Agosto é o mês dedicado à promoção do aleitamento materno, conhecido como Agosto Dourado, em alusão ao padrão ouro de qualidade que o leite materno representa. A campanha tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da amamentação para a saúde do bebê e da mãe, ressaltando também os impactos positivos ao longo da vida. Chamamos a atenção para a amamentação como fator de proteção contra a obesidade e alterações metabólicas na infância e adolescência.
Estudos mostram que crianças amamentadas exclusivamente até os seis meses de vida têm menor risco de desenvolver obesidade infantil e, futuramente, problemas relacionados ao perfil lipídico, como colesterol alto e aumento de triglicerídeos. O leite materno é um alimento vivo, adaptado às necessidades do bebê. Ele não apenas nutre, mas também regula funções metabólicas, promove o equilíbrio da microbiota intestinal e ajuda na autorregulação da saciedade. Esses fatores têm impacto direto sobre o risco de obesidade e doenças metabólicas no futuro.
Pesquisa recente publicada na revista Pediatrics revelou que adolescentes que foram amamentados por 12 meses ou mais apresentam níveis mais baixos de colesterol total, além de um risco até 43% menor de alterações nestas taxas. O estudo, com mais de 12 mil crianças e adolescentes, reforça que os efeitos da amamentação vão muito além dos primeiros anos de vida, contribuindo para a saúde cardiovascular e metabólica na adolescência e vida adulta.
Além disso, uma revisão internacional conduzida por especialistas britânicos aponta que o leite materno, por conter colesterol natural em equilíbrio com ácidos graxos essenciais, ajuda o organismo do bebê a desenvolver uma resposta saudável ao metabolismo de gorduras. Essa “programação metabólica” precoce pode ser um fator de proteção duradouro contra alterações lipídicas e obesidade.
A campanha do Agosto Dourado é uma oportunidade de reforçar essas informações com pais, profissionais de saúde e a sociedade em geral. Amamentar é um gesto de amor, mas também é uma escolha de saúde pública. Precisamos desmistificar a ideia de que seus benefícios se restringem ao curto prazo. Amamentar é uma medida de prevenção contra doenças crônicas, inclusive aquelas associadas ao excesso de peso e ao colesterol elevado.
É extremamente importante o apoio institucional e familiar à mulher que deseja amamentar. A licença-maternidade adequada, a existência de salas de apoio à amamentação em empresas e espaços públicos, além do incentivo profissional por parte de equipes de saúde, são fundamentais para que esse ato natural possa ser mantido de forma segura e duradoura.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 45% dos bebês brasileiros são amamentados exclusivamente até os seis meses, e esse número ainda está abaixo da meta da Organização Mundial da Saúde, que prevê 50% até 2025. Aumentar esse índice é uma meta urgente de saúde coletiva. Cada mês de amamentação faz diferença. Precisamos transformar informação em ação, e o Agosto Dourado é um importante ponto de partida.
*Marília Barbosa é endocrinologista pediátrica