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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: divulgação)Em time que está ganhando não se mexe - ou se mexe só um pouquinho, quase sem dar pra notar a diferença. Nas últimas semanas estrearam as duas séries de fantasia mais esperadas do ano: A Casa do Dragão, derivada de Game of Thrones, na HBO, e Os Anéis de Poder, derivada de O Senhor dos Anéis e baseada no Legendarium de JRR Tolkien, na Amazon Prime Video.
Ambas se orgulham grandemente de serem caríssimas - a do Prime Video, inclusive, entrou para o livro dos recordes como a mais cara já produzida: US$ 720 milhões para o desenvolvimento de uma temporada. Essa dinheirama é refletida na tela: ambas são lindíssimas e lindamente produzidas.
Ainda assim, ambas são ruins.
Os dois novos programas e o seu esvaziamento estético, temático e narrativo me lembraram um dos conceitos que cheguei a trabalhar em um artigo escrito com o professor Rodrigo Cássio, da UFG: o neo-barroco, de Omar Calabrese (2013).
“Os ‘replicadores’ (filmes, seriados, telefilmes, remakes, romances de consumo, quadrinhos, canções e assim por diante) nascem como produtos de repetição mecânica e otimização do trabalho, mas o seu aperfeiçoamento produz mais ou menos involuntariamente uma estética da repetição”, escreve Calabrese.
Ainda nos anos 1980 o autor percebia uma tendência da cultura pop a se tornar um rame-rame: um meio onde ideias são requentadas eternamente buscando vender para públicos diferentes produtos que já foram lucrativos anteriormente. O conceito do semioticista me veio à mente ao perceber quão aparente é a rapinagem dessas duas séries: o quão descaradamente mercenárias elas são, ao ponto disso ser um incômodo.
Pode ser que estou me precipitando, claro: poucos episódios de cada uma viram a luz do dia e estamos falando de temporadas de estreia, há muito a ser estabelecido, como personagens, lugares, premissas e tramas. Porém, as duas já fizeram seu primeiro contato com suas respectivas audiências e padecem de um pecado inesperado.
As duas séries são chatas. E ser chato, talvez, seja o maior pecado na mídia moderna. Mas antes fosse esse o único problema: elas são vazias. Toda a megaprodução parece um pastel de vento muito elaborado: a massa pode ser feita por freiras surdas francesas com trigo orgânico colhido na Mongólia e esfarinhado pelas próprias mãos de monges tibetanos, mas ainda é um pastel de vento.