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Px Silveira

Iris Rezende e o Rolo Compressor das Homenagens

| 16.02.23 - 19:51
 
A arte da homenagem não se revela a qualquer um. É preciso dispor de boa dose de discernimento, um ajuste agudo do bom senso e ao menos um pouco de sabedoria para dosar e escolher bem.
 
Desde a morte de Iris Rezende, temos visto as homenagem lhe surgirem por todos os lados, às vezes até contradizendo sua maneira de ser, outras vezes vulgarizando o ato a ponto de torna-lo motivo de chacotas ou da resistência popular.
 
Iris foi um notório tocador de obras e são merecidas todas as homenagens que queiram lhe fazer. Mas como tudo na vida –e até mesmo na morte, há que se ater a limites. Se não na vontade de quem homenageia a torto e a direito buscando dirigir agrados, tem-se que ater aos limites da razoabilidade e do respeito à história do povo na qual elas estão inseridas.
 
O aeroporto internacional de Goiânia teve sua área doada pelo ilustre médico, farmacêutico, escritor e empresário celibatário Altamiro de Moura Pacheco, que condicionou a cessão do terreno à atividade aeroportuária e ao nome que deveria receber, Santa Genoveva, resgistrando assim a lembrança de sua mãe, Maria Genoveva.
 
Houve uma tentativa massacrante de tratorar as disposições da história que deram origem ao aeroporto, inclusive com um projeto de lei aprovado no Senado Federal, para apagar o nome original e em seu lugar colocar o de Iris Rezende. Assim, sem mais nem menos, como se a história estivesse escrita com giz e fosse chegada a hora de limpar a lousa.  
 
A Casa de Vidro Antônio Poteiro, um centro cultural esperado por décadas pela população goianiense, foi inaugurada por Iris Rezende em homenagem a um renomado artista seu amigo que divulgou, levou outros artistas e o nome de Goiás a todos os cantos do Planeta (morando no Jardim América, ele expôs suas obras em mais de 40 países). 
 
Todo este legado de um enorme patrimônio artístico e cultural não foi suficiente para a homenagem sincera e merecida resistir à ânsia sem raízes de homenageadores de ocasião, que resolveram retirar o nome do Poteiro para colocar o de Iris Rezende. Quer dizer, desautorizando e desrespeitando o desejo do próprio político que recebe a homenagem recauchutada, que se pudesse estaria remexendo em sua cova. 
 
 A avenida Castelo Branco é a espinha dorsal do comércio goianiense. Querem quebrá-la ao meio ao impor-lhe de cima para baixo o nome de Iris Rezende, sem qualquer consulta à população do entorno e aos bem mais de meio milhar de comerciantes e empresários que dão vida a ela. É como se aterrisasse na avenida um OVNI chinês decretando que deste dia em diante o nome já não mais pertence à cidade, mas ao desejo de obscuros hemenageadores de plantão no atendimento do sabujismo municipal.
 
A importância de Iris Rezende é inegável. Ele está em lugar de destaque na galeria dos grandes homens que se deram a Goiás –e Goiás a eles. No entanto, é preciso ter critérios, ter conhecimento e respeito histórico quando vêm a ocasião e o desejo de homenagear estes galeristas. 
 
Não se deve sair por aí decretando oficialmente que isso é aquilo, como se vivéssemos em um quintal de hospício sem dono, sem leis e, pior, sem história. É contra a civilidade -para não dizer sanidade, depõe contra nós mesmos e faz com que as boas intenções se tornem culpadas pelos nossos atos. 
 
Temos histórias a serem preservadas, o que é justamente o motive gerador das homenagens. Não se pode fazer delas, as justas homenagens, petardos contra nossa história, que é onde elas próprias vão buscar seus argumentos para se justificar. 
 
E quanto ao Iris Rezende, em particular, que ele seja homenageado à altura, não buscando rasgar, cerzir, apagar ou remendar o que já existe, passando homenagem por cima de homenagem. Como o próprio Iris diria, endossando o bordão popular: “Respeito é bom e nós gostamos”.
 
 Px Silveira, produtor cultural, presidente do Instituto ArteCidadania
 
  
 
 

Comentários

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  • 16.02.2023 22:15 HELENA M B P VASCONC

    Parabéns PX você fez um belo texto. Precisamos respeitar a memória das pessoas q lutaram por Goiânia , representando a cidade e seus habitantes. Bajuladores de plantão precisam aprender a frase de Iris "Respeito é bom e eu gosto".

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