetora e Amiga
dos Animais



 


Comentários

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  • 16.09.2014 17:46 Maria José Rodrigues

    Parabéns pela reportagem. Soube passar bem o descaso do poder público e a luta dos protetores em prol de diminuir o sofrimento dos animais.

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