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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: divulgação)Terminou nesta quarta-feira (23/11) a primeira temporada de Andor, nova série da Disney+ situada no universo de Star Wars e estrelada pelo sempre excelente Diego Luna, reprisando o papel de Cassian Andor, rebelde do elenco de Rogue One (2016). Confesso que não estava nem um pouco empolgado para este seriado.
Em primeiro lugar porque já estou sofrendo de uma fadiga de Guerra nas Estrelas: há muitos produtos novos o tempo todo. Em segundo lugar porque Rogue One nem é um filme tão bom assim: apesar de quebrar o então molde da franquia, o longa faz pouco para ser memorável, tendo como mais marcante, de fato, alguns personagens como Andor, Saw Gerrera (agora um personagem recorrente em diversos outros produtos) e K-2SO.
Então eu assisti. Apesar dos três episódios introdutórios, que efetivamente funcionam como um só, serem lentos e desinteressantes, após esta barreira inicial a série decola e alça voos nunca vistos em um produto Star Wars. E a razão para este sucesso não está na expansão insondável do espaço, mas com os dois pés bem firmes aqui no planeta Terra.
Tentando não dar spoilers, a sinopse da série seria a seguinte: a trama acompanha como Cassian Andor, um bandidinho de meia tigela, acaba radicalizado pela Rebelião contra o Império, se tornando um verdadeiro guerrilheiro da causa.
O que torna a série tão boa é que é possível traçar um paralelo direto com revoltas armadas e regimes autoritários do mundo real. Nunca Star Wars foi tão visceralmente pé no chão. Para nós, brasileiros e latino-americanos, é com muita naturalidade que encontramos semelhanças entre o Império Galáctico e as ditaduras no Chile, na Argentina e no Brasil: o regime age como regime e os rebeldes como rebeldes.
Ao invés de se focar em aventuras espaciais, a série é focada na logística e dificuldade de se fomentar um movimento de resistência contra uma autoridade repressora: os rebeldes se organizam em células usando nomes falsos e organizam assaltos para garantir armas e dinheiro ao mesmo tempo em que políticos e militares infiltrados no Império vivem uma vida dupla, tentando repassar informações úteis à resistência. Táticas e estruturas utilizadas desde a guerrilha no Brasil até os movimentos republicanos na Espanha e na Irlanda.
Por sua vez, o mesmo vale para a forma como o Império é retratado: seus oficiais integram uma grande burocracia, sempre tentando galgar posições mais altas. Enquanto força de exceção, o Império também aplica tortura e força bruta, com sequestros, desaparecimentos e campos de trabalho forçado. Da mesma forma, algo conhecido em toda a América Latina e nos gulags russos e campos do Holocausto.
Um fator extra neste ponto e que também é muito interessante é que, pela primeira vez, os vilões do Império não são caricaturalmente nefastos. Os principais antagonistas da série, a oficial Meero e o burocrata Syril, são pessoas de carne e osso.
A trama se esforça e se desenrola para mostrar por que razão pessoas normais apoiariam uma tirania tão cruel. Paralelo a Andor, nos é mostrado como um sentimento de ufanismo desregrado, pânico moral e medo radicalizam os dois “vilões” que confiam e acreditam inteiramente no Império.
Enfim, Andor merece ser assistido por todos os fãs de Star Wars, se afastando completamente da receita de bolo utilizada pela franquia há mais de 40 anos. A série dá lugar a um drama político forte e envolvente mesmo tendo como matéria-prima uma fantasia espacial envolvendo monges guerreiros e feiticeiros espaciais.