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Jales Naves

Mais antigo servidor da Prefeitura de Goiânia relembra modernização pública

| 18.04.21 - 10:00

Elísio Gonzaga da Silva
 
A vida se encarrega de encaminhar as pessoas para as funções que lhe são reservadas, e algumas se destacam. Assim se pode resumir a trajetória dinâmica no Serviço Público Municipal de Goiânia do jovem Elísio Gonzaga da Silva, natural de Bela Vista de Goiás e que veio aos nove anos de idade para a nova Capital goiana. Ele é o mais antigo funcionário público vivo da cidade, que começou como contínuo, conheceu muito bem a máquina pública, e se aposentou, em 1995, no mais alto cargo da hierarquia funcional, como Auditor dos Tributos do Município.
 
– “Só não fui Prefeito”, brinca.
 
O seu primeiro contrato de trabalho na Prefeitura de Goiânia data de 1956, quando ainda eram poucos os servidores, e ele tinha apenas 14 anos de idade, e não parou um instante desde então.
 
O pai, Clarimundo Monteiro da Silva, pedreiro, foi um dos primeiros servidores do novo Município, contratado em 1946. Por sua experiência e dedicação ao ofício, logo passando a mestre de obras, conduzia as mais diversas frentes de serviço nessa área, inclusive em funções que hoje seriam de engenheiros e arquitetos, profissionais que o Serviço Público, na época, não dispunha. O quadro de pessoal era muito reduzido, e as demandas as mais diversas.
 
Dez anos depois, Clarimundo, com 49 anos de idade, passa mal, adoece e morre, deixando viúva Geralda Monteiro Silva, que era apenas dona de casa, sem qualificação profissional e com quatro filhos, todos menores, sendo Elísio o mais velho.
 
A Prefeitura era comandada pelo prefeito João de Paula Teixeira Filho, conhecido como Parateca, ainda não estava devidamente estruturada, e os servidores não tinham segurança em seus direitos sociais e trabalhistas. Com essa situação, dona Geralda ficou desamparada, sem pensão ou qualquer outro apoio financeiro para a sua sobrevivência e de seus filhos.
 
Os amigos, que admiravam o trabalho de Clarimundo e ficaram condoídos com a difícil situação de sua família, se organizaram para conseguir a contratação do menino Elísio, como mensageiro, para buscar a correspondência nos Correios e entregar as mensagens da Prefeitura a seus contribuintes. Assumia também, com essa idade, a responsabilidade pela família, manter a casa.
 
Esperto e interessado, ele não ficava quieto em seu canto, lamentando ou esperando por ordens ou decisões dos chefes e colegas mais velhos. Quando não estava na rua fazendo serviços, queria conhecer o que os outros faziam. Aos 16 anos concluía o seu primeiro curso, de Datilografia, que lhe seria muito útil em sua trajetória funcional, e teve sua primeira ascensão funcional, passando a escriturário/datilógrafo, o que dobrou o seu salário e suas responsabilidades na função.
 
Ele se recorda, com gratidão, do prefeito Hélio Seixo de Brito, que era da União Democrática Nacional (UDN) e foi responsável pela autonomia da Prefeitura de Goiânia, que na época era apenas um departamento do Governo do Estado, dependente de recursos e da boa vontade do Governador e de seus auxiliares diretos.
 
Tão logo venceu as eleições de 1960 e a máquina do então todo poderoso Partido Social Democrático (PSD), o dr. Hélio, uma pessoa íntegra, grande gestor e sensível aos problemas enfrentados pelo goianiense, dedicou-se a organizar a Prefeitura e a buscar a sua autonomia administrativa e financeira, para ter condições de resolver as dificuldades vividas pelos seus moradores.
 
Uma de suas primeiras providências, nessa busca pela modernização da gestão pública na Capital, foi estruturá-la e instrumentalizá-la para seu pleno funcionamento. Elísio se lembra desses passos dados, com firmeza e segurança, e alguns podem parecer, hoje, simplórios demais. Como exemplo citou a aquisição de máquinas de escrever Olivetti, italianas, eletrônicas, que guardavam dados, numa prévia dos computadores, e que revolucionaram o serviço. Na época, o secretário de Finanças, Sebastião Fleury, cedido pela Receita Federal, comandou essas mudanças, auxiliado, nessa função, antes de voltar a seu cargo anterior, por Hilarino Veloso da Silveira e Martim Ribeiro Quintanilha.
 
Guindado ao posto de chefe da Seção de Cálculo e Controle de Tributos, aos 18 anos de idade, Elísio teve participação direta nessas mudanças, que representaram um grande avanço na máquina pública, pois os talões de impostos deixaram de ser impressos manualmente para um sistema mais evoluído, tornando a Prefeitura mais eficaz e mais ágil em suas cobranças e, naturalmente, na prestação de serviços.
 
* Jales Naves é jornalista e escritor, presidiu a Associação Goiana de Imprensa (AGI) em dois mandatos consecutivos (1985-1991) e ocupa a Cadeira nº 30 da Academia de Letras e Artes de Caldas Novas.
 

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