Carolina Pessoni
Goiânia - Elas chegam com medo, caladas, muitas vezes com machucados por todo o corpo e também pela alma. Mas há alguém para acolher, ouvir, compartilhar essa dor e ajudar. Este é o trabalho diário do Centro de Valorização da Mulher, o Cevam, localizado no Setor Norte Ferroviário, região central de Goiânia.
A entidade foi fundada em 1981 por Consuelo Nasser, com o objetivo de proteger e amparar mulheres vítimas de violência doméstica. O centro implantou programas, ações e atividades preventivas para reduzir o cenário de vulnerabilidade socioeconômica e de violência familiar, doméstica e de gênero.
Para isso, mantém uma Casa Abrigo, desde 1997, para casos de mulheres em situação de morte, em situação de abrigamento por rompimento dos laços familiares e econômicos, e em situação de vulnerabilidade socioeconômica e psicológica. "Como único abrigo estadual, tem acolhido e assistido mulheres, nos últimos 26 anos, com o propósito não apenas de protegê-las, mas também de promover o desenvolvimento de habilidades sociais, ações que garantam seus direitos como cidadãs", explica a presidente do Centro, Carla Monteiro.
A entidade tem capacidade para abrigar 30 mulheres e assistir cerca de 170. Atualmente são 21 abrigadas juntamente com seus filhos (que somam oito crianças) e 42 assistidas pelos serviços do Cevam. "Para uma mulher ser abrigada pela precisa ser encaminhada pela delegacia, assistência social, Defensoria Pública, Ministério Público ou Judiciário. Já para ser beneficiada por algum de nossos projetos, basta bater à nossa porta", ressalta a presidente.
(Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
Na modalidade externa, o Cevam assiste mulheres que não romperam o vínculo familiar, mas se encontram, inicialmente, em vulnerabilidade econômica e/ou médica. No modelo de assistência interna, por sua vez, há o acolhimento de mulheres em situação de maus tratos, que foram obrigadas a abandonar a casa familiar e que, na maioria dos casos, não dispõem de recursos de qualquer natureza. Em todos esses cenários, a acolhida é recepcionada por uma assistente social, que realiza uma anamnese social para nortear os serviços que serão disponibilizados a ela.
A missão do Cevam, de acordo com Carla, é ser um "solo sagrado" para todas as mulheres que buscam apoio, resgatando suas essências, independentemente de classe social, cor da pele ou experiências. "Trabalhamos situações que resultem no rompimento do ciclo de violência e deem valor às falas das mulheres. A meta é que se tornem sobreviventes, mas com a consciência de que merecem ser felizes", reforça.
Entre os programas e projetos disponibilizados pela entidade, estão o Cevam da Alma (atendimento psicológico), Cevam Jurídico, Cevam Reinserção (inclusão das assistidas), Cevam Saúde (atendimentos físico e mental), Cevam Terapêutico (terapia ocupacional), Grupo Reflexivo de Gênero Feminino (dinâmicas de orientação e aprendizagem), Moradia Social (destinado às mulheres responsáveis pelo sustento da família e total estado de vulnerabilidade) e Cultura.
Com o apoio financeiro de emendas parlamentares e parcerias com iniciativas privadas, além de doações, o Centro realiza cursos e oficinas gratuitos para capacitar a mulher assistida a gerar renda. O objetivo é romper com o ciclo de violência com meios que garantam o seu sustento. São oficinas de artesanato, costura, informática, cabeleireira e panificação, além de aulas de língua portuguesa para migrantes e refugiadas e seus filhos que ainda não dominam o idioma.
Carla Monteiro, presidente do CEVAM (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
Carla Monteiro afirma que a existência do Cevam é de extrema importância para a sociedade. "Infelizmente ainda é relevante que exista o Cevam como abrigo para mulheres que não podem conviver com seus agressores. Falo sem nenhum pudor que é uma vergonha existir uma entidade como esta, porque significa que a sociedade está falhando. Por outro lado, ainda bem que temos o Cevam, porque podemos amparar essas vítimas", lamenta.
Para a presidente da entidade, o trabalho que realiza no Centro é complicado, mas muito gratificante. "Encontramos situações difíceis, mas me sinto muito bem por poder servir, me disponibilizar, dar condições para uma pessoa perceber que ela é gente e ser feliz com tudo o que a vida lhe disponibiliza. Vale a pena."
Carla reforça, ainda, que a entidade se empenha para promover o respeito e a dignidade. "As pessoas têm direito à vida, mas não pode ser qualquer uma, deve ser qualificada. Trabalhamos por um mundo em que as pessoas se respeitem. Esse é o trabalho do Cevam", encerra.