Carolina Pessoni
Goiânia - Por muitos anos, um muro branco e árvores majestosas chamaram a atenção de quem passava pela Rua 84, bem pertinho da Praça Cívica, na região central de Goiânia. O local, que já foi a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Goiás (Iphan-GO), será, em breve, a Cerrado Galeria de Arte.
A casa é um dos mais importantes exemplares de arquitetura residencial modernista em Goiânia. Projeto do arquiteto David Libeskind, a Residência Abdala Abrão foi projetada em 1966. David também foi o autor do projeto do Conjunto Nacional, em São Paulo.
As características do imóvel são da arquitetura moderna. A estrutura é de concreto armado com fechamento em alvenaria de blocos cerâmicos. Há ainda uma articulação entre os níveis, aproveitando o declive do terreno.
Imóvel foi a sede do Iphan-GO até 2019 (Foto: Acervo Iphan-GO)
Desde 2019, com a transferência da sede do Iphan, a casa estava sem uso. Pela sua arquitetura e localização, foi escolhida pelos galeristas Lúcio Albuquerque, Antônio Almeida e Carlos Dale para ser o novo espaço de arte de Goiânia.
Lúcio, que é de Belo Horizonte, explica que a escolha pela capital goiana seguiu a lógica contrária à tradicional de exportação, apostando no mercado interno da arte. "Quando pensamos em expandir, trouxemos uma galeria para Brasília, a Casa Albuquerque. Lá, ouvimos que o mercado de Goiânia era muito interessante e receptivo à arte. Então, mapeamos a cidade e decidimos abrir uma unidade aqui", conta.
A escolha do local para a instalação da galeria não foi por acaso. "A casa é uma referência, na região Central da cidade. É um imóvel amplo, em uma região abandonada e isso foi intencional. Como o tombamento é apenas da fachada, nos permitiu fazer as alterações necessárias", explica o galerista.
Para fazer as adaptações no imóvel de 2.154 m², o arquiteto Leo Romano foi convidado para assinar o projeto. O nome do goiano também não foi uma opção casual, conforme ressalta Lúcio. "Escolhemos um profissional de renome, da região. O arquiteto da edificação é uma referência dos anos 1960, agora temos uma referência da arquitetura atual fazendo as adaptações do imóvel."
Na reforma para instalação da galeria, muitos itens originais da casa serão mantidos, como a porta e a parede de ladrilho azul, que será usada como inspiração para a logomarca da galeria. A madeira do corrimão da escada, o jardim e a piscina também estão sendo restaurados e serão conservados.
Parede em ladrilho azul (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
O galerista destaca que o objetivo da Cerrado Galeria é exibir o trabalho de "verdadeiros artistas brasileiros". "Buscamos arte de qualidade, com produção local mapeada. Queremos dar visibilidade aos artistas que ainda não foram, de certa forma, 'contaminados' pelas referências do exterior."
O objetivo do projeto é, além de democratizar o acesso à arte, proporcionar espaço para novos artistas, trazendo também o reconhecimento a esses trabalhos. "Vamos incluir esses profissionais em projetos para exportação para outros cenários. Para isso, é fundamental ter um mercado atuante, profissionalizado, com respeito aos artistas", garante Lúcio.
Para iniciar os trabalhos da Cerrado Galeria e Arte, que abrirá ao público em maio, uma exposição de um dos mais renomados artistas goianos: Siron Franco. "É muito simbólico. Estamos pedindo permissão a quem já está há mais tempo aqui", brinca o galerista, que completa: "Estamos muito entusiasmados. O trabalho do Siron é fantástico e reconhecido internacionalmente. Não poderíamos começar de maneira melhor."
Para Lúcio, a Cerrado Galeria também terá a função de ajudar o cenário cultural da cidade. "É também por esse motivo que escolhemos esse imóvel, que está em uma região meio esquecida da cidade, como é o centro das grandes cidades. Outros projetos também podem ser atraídos para o local. Queremos ter essa função, ser esse vetor e trazer um movimento bacana, atenção para o centro de Goiânia."