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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música Clássica

A criação da Escola Goiana de Belas Artes (1952/1953)

| 09.04.21 - 16:49
A Escola Goiana de Belas Artes foi fundada no dia primeiro de dezembro de 1952, na então jovem Capital do Estado de Goiás. Isso é o que aponta a ata de fundação da EGBA. Segundo o pesquisador Eliézer Cardoso de Oliveira (2018, p. 27), a criação da EGBA só foi possível em decorrência dos esforços imensuráveis de, principalmente, três artistas: o goiano - de Pirenópolis - Luiz Augusto do Carmo Curado (1919-1996), o alemão Henning Gustav Ritter (1904-1979) - naturalizado brasileiro em 1947, e o italiano Frei Nazareno Confaloni (1917-1977).
 
Sobre a iniciativa dos três fundadores da EGBA, opina o autor Braz Wilson Pompeu de Pina Filho: “Luiz Curado, Gustav Ritter e Confaloni deram início a uma verdadeira revolução nas artes plásticas de Goiás” (Pina, 2002, p. 53). E, sob a perspectiva de Marcela Aguiar Borela (2010, pp. 81 e 110), a partir da contribuição artística dos estrangeiros Ritter e Confaloni ao lado do goiano Luiz Curado, no cenário cultural goianiense, efetivamente, tem início “a transformação estética que caracteriza o modernismo nas artes plásticas em Goiás”. 
 
No dia 30 de março de 1953, foi realizada uma cerimônia de inauguração da EGBA, na forma de uma exposição instalada com obras de seu primeiro corpo docente.

Em relação à supramencionada exposição de inauguração da EGBA, o musicólogo Braz de Pina utiliza-se de uma informação extraída da Revista Acadêmica Goiana (de maio de 1961). Desta fonte documental secundária destaca-se um depoimento atribuído a um de seus fundadores, o professor Luiz Augusto do Carmo Curado: 
 
Embora o processo ainda corresse seus trâmites legais, a Escola Goiana de Belas Artes abriu suas portas em 30 de março de 1953, com grande exposição em que os professores puderam mostrar o seu alto nível artístico
(Curado apud Pina, 2002, p. 54; 1988, p. 59).

 
O que Luiz Curado quis dizer com trâmites legais? Certamente, esse professor estava se referindo às duas etapas seguintes do processo de regularização da EGBA: permissão para funcionamento e reconhecimento dos cursos oferecidos pelo estabelecimento de ensino. Ora, tratava-se, na realidade, de uma Escola de nível superior. Corroborando essa afirmação, Jaqueline Siqueira Vigário (2017, pp. 19 e 193) esclarece que a EGBA é considerada a “primeira instituição escolar de ensino superior especializada no ensino artístico de Goiânia”. Para mais, A EGBA "seria a legitimação concreta do movimento nas artes no início dos anos de 1950, depois da curta duração de experiência modernizante com a Sociedade Pró-Arte1 nos anos de 1940".
 
No que diz respeito ao primeiro caso (permissão para funcionamento), a Escola de Belas Artes foi autorizada a funcionar oficialmente, via decreto2 governamental, a partir do dia 23/05/1953.  Com referência ao processo de reconhecimento dos cursos, a burocracia governamental fez com que a EGBA esperasse pacientemente até o ano de 19593
 
Durante o ano de 1953, em conformidade com a maioria dos autores pesquisados para a redação deste texto, os professores da EGBA, sob a direção4 de Luiz Curado, dedicaram-se, sobretudo, à preparação de possíveis candidatos ao primeiro exame de habilitação, este que aconteceria no final daquele ano.
 
No início de 1954, como programado, foram iniciados os cursos oferecidos pela Escola Goiana de Belas Artes. É relevante enunciar que, inicialmente, os cursos da EGBA, a exemplo do que acontecia à época na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), possuíam a duração de cinco anos. Por conseguinte, os alunos das primeiras turmas da EGBA encerraram suas atividades acadêmicas em fins de 1958 (diplomação em 1959).


Escola Goiana de Belas Artes
Formandos de uma das primeiras turmas da EGBA
Fonte: Arquivo Eli Curado
(Foto utilizada por Marcela Aguiar Borela em sua Dissertação de Mestrado - p. 115)


 
Cumpre informar, antes de dar sequência a esse arrazoado, que a atual Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (EMAC/UFG) nasceu como um departamento da Escola Goiana de Belas Artes, chamado, nos anos 1954/55, de Instituto de Música da EGBA. Mas essa história vai ficar para a próxima coluna. 

 
O sonho de criar uma escola de artes em Goiânia
 
Em entrevista5 concedida à pesquisadora Maria Helena Jayme Borges (1999, p. 95) - docente vinculada à EMAC/UFG -, o professor Luiz Augusto do Carmo Curado (falecido em 1996) explicitou alguns dos acontecimentos que levaram à criação da EGBA. Conforme atestam os registros de Borges (1999, p. 95), baseadas nas lembranças de Luiz Curado, o escultor alemão Henning Gustav Ritter teria chegado a Goiânia por volta de 1945. Vale ressaltar que Edna Goya (2010, p. 2023) e Divino Sobral6 (2009, p. 24) definem, nesse caso, o ano de 1949.
 
À época, segue relatando Luiz Curado, citado por Borges (1999, p. 95), que Gustav Ritter, o qual havia trabalhado com Burle Marx em “projetos de paisagismo em algumas estâncias mineiras”, encontrava-se na cidade de Araxá (MG) quando o escultor Luiz Curado “veio para ensinar Desenho Técnico Industrial na Escola Técnica Federal de Goiás” (ETFG) - atual IFG. 
 
O fato é que, na década de 1940, aquela instituição de ensino também era o local de trabalho do artista goiano. Na ETFG, Luiz Curado lecionava, entre outras disciplinas, “Matemática”. Nasceu, então, a partir daí uma sólida amizade entre o “contabilista, escultor e violinista” goiano e o alemão Gustav Ritter.
 

Henning Gustav Ritter (1904-1979)
(Década de 1970)
Fonte: Livro Gustav Ritter 
(Organizador: Wolney Unes)


Foi nessas circunstâncias que, entre uma conversa e outra, o goiano revelou um antigo sonho ao amigo alemão: abrir uma escola (particular) de artes que, além do ensino, pudesse promover “uma movimentação em torno das artes” na jovem Capital de Goiás. 
 
Na continuidade de sua argumentação, Edna Goya traz um dado relevante: existiu, por parte de Luiz Curado e Gustav Ritter, um projeto anterior, datado de 1950. Neste caso, a intenção dos dois professores da Escola Técnica era a de fundar uma escolinha infantil. Edna Goya segue narrando que “os ideais dessa escola se consolidam posteriormente, por meio da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA), fundada em 1952”. 
 
Na concepção de Edna Goya, com seus projetos, “Curado e Ritter sonhavam imprimir em Goiás as inovações da Arte Moderna” (Goya, 2010, p. 2023). Reforçando tal opinião, Marcela Aguiar Borela sugere que os esforços dos fundadores da EGBA buscavam oferecer “condições de desenvolvimento de uma arte em Goiânia que se diferenciasse do modelo romântico/neoclássico dominante na cena local”. E mais: que pudesse dialogar “diretamente com as diversas correntes estéticas modernistas já conhecidas” (Borela, 2010, p. 92).
 
Obviamente que uma contextualização política e histórica concernente ao Brasil e ao Estado de Goiás dos anos 1930 e 1940 é imprescindível no sentido de permitir uma melhor compreensão das motivações que levaram não apenas à construção de Goiânia, mas também incentivaram uma série de reflexões - de cunho estético, em sua maioria - por parte da classe artística goianiense.

Por outro lado, não se pretende desviar o foco principal deste texto. Assim sendo, para um melhor detalhamento daquele processo de transformação emblemática - símbolos de progresso e da modernidade - percebido naquela conjuntura, leia a introdução do trabalho acadêmico abaixo:
 
Crundwald Costa e as sementes da modernidade” (2018a)
Autor: Othaniel P. de Alcântara Jr.
 
Trata-se de parte integrante (Capítulo II) do Livro Projeções Críticas da Modernidade: Modernismos e modernidades a partir da experiência goiana, organizado pelos professores Heloísa Selma Fernandes Capel e Ademir Luiz da Silva. Para acessá-lo basta clicar sobre o título da publicação.

 
Retornando ao curso dos acontecimentos ora visitados, sabe-se que, tempos depois, de acordo com Borges (1999, pp. 95-96), Luiz Curado e Gustav Ritter começaram a procurar um local para a abertura da almejada escola. Nesse ínterim, aconteceu que durante uma de suas viagens à Cidade de Goiás, o professor Luiz Curado “ficou conhecendo Frei Nazareno Confaloni, recém-chegado da Itália” (Borges, 1999, p. 95). Tratava-se de um sacerdote da Ordem dos Dominicanos (desde 1939) que, antes, no País da Bota, havia desenvolvido sua formação artística e iniciado sua carreira profissional de pintor, desenhista, muralista7 e animador das artes, “inserido no contexto estético do período chamado de ‘Novecento Italiano’” (Borela, 2010, p. 85).
 
Consoante às afirmações de Borela (2010, pp. 85-86), o artista italiano - natural da cidade de Grotte de Castro, Viterbo - havia sido solicitado por D. Cândido Penso, em 1950, para executar a tarefa de pintar os 14 afrescos da Igreja do Rosário, considerada em seu conjunto como “a primeira obra das artes plásticas goianas”. Em função dessa empreitada, Confaloni fixou residência na antiga Vila Boa por dois anos.

 

Frei Nazareno Confaloni (1917-1977)
(Década de 1960)
Fonte: Acervo do Instituto de Pesquisas Históricas do Brasil Central
(Foto utilizada por Jacqueline Siqueira Vigário em sua Tese de Doutorado)

 
Nessa trilha, tanto Maria Helena Jayme Borges (1999, p. 96) quanto Marcela Aguiar Borela (2010, p. 86), citando, respectivamente, Narra Aline Figueiredo (1979) e Miguel Jorge (1982), trazem um episódio bem curioso. Segundo os relatos dos autores, Luiz Curado havia tomado conhecimento da presença de um “pintor louco”, este que, no entender da população vilaboense pintava “cristos horríveis”. Além disso, o próprio Dom Candido Penso “estranhava o traço de Confaloni nos desenhos que esboçavam os futuros murais”, os quais retratavam os “Mistérios do Rosário” (Bolena, 2010, p. 89).
 
Situação perfeitamente compreensível, pois aquelas obras de arte - os 14 afrescos da Igreja do Rosário - evidenciavam, de acordo com a avaliação de Borela (2010, p. 90), características atreladas ao “modernismo de orientação expressionista” enquanto, naquele tempo, “a produção que existia em Goiás se ligava à arte popular naturalista ou ao academicismo neoclássico” (ibidem, p. 86).
 
Enfim, no momento daquele encontro, Luiz Curado “soube reconhecer ‘o artista de bagagem europeia, o personagem idealista de vivo entusiasmo’” (Borela, 2010, p. 86). E, “entusiasmado com o trabalho de Confaloni, convidou-o a participar do projeto da escola de artes em Goiânia. O convite foi prontamente aceito” (Borges, 1999, p. 96). É preciso aludir que a data exata deste encontro não foi disponibilizada nos trabalhos examinados.

No tocante a essa passagem, uma matéria assinada por José Godoy Garcia para o Jornal OIÓ traz um depoimento do italiano Frei Confaloni, datado de 1957:
 
Foi um dia a meu atelier, na Velha Goiás, o nosso Luiz e aí travamos a nossa grande amizade.
Luiz Curado me informou da presença em Goiânia de um bom artista alemão, [Gustav] Ritter, escultor de grande força (...). Finalmente, com ele e Luiz Curado, levamos a termo a realização daquela ideia.

(Garcia, 1957 apud Vigário, 2014, p. 146).

 
A pesquisadora Maria Helena Jayme Borges, a partir das informações fornecidas pelo professor Luiz Augusto do Carmo Curado na aludida entrevista, segue divulgando que o arcebispo de Goiás, Dom Emanuel Gomes de Oliveira (1874-1955), ao tomar conhecimento do projeto de criação da EGBA, convidou os três artistas “para uma reunião no terraço do Colégio Santa Clara, em Campinas” (atual bairro de Goiânia). Entretanto, a data desse encontro, não é mencionada pela autora.
 
Na supramencionada reunião, Dom Emanuel comunicou aos presentes que pretendia instituir uma universidade em solo goiano, a qual seria gerida pela Sociedade Goiana de Cultura. Ademais, manifestou o interesse de integrar8 a escola de artes (EGBA) à futura Instituição Superior de Ensino que, de fato, foi criada apenas em outubro de 1959, com o nome de Universidade de Goiás. Esta teve seu nome alterado para Universidade Católica de Goiás (UCG) e, muito tempo depois, para Pontifícia Universidade Católica (PUC).
 
Voltando à sequência dos fatos que resultaram na origem da EGBA, a professora Maria Helena (1999, pp. 96-97) explicita que Luiz Curado, Gustav Ritter e Frei Confaloni, na residência do primeiro deles (em data não revelada) elaboraram, em tempo recorde, os Estatutos e o Regimento (este baseado no Regimento da Escola Nacional de Belas Artes. Também, no mesmo dia, chegaram a um consenso quanto aos nomes que integrariam o quadro de professores da EGBA. Além dos três fundadores, foram escolhidos mais cinco nomes: 
 
Antônio Henrique Péclat
José Edilberto da Veiga Jardim
Luís da Glória Mendes
José Lopes Rodrigues 
Jorge Félix de Souza


Afora os prazos necessários para o cumprimento dos trâmites legais, no sentido de protocolar9 junto ao Ministério da Educação (Rio de Janeiro), uma reunião foi realizada no dia 01 de dezembro de 1952, mais precisamente, segundo Edna de Jesus Goya (2010, p. 2023-2024), no período noturno, no Salão da Biblioteca Almanara S. A., localizado no centro de Goiânia. A autora acrescenta que a citada solenidade contou com a presença dos oito professores fundadores elencados acima e foi presidida por Dom Abel Ribeiro Camelo, Bispo Auxiliar. Marcela Borela (2010, p. 94) conta que, nesta referida data, foi aprovado o Regimento Interno da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA).

 
O ano de 1953
 
Sabe-se que o ano de 1953 foi dedicado a um “Curso de Preparação” destinado a possíveis candidatos ao exame de habilitação que aconteceria no final daquele ano. Para Edna Goya (2010, pp. 2024-2025), para melhor preparar os interessados foram oferecidas três matérias: Desenho Artístico e Pintura, ministrada por Confaloni e Péclat; Desenho Geométrico, cujas aulas foram ministradas por José Edilberto da Veiga e Modelagem, ensinada por Henning Gustav Ritter”. Marcela Bolena (2010, p. 94) completa tal informação dizendo que esse “cursinho” preparatório “começa com 54 alunos e finda com 45.
 
Em 1954, finalmente, foram iniciados os cursos oferecidos pela EGBA, previstos no Artigo 3º de seu Regimento Interno da EGBA, este que havia sido aprovado na primeira assembleia dos professores fundadores (em 01/12/1952) e, mais tarde, pelo Conselho Nacional de Educação. São eles: 1) Pintura; 2) Escultura; 3) Desenho Aplicado.

A abertura oficial do ano de 1954 foi feita “com assistência dos alunos e do grande público”, o qual compareceu a “uma aula inaugural ministrada por Luiz Curado” (Borela, 2010, p. 94).

 

Fotografias de Luiz Augusto do Carmo Curado (1919-1996)
Escola Goiana de Belas Artes - Anos 1960
Fotografia de Amaury Menezes
(Foto utilizada por Marcela Aguiar Borela em sua Dissertação de Mestrado, p. 82)


 
As sedes da EGBA
 
Em 1953, a EGBA funcionou em três sedes provisórias na cidade de Goiânia. A saber:
 
1) Rua 9, Setor Central - local cedido por Dona Ruth Neddermeyer, viúva de José Amaral Neddermeyer, este que, nas palavras de Braz de Pina (2002, p. 35) havia sido “construtor de grandes obras da capital, como o Cine-Teatro Goiânia, por exemplo”. Naquele local, já funcionava, há algum tempo, o Jardim de Infância Menino Jesus (Goya, 2010, p. 2024; Pina, 1988, p. 59; 2002, p. 54);
 
2) Museu do Estado de Goiás (2º piso), Praça Cívica - espaço disponibilizado pelo professor Zoroastro Artiaga (Goya, 2010, p. 2025; Pina, 1988, p. 59; 2002, p. 55);
 
3) Avenida Anhanguera esquina com Rua 8 (Centro) - edifício de propriedade do Senhor Alcindo Caetano Machado, ao lado do Hotel Bandeirantes. Nesse endereço, permaneceu funcionando até a construção de sua sede própria no Setor Universitário (Costa, 1955 apud Goya, 2010, p. 2025).

 
NOTAS:
 
1) Concordando com Braz de Pina (2002, p.35), uma nova etapa na vida cultural de Goiânia iniciou-se, em 1945, com a fundação da Sociedade Pró-Arte de Goiás, pelo arquiteto paulista José Amaral Neddermeyer (1894-1951). Em nossa opinião (Alcântara, 2018b, p. 15) muito provavelmente, tal iniciativa foi inspirada na Sociedade Pró-Arte Moderna de São Paulo (SPAM) que, por sua vez, difundia os princípios estéticos modernistas consolidados na Semana da Arte Moderna de 1922. No entanto, após uma análise prévia de fontes primárias, pelo menos em relação à linguagem musical, parece que esse movimento não apresentou as novidades difundidas pelos modernistas de São Paulo. Em Goiânia, prevaleceu um espírito mais conservador, ainda ligado ao modelo europeu de herança colonial. A criação da Sociedade Pró-Arte de Goiás (1945) representou, em primeiro lugar, uma tentativa de fortalecimento da classe artística em geral, por meio do associativismo. Além disso, observa-se que o desenvolvimento da área musical, durante a existência daquela Entidade, esteve mais associado à criação de um ambiente que permitisse à região se equiparar, estruturalmente, aos grandes centros brasileiros. Entre outras iniciativas, a direção da Pró-Arte buscou divulgar a música de concerto na cidade. Ficou evidente, naquela época, o desejo inicial de se criar um conservatório e uma grande orquestra profissional. Assim, foi criada a Orquestra da Sociedade Pró-Arte de Goiás, dirigida pelo pianista e maestro Érico Pieper.

2) Na ausência de uma adequada consulta à fonte primária correspondente ao apontado Decreto, resta-nos declarar que há, entre as fontes secundárias cotejadas, incongruências quanto à numeração do supradito Decreto. Assim, temos: nº 32.850 (Pina, 1988, p. 59), nº 32.858 (Pina, 2002, p. 54) ou nº 32.258 (Goya, 2010, p. 2024).
 
3) Braz de Pina informa que o reconhecimento dos cursos da EGBA se deu via Decreto-Lei nº 47. 485, de 24/09/1959 (Pina, 2002, p. 54; 1988, p. 59).
 
4) Luiz Curado foi o primeiro diretor da EGBA. Preliminarmente, foi indicado pelo Reitor da UCG, Dom Abel e, depois, em 1956, foi “eleito democraticamente pelo corpo docente”, tendo exercido o cargo até meados de 1965. (Goya, 2010, p. 2024).

5) Em 1996, a pesquisadora Maria Helena Jayme Borges, sob a orientação da Professora Dra. Nancy Ribeiro de Araújo e Silva, defendeu sua Dissertação de Mestrado intitulada A Música e o Piano na Sociedade Goiana (1805-1972). Esse trabalho acadêmico resultou na publicação de um livro, com título homônimo, em 1999. Merece destaque o fato de o professor Luiz Augusto do Carmo Curado (falecido em 1996) ter sido um dos entrevistados pela professora Maria Helena (EMAC/UFG), durante os anos dedicados àquela Pesquisa. À época, este cofundador da EGBA, que era “contabilista, escultor e violinista”, forneceu detalhes alusivos ao processo de criação daquela instituição pioneira no ensino de artes em Goiânia.
 
6) Para Divino Sobral, com "a atuação de artistas de orientação modernista com Ritter (formado na Alemanha sob a orientação bauhausiana) e Confaloni (formado na Itália sob a influência do Novecento), é que o processo artístico em Goiás começou a se estruturar de fato, e esse início aconteceu em torno de uma inteligência plástica moderna, que era então necessária para dialogar com a arquitetura modernista Art Déco implantada nos primeiros edifícios da nova cidade (...)". (Sobral, 2009, p. 24).

7) “Merecem atenção os dois murais de Confaloni finalizados em 1953, em Goiânia, no local da Estação Ferroviária da cidade”. (Borela, 2010, p. 106).
 
8 - Pelo que se sabe, a “incorporação da EGBA à UCG se deu em 23 de agosto de 1969”, passando, então, a se chamar Escola de Belas Artes da Universidade de Goiás. Goya (2010, p. 2031). Nas palavras de Borela (2010, p. 115), “em 1969, a EGBA é transformada em Escola de Arquitetura e Artes da UCG, sendo posteriormente extinta, em 1972”.

9) Para dar início aos trâmites legais, faltava colher as assinaturas do Arcebispo e, posteriormente, protocolar o processo no Ministério da Educação. Tais incumbências ficaram sob a responsabilidade do professor Luiz Curado. Para tanto, seguiu viagem para a cidade de Campinas (São Paulo) para o encontro com Dom Emanuel, que lá se encontrava. E, “seguindo viagem, foi ao Rio de Janeiro, para protocolar o processo no Ministério da Educação. (Borges, 1999, p. 96).



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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alcântara, Othaniel P. de Alcântara, Jr. (2018). Crundwald Costa e as sementes da modernidade. In Heloísa Selma Fernandes Capel e Ademir Luiz da Silva (Organizadores), Projeções Críticas da Modernidade: Modernismos e modernidades a partir da experiência goianaSão Paulo: Verona.

Alcântara, Othaniel P. de Alcântara, Jr. (2018). A música sinfônica em Goiânia: uma abordagem histórica, política e sociocultural. Trabalho Final de Curso de Doutoramento em Ciências Musicais (Ciências Musicais Históricas). Faculdade de Ciências Sociais e Humana da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa.

Borela, Marcela Aguiar. (2010). Experiência moderna nas Artes Plásticas em Goiás: fronteira, identidade, história (1942-1962). Dissertação (Mestrado). Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

Borges, Maria Helena Jayme. (1999). A música e o piano na sociedade goiana (1805-1972). Goiânia: Funape.

Goya, Edna de Jesus. (2010). O Ensino Superior de Artes Plásticas em Goiás: a Escola Goiana de Belas Artes - EGBA. In Maria Virginia Gordilho Martins; Maria Hermínia Oliveira Hernández (Orgs.). Entre Territórios - Anais do 19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Cachoeira, Bahia: ANPAP, EDUFBA. ISSN: 2175-8212.

Oliveira, Eliézer Cardoso de. (2018). Modernismo em Goiás: panorama crítico. In Heloísa Selma Fernandes Capel e Ademir Luiz da Silva (Organizadores), Projeções Críticas da Modernidade: Modernismos e modernidades a partir da experiência goiana. São Paulo: Verona.

Pina, Braz Wilson Pompeu de Pina, Filho. (1987/88, Jan./Dez.). Jean Douliez: 1953 a 1963, uma nova era musical. Revista Goiana de Artes, Vol. 8/9, nº 1, pp. 59-81. Goiânia: Instituto de Artes (atual EMAC) da UFG.

Pina, Braz Wilson Pompeu de Pina, Filho. (2002). Memória musical de Goiânia. Goiânia: Kelps.

Sobral, Divino. (2009). Gustav Ritter: sintético, orgânico e musical. In Wolney Unes (Org.), Gustav Ritter. Goiânia: ICBC.

Unes, Wolney. (2009). Gustav Ritter. Goiânia: ICBC.

Vigário, Jacqueline Siqueira. (2014, Jan./Jul.). A Recepção crítica na invenção das origens: a iconografia de Nazareno Confaloni e a cultura goiana. Aedos - Memória e História: diálogos, narrativas e ensino - Revista do Corpo Discente PPG em História da UFRGS, nº14, v.6 (pp. 128-147). Porto Alegre: UFRGS

Vigário, Jacqueline Siqueira. (2017). Diante da sacralidade humana: produção e apropriações do moderno em Nazareno Confaloni (1950 a 1977). Tese (Doutorado). Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

 

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