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Trânsito

Sem limites: excesso de velocidade é principal imprudência em Goiânia

Projetos estudam reduzir número de ocorrências | 26.11.15 - 19:40 Sem limites: excesso de velocidade é principal imprudência em Goiânia (Foto: Renato Conde/A Redação)
Mônica Parreira e Adriana Marinelli

Goiânia -
 Alessandro dormiu sem querer no dia 13 de julho e só acordou dois meses depois, em uma cama de hospital. Não se lembra de nada e precisa acreditar naquilo que médicos e familiares contam. Sente falta da perna direita, amputada depois que foi atropelado por um carro em alta velocidade. Sente falta da própria liberdade de ir e vir sem precisar da ajuda dos outros. Não é fácil encarar a realidade de que entrou para a cruel estatística da violência no trânsito.
 
O professor universitário e contador consertava seu carro estacionado em uma avenida do Setor Cidade Jardim, em Goiânia, quando um veículo desgovernado veio em sua direção. “Soube que fui arremessado a 10 metros de distância”, conta. Socorrido, ele foi levado ao Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), aonde já chegou inconsciente e permaneceu por 75 dias – 60 só na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “’O que fizeram com minha perna?’ foi a primeira pergunta que fiz depois que recobrei os sentidos”, lembra.
 

Alessandro faz fisioterapia toda semana para se adaptar à nova realidade (Fotos: arquivo pessoal)
 
Pelo forte impacto, o acidente causou fratura exposta na perna de Alessandro, sucedida de diversas infecções. Também quebrou o maxilar, perdeu dentes e precisou fazer uma cirurgia na barriga. “Tudo por uma imprudência. Acidente é coisa do homem, o homem quem provoca dor, sofrimento, amputações”, diz o professor que, apesar de casado e ter dois filhos pequenos, precisou voltar a morar com a mãe provisoriamente. “Ela cuida de mim enquanto minha esposa trabalha. Além disso, minha casa precisará passar por adaptações para eu voltar”.
 
Levantamento da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) indica o registro de mais de 30 acidentes por dia na capital. Destes, pelo menos 80% são provocados pelo excesso de velocidade, como foi o caso de Alessandro. Mais de mil pessoas morreram nos últimos quatro anos na cidade de Goiânia, o que a coloca entre as seis capitais brasileiras que mais matam no trânsito, conforme indica o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde divulgado este ano, referente a 2013.
 
Titular da Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito de Goiânia (DICT), Nilda de Andrade atribui os altos índices de ocorrências à carência de fiscalização. “A imprudência aumentou, a irresponsabilidade do condutor aumentou e o resultado é esse que estamos vendo: acidente atrás de acidente”, diz a delegada. “Ainda enfrentamos um sério problema com fiscalização. Quando tem, quase sempre é deficiente”, opina.
 

Ciente da preocupante realidade enfrentada pelos goianienses, o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) já estuda alternativas para garantir um trânsito mais seguro. “Estamos apoiando a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSP-GO) na aquisição e instalação de 300 câmeras de monitoramento urbano em toda Região Metropolitana”, disse o presidente do órgão, João Furtado.
 
Ligadas ao Centro Integrado de Inteligência, Comando e Controle (CIICC), as imagens servirão para atuação policial no combate à criminalidade e também como moderna alternativa para fiscalizar o trânsito. “Esse monitoramento eletrônico já é aplicado em algumas unidades da federação e tem gerado resultados positivos”, defende ao explicar que a nova possibilidade de autuação está dentro da lei. “O Código de Trânsito Brasileiro nos dá margem. A verdade é que não nos interessa ampliar a quantidade de multas, mas fazer o condutor entender que estará trafegando sob vigilância de um agente da lei”.
 
Esse tipo de monitoramento instalado em pontos estratégicos de Goiânia poderão inibir atitudes como a do joalheiro R.S., de 27 anos. Ele fugiu do local do acidente após atropelar e ferir um casal que trafegava em uma motocicleta na periferia da capital, em junho de 2014. Acostumado a dirigir em alta velocidade, o jovem seguia a 150 km/h quando provocou a colisão. Sem prestar socorro às vítimas, R.S. fugiu deixando o veículo no local. “Eu vi que não tinha sido nada grave”, tenta justificar. O joalheiro chegou a ser multado em R$ 900 por omissão de socorro, mas se as câmeras já estivessem ativas, poderiam comprovar também a outra infração cometida, por excesso de velocidade. A previsão é que o sistema esteja em pleno funcionamento até meados de 2016.


Dirigir em alta velocidade é comum na capital goiana (Foto: Renato Conde/A Redação)
 
O reforço na fiscalização, como frisou João Furtado, traz consequências morais além das financeiras. Publicada em outubro último, a Resolução 557 endureceu a punição aos apressados do trânsito. Antes, o condutor que fosse multado três vezes (com velocidade superior a 50% da máxima permitida) teria CNH retida por dois meses. Agora o período longe dos volantes subiu para seis meses, além de precisar passar pelo curso de reciclagem para recuperar o direito de dirigir. "Temos uma equipe preparada que leciona educação no trânsito e reforça a importância da responsabilidade do condutor não só por amor à sua vida, mas também pela vida do próximo", completa.

O velocímetro nas alturas é, inclusive, a infração mais recorrente no Estado. Dados do próprio Detran-GO mostram que até julho deste ano foram expedidas mais de 1 milhão de multas relacionadas ao excesso de velocidade. Isso representa uma média de 56% do total de autuações no período. 


Recentemente, dois jovens foram vítimas da própria imprudência e acabaram morrendo em vias de grande movimento em Goiânia. Na madrugada do último dia 27 de outubro, o jornalista Renato Dantas dirigia em alta velocidade quando colidiu o carro que conduzia com um ônibus do Eixo Anhanguera em um cruzamento no Centro. Os pedaços de vidro no chão e o estado em que ficou o carro do jovem já indicavam a violência da batida. Após a colisão, os veículos acabaram quebrando parte da parede de um prédio. Renato ficou preso às ferragens e morreu antes mesmo da chegada do socorro médico, deixando familiares e amigos inconformados. 


Renato Dantas morreu após bater o carro em um ônibus no centro de Goiânia (Fotos: reprodução/Facebook e CBMGO)
 
O estudante Vitor Hugo Stoner, de 18 anos, também teve a vida ceifada dias depois pelo excesso de velocidade. Sem habilitação, o garoto perdeu o controle do carro que dirigia e bateu em uma mureta de proteção da Avenida T-63, na madrugada de 4 de novembro. O jovem morreu no local. A passageira, também de 18 anos, ficou hospitalizada. 
 

O excesso de velocidade também resultou na morte de Vitor Hugo Stoner, de 18 anos (Fotos: reprodução/Facebook)
 
Diante do elevado número de ocorrências em vias de grande movimento da capital, a SMT enviou à prefeitura projeto que prevê a redução da velocidade máxima permitida na região conhecida como Manto de Nossa Senhora, no centro de Goiânia, que engloba as avenidas Paranaíba, Araguaia e Tocantins. O limite, atualmente de 60 km/h, passaria a ser de 40 km/h.  De acordo com a SMT, a ideia é levar a mudança, que já é realidade em capitais como São Paulo e Curitiba, para as demais ruas e avenidas de grande movimento da capital goiana, o que poderá resultar na diminuição de ocorrências como as que envolveram Renato e Vitor Hugo.
 
Na capital paulista, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o número de acidentes com vítimas caiu 36% apenas nos dois primeiros meses de implantação da mudança. “A discussão está com o prefeito Paulo Garcia e a intenção é que seja colocada em prática no início do próximo ano”, afirma o presidente da SMT, Andrey Azeredo. “Também já estamos empenhados na licitação de novos radares para ampliar a fiscalização nesses pontos”, completa.
 
O presidente do Detran-GO antecipou à reportagem do jornal A Redação que o órgão investe, junto ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran), em um projeto ainda mais amplo. Uma equipe especialista estuda a atual velocidade média e qual seria a ideal para cada região da Grande Goiânia. Também são levados em conta o fluxo de veículos por via e a sistematização semafórica.

“Observando as estatísticas já levantadas, acidentes com vítimas não se restringem à zona central, mas na periferia também. Trabalhamos com a educação do condutor e também com a fiscalização, mas estamos investindo na prevenção dos acidentes”, conclui. O relatório do estudo deve ficar pronto no segundo semestre do ano que vem e, segundo João Furtado, será amplamente discutido, inclusive com a participação da sociedade. 

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