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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: divulgação)A semana passada foi badalada com a estreia de duas minisséries documentais que jogam luz sobre um período muito específico e peculiar da televisão brasileira: Xuxa, o Documentário, da Globoplay, e A Superfantástica História do Balão, da Star+. Vamos falar sobre a segunda, que foi lançada completa, com três episódios, já que a primeira será semanal, com cinco episódios, e ainda está em andamento.
Em primeiro lugar, já quero deixar clara a recomendação: A Superfantástica História do Balão vale a assistida. Não acho que é tanto um documentário, mas como uma reportagem especial um tanto longa devido à forma como é apresentada. O programa colhe os relatos de Simony, Jairzinho, Tob e Mike, além de outros envolvidos no sucesso do Balão, e em como ser exposto à fama tão cedo na vida impactou a vida de cada um. Impacto, inclusive, que é visível neles, principalmente nos depoimentos do Tob e da Simony, por mais que eles tentem disfarçar ou desconversar.
Há muita coisa errada, questionável e repreensível na história do Balão, refletindo agora, 40 anos depois. O que poderia ser uma oportunidade caça-níquel e melodramática para algumas produções, acaba não sendo engajada aqui em prol de um tom que busca poupar as crianças que faziam parte do Balão.
A abordagem escolhida é apenas a de talking heads: os entrevistados falam livremente e o público fica apenas com a crueza e a frieza dos relatos, alguns deles contraditórios. Fica o desejo de que os documentaristas fossem a fundo para expor sem dó os podres e abusos, ao mesmo tempo que é evidente a decisão de pegar leve com todos os antigos membros infantis do Balão.
Na minha visão, é até engraçado ver Simony, a pessoa ligada ao Balão que mais sofreu ao longo da vida pelos efeitos da superexposição, da fama e da crueldade da audiência, reclamar publicamente que o programa pegou pesado com sua mãe na produção. Isso porque, ao assistir ao documentário, duas coisas ficam muito perceptíveis: como os adultos ao redor deles foram aproveitadores e como todas as crianças ficaram traumatizadas pelo resto da vida, cada uma do seu jeito.
E, de novo, isso tudo sem serem apresentados longos exposés, dados ou documentos: são apenas entrevistas em que, sem perceber, os entrevistados revelam muito mais do que acham que estão falando.
Enfim, apesar do desejo de saber mais, de ver e mostrar mais, vale a pena assistir. A produção é, no mínimo, um recorte jornalístico muito interessante de como o Brasil dos anos 1980 era simplesmente outro mundo em que, se não tudo, muita coisa era permitida com pouquíssimas consequências.