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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
(Foto: divulgação)Estreou na semana passada na Netflix a aguardada nova adaptação de Avatar: A Lenda de Aang. Não, não é aquele filme do James Cameron, e sim o influente desenho animado original da Nickelodeon com o menininho com uma seta na testa. Avatar é facilmente a animação ocidental mais influente dos últimos 20 anos, rendendo uma série continuação (A Lenda de Korra) e uma nova sequência que já está em produção, além de quadrinhos e outros spin-offs.
A trama se passa em um mundo de fantasia inspirado nas culturas da China e do sudeste asiático em que poderosos “dobradores” podem manipular um de cada elemento, representado em seus países: a Nação do Fogo, as Tribos da Água, o Reino da Terra e os Nômades do Ar. Em toda geração, o Avatar, o único que pode manipular os quatro elementos, reencarna. Tudo muda quando a Nação do Fogo decide iniciar uma guerra de domínio global e eliminar o Avatar, neste caso o pequeno Aang dos Nômades do Ar, apenas uma criança.
Aang acaba preso no gelo ao estilo Capitão América, despertando apenas 100 anos depois: a guerra continua, os nômades do ar foram exterminados e o mundo precisa do Avatar mais do que nunca. Em seu caminho ele precisará aprender sobre justiça e compaixão para poder salvar a todos.
Não é à toa que uma nova versão em live-action seja um desejo antigo dos executivos, o que resultou em um filme desastroso em 2010 (O Último Mestre do Ar, de M. Night Shyamalan). Agora foi a vez da Netflix de tentar a sorte, prometendo ter aprendido com os erros da tentativa anterior, com Avatar: O Último Mestre do Ar. O resultado é complicado.
Esta nova encarnação de Avatar tem oito episódios longos na sua primeira temporada e segue mais ou menos de forma fiel todos os pontos críticos da primeira temporada do desenho animado. A série é belíssima, muito bem-feita e o elenco é excelente, principalmente na escolha da Dallas Liu como o Príncipe Zuko e de Paul Sun Hyung Lee como o General Iroh.
O seu problema, porém, está em seu tom, estética e execução. Como você deve ter percebido na sinopse que escrevi acima, Avatar é um conto de fadas: uma história atemporal para todas as idades, mas feito especialmente para crianças. O ponto mais forte do desenho original foi não subestimar o público infantil, encontrando formas narrativas inteligentes de introduzir temas complexos para crianças, problemas espinhosos como sexismo, imperialismo e genocídio, com uma importante mensagem sobre esforço coletivo, solidariedade, aprendizado e justiça.
A série da Netflix, porém, talvez mirando no público do desenho que agora é adulto, fez uma série muito mais sombria e séria. Por si só, isso não é um problema, mas naturalmente afasta o público infantil: vale mais a pena apresentar o desenho para o seu pequeno do que esta nova versão. Nem é por ser pesado, mas certamente qualquer criança vai achar tudo muito chato: os episódios escuros, tristes e intermináveis se afastam muito do ritmo frenético colorido e lúdico de um desenho matutino de 20 minutos.
Porém, por ser um conto de fadas com uma mitologia, cenário e acontecimentos relativamente superficiais e acessíveis, a série também aliena o público adulto: apesar do foco em drama, a narrativa não é Game of Thrones, não é um emaranhado de complexidade. Assim, para os desinformados, o seriado pode parecer bobo demais, exatamente por tentar ser tão sério.
Há também um problema de ritmo e de conflito com as mensagens do desenho original, aclamado por sua perspectiva anticolonialista. Essa perspectiva política, que é a espinha dorsal da fábula original, parece silenciada nessa adaptação, pior ainda: revisionista, buscando uma posição mais chapa branca para não correr o risco de desagradar ninguém e, pior ainda, talvez até individualista na sua perspectiva.
Dos seus oito episódios, os quatro primeiros são os piores: lentos, arrastados, chatos e rasos. Sua segunda metade é mais forte: o arco de Aang e de Zuko se desenvolve mais, com flashbacks e interações que finalmente envolvem e engajam a audiência.
Enfim, não é uma série ruim, mas também não é sólida: as rachaduras são grandes e visíveis. Para todos os efeitos, vale ser assistida por fãs do original para que tirem suas próprias conclusões. Para novatos, porém, é uma perda de tempo: seja para você ou para o seu filho, vale mais a pena ver o desenho original, também disponível na Netflix, que se tornou um clássico por um motivo.