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Entrevista Emicida

"Aos 8 anos, mordi meu cachorro por fome"

Aposta do rap nacional fala sobre a carreira | 14.07.11 - 20:24

 

Aline Mil
Raisa Ramos
 
"Enquanto Minha Imaginação Compor Insanidades, Domino a Arte". Essa é a frase que traduz o apelido de Leandro Roque de Oliveira, de 26 anos, conhecido por aí como Emicida. O rapper, que possui quase duas milhões de visualizações em seus vídeos no Youtube, concedeu entrevista à Redação nessa quinta-feira (14/07) pouco antes de se apresentar na 63ª SBPC, no Câmpus II da Universidade Federal de Goiás. 
 
Emicida iniciou sua carreira em 2006 e o nome de guerra, até então, era apenas uma junção dos termos MC e homicida. Os colegas do então garoto brincavam que Leandro "assassinava" os seus adversários com suas rimas poderosas durante as batalhas com outros MCs. O ápice de sua carreira foi em 2009, quando foi indicado para o Video Music Brasil nas categorias Aposta MTv, Rap e Videoclipe do ano, com o vídeo da música "Triunfo". Os prêmios não vieram, mas Emicida firmou seu nome no cenário do rap e do hip hop nacionais. 
 
Um pouco sonolento, mas muito educado e risonho, Emicida falou da influência do diretor Quentin Tarantino em seu novo clipe, da carência do mercado brasileiro em produzir material fonográfico de qualidade a preços competitivos e ainda sobre como morder um cachorro o fez refletir sobre a própria vida. Confira:
 
A Redação - Você começou a fazer sucesso no País inteiro com seu single Triunfo. O vídeo da música tem hoje mais de 1 milhão e meio de visualizações no Youtube. Uma parte interessante da letra é quando você canta “uns rimam por talento, eu rimo por missão”. Que missão é essa?
Emicida - Acredito que minha missão é dizer para as pessoas que elas podem batalhar pela liberdade. É possível cobrar as coisas de qualquer representante do governo, é possível realizar. Faço metáforas que acredito que fazem as pessoas crerem que elas têm o poder na mão, que elas podem. 
 
Há duas semanas, o clipe de "Então Toma" foi lançado e já alcançou mais de 200 mil visualizações [clique aqui para assistir ao clipe]. O vídeo foi muito bem produzido, parece um filme de verdade. Como surgiu a ideia de fazer algo desse tipo?
As ideias da estética setentista, da fotografia e o próprio roteiro do clipe foram todas do diretor Fred Ouro Preto. Curtimos a ideia, confiamos no trabalho dele e não me arrependo. Acho que o resultado foi maravilhoso. Foi a primeira vez que tivemos uma produção tão profissional, maquiagem, equipe grande. Para se ter ideia, apenas três pessoas participaram da gravação do clipe de Triunfo. Em "Então Toma" foram mais de dez.
 
Foi um salto então.
Um verdadeiro vôo.(risos)
 
Vocês se inspiraram no trabalho do diretor Quentin Tarantino em "Então Toma"? Existem algumas referências ao estilo dele no clipe...
Com certeza. Sou fazão do trabalho dele e o Fred também. A gente gosta muito dessa estética. Sabe aqueles filmes mentirosos de Kung Fu? Também usamos na pesquisa para o roteiro.  
 
No clipe você atua. Já tinha feito isso antes? Gostou?
Foi a primeira vez. Achei engraçado (risos). Há pouco tempo fiz uma participação em um filme para uma campanha. É só um flerte com a atuação. Mas no clipe foi bacana ver que não ficou tão ruim, que acabou dando certo. Gostei do resultado.
 
Houve boatos de que essa música foi uma alfinetada em todas as pessoas que têm criticado seu trabalho. É verdade? Quem são elas? O que criticam?
Na verdade a música não é direcionada para essas pessoas. A música é muito mais antiga que qualquer uma dessas críticas. Escrevi essa letra depois de ler o livro "Fúria da Beleza", da Elisa Lucinda. Foi algo muito forte pra mim. O livro mostra que as coisas boas também podem ser violentas, mas no bom sentido, causando impacto. Quis falar sobre as pessoas que ralam, levantam cedo, batalham e que também podem ter sucesso. Algo que algumas pessoas entendem como arrogância.
 
Você gosta de lançar trabalhos em mixtape. Por quê? Qual a diferença?
Sou dono do meu próprio selo [Laboratório Fantasma], tenho a liberdade de escolher os formatos finais e considero as mixtapes ideais para conversar diretamente com o público. Talvez eu não teria essa liberdade se fosse diferente. São compilações sem o crivo de um diretor, por exemplo. Mas as faixas não são tão boas para um primeiro disco solo. Estou montando o álbum e, por enquanto, vou disponibilizando o material aos poucos, aquecendo o mercado, vivendo de música e ajudando outros a viverem de música. O Brasil é ainda muito carente de material produzido e com bom preço. O que rola na rua são só os cds piratas e a mixtape é mais popular, mais barata. Nós conseguimos colocar a última ao preço de R$2.
 
Preços tão baixos não desvalorizam o trabalho?
Pelo contrário. A gente costuma dizer que valorizamos as notas de R$2. Melhor que o governo. (risos)
 
Sua primeira mixtape, lançada em 2009, é intitulada “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe”. Você já mordeu mesmo um cachorro ou foi só uma brincadeira?
É verídico (risos). Já mordi um cachorro. Quando meu pai faleceu, minha mãe era doméstica e estudava à noite e tudo que eu e meus outros três irmãos tínhamos pra comer à tarde eram dois pães, cada um ficava com uma metade. Eu tinha oito anos e amava televisão. Eu estava vidrado, assistindo a um programa, e nosso cachorro roubou o meu pão. Fiquei com tanta raiva que o mordi. Quando senti aquele tanto de pelos na boca, fiquei chocado.
 
Foi uma espécie de epifania?
Sim. Na época foi uma reflexão muito forte da nossa situação. Hoje consigo dar risada da situação, virou uma metáfora.
 
Você também é repórter [do programa Manos e Minas, da TV Cultura]. Como é esse trabalho? Gosta dessa área ou prefere a música?
Prefiro música. Mas eu gosto muito de aprender e entrevistar te ensina muito. Fico muito feliz de poder conversar com pessoas que idolatro, fazer um som com os caras. Costumo dizer participar do programa não é um trabalho, é uma oportunidade de ouro. 
 
Você tem feito muitos shows internacionais, não é? Tocou inclusive no Coachella. Como foi a experiência?
Gostei pra caramba de cantar no Coachella. Fiquei satisfeito que o idioma não foi uma barreira, as pessoas assimilaram a emoção das músicas. E devemos voltar, fazer uma turnê internacional em breve porque fizemos muitos contatos nessas viagens. 
 
 

Comentários

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  • 15.07.2011 08:41 Lilian

    Mais uma ótima entrevista sobre música! Parabéns à equipe de cultura.

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