Por que Tunísia, Uruguai, Camboja, Croácia e Nova Zelândia, países tão distintos geografica, cultural e politicamente, conseguiram um exemplar sucesso no enfrentamento à maior crise mundial de saúde em décadas. Sob a ótica de um gestor, vou tentar responder. Estes cinco países juntos registram menos de 200 óbitos pela Covid-19, segundo números oficiais contabilizados até o começo de julho. Para se ter ideia, só Goiânia registrava em 3 de julho 195 mortes, contra 190 ocorridas em todo território dessas cinco nações ao longo de quatros meses. Na mesma data, a cidade de São Paulo já ultrapassava a triste marca 7.400 mortes.
Num primeiro momento, este cinco países fizeram o que uma empresa bem gerida costuma fazer frente a uma crise global: não menosprezar os estudos e nem as experiências anteriores. Por aqui a visão negacionista, em especial por parte do presidente, atrapalhou, pois já em novembro e dezembro de 2019 os primeiros casos surgiam na China, em janeiro a doença já chegava à Europa, mas ainda sim estados e prefeituras do Brasil liberaram o carnaval, como se nada estivesse acontecendo.
O planejamento e a rápida execução de açoes, mesmo que impopulares, também fez a diferença para o sucesso desses países contra a Covid-19. Governantes brasileiros sempre têm dificuldade em adotar medidas duras, mesmo quando de suma necessidade. Por causa disso, Goiânia viveu recentemente um constrangedor cenário de “abre e fecha” do comércio. Estado e prefeituras não fizeram o que era preciso logo no início, assim convivemos mais tempo com a pandemia. O poder público não se preparou ao longo de meses e agora exige mais sacrifícios de empresas e trabalhadores, que parecem não ter nem mesmo segurança jurídica para voltar às atividades. Resultado: falência e desemprego numa economia que já não ia bem.
Algo comum aos países que obtiveram sucesso contra a pandemia é a coordenação e coesão de ações entre as esferas de poder, e o engajamento quase que total da população. As suscetíveis crises entre governo federal e Estados, Executivo e Judiciário, prefeitos e governadores só serviram para desagregar a sociedade.
Por fim, algo que esses cinco países e outras nações não fizeram: politizar a pandemia. O vírus não escolhe bandeiras político-ideológicas, por isso enfrentamento da pandemia e a preservação da economia não são, ou pelo menos não deveriam ser, ações políticas, mas estratégias de Estado.
*Marcelo Camorim e empresário, consultor e especialista em governança corporativa