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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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‘O Conde’ trata Pinochet como merece

| 04.10.23 - 08:00 ‘O Conde’ trata Pinochet como merece (Foto: Netflix)O título desta coluna foi intencionalmente ambíguo. O que merece a memória de Augusto Pinochet, antigo ditador do Chile? O escárnio, claro. A comédia de terror O Conde, disponível na Netflix, vilipendia o cadáver do ditador de forma primorosa e nem um pouco sutil ao reimaginar o facínora notoriamente simpatizante do nazismo e rocambolescamente corrupto como aquilo que para muitos ele sempre foi: um vampiro sanguinário.
 
A trama principal, parte mais fraca do filme, que manda bem na crítica ferina, mas peca horrores na dramaturgia, gira ao redor dos filhos humanos do ditador, que o visitam em sua casa de campo caindo aos pedaços para executar um plano mirabolante para, enfim, despachá-lo para o inferno para que possam botar as mãos na sua herança.
 
Como mencionado, essa parte é fraca. A parte interessante é o teor de realismo fantástico levado ao extremo do monstro Pinochet como um monstro de verdade, tudo isso metodicamente contado por uma narradora que faz sua aparição surpresa no terceiro ato (é que é incrível, sem dúvida uma das melhores escolhas e alfinetadas da trama).
 
Porque Pinochet em O Conde não é apenas um vampiro: ele é um péssimo vampiro. Nesta história, o generalíssimo chega e se mantém no poder ao longo do tempo não por ser imortal, sagaz e poderoso, mas por ser sempre covarde e rasteiro, traindo sem pudores seus aliados. Além disso, é um elitista reacionário ao extremo, ao ponto de manter no porão de sua casa a cabeça decepada de Maria Antonieta conservada em formol.
 
Como disse, não é sutil, mas é hilário: o Pinochet vampiro odeia tanto os pobres que faz de tudo para só beber o sangue da burguesia ou dos aristocratas. De toda sua vida de séculos, o único arrependimento do monstro é ter sido descoberto em praça pública como ladrão, desviando milhões dos cofres públicos para contas pessoais estrangeiras. Os mais de 3 mil mortos e dezenas de milhares de desaparecidos não o incomodam nem um pouco.
 
No filme, o encontramos tão decadente, frágil e débil quanto a casa caindo aos pedaços em que habita, mas ainda assim, muito como no Chile de hoje, ele assombra e arrasta correntes, completamente iludido com por um passado falsamente glorioso e, acima de tudo, coberto de sangue.

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