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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Marleyda Soto, Domithila Cattete e Lucas Galvino na minissérie 'Pssica', da Netflix (Foto: divulgação)Estreou em agosto sem alarde a minissérie brasileira Pssica, na Netflix, dirigida por Quico e Fernando Meirelles e produzida pela O2 Filmes. Desde então, aos poucos, só pelo burburinho, os quatro episódios baseados no romance de Edyr Augusto escalaram o top 10 do streaming, atingindo a primeira posição no Brasil e a segunda posição entre as séries de língua não inglesa globalmente, entrando na lista de mais assistidas de 68 países e acumulando 8,8 milhões de visualizações.
Este sucesso reflete algumas coisas: a qualidade literária do material original de Augusto e do roteiro de Bráulio Mantovani (indicado ao Oscar por Cidade de Deus); a força do audiovisual brasileiro no cenário global; e a relevância que narrativas nacionais fora do eixo Rio-SP têm, mostrando um Brasil devidamente mais rico e diverso.
Mas afinal, do que se trata Pssica? A minissérie se aproxima de um drama policial casca-grossa ao abordar o tema da exploração sexual e tráfico de mulheres. O enredo principal acompanha Janalice, uma jovem adolescente que, após uma briga familiar, acaba sequestrada e prostituída por criminosos. A trama acompanha suas desventuras e tentativas de fuga assim como a investigação do ex-policial e amigo da família Amadeu; o bandido hesitante Preá, no coração do esquema; e a missão de vingança de Mariangel, uma ex-guerrilheira colombiana que pega novamente em armas após ter sua família assassinada pelo bando de Preá.
São quatro episódios de tirar o fôlego que transpiram regionalismo em suas cores, cenas e sotaques enriquecidos por uma paleta de cores meio neon surrealista e uma trilha sonora que bebe fundo do tecnobrega e dos sons paraenses. É uma história bem-feita, bem escrita, envolvente e encharcada de identidade.
Os personagens e seus atores carregam a trama pesada nas costas com maestria: a jovem Domithila Cattete brilha como Janalice, segurando a onda mesmo nas cenas mais tensas. A personagem também é boa: longe de ser uma vítima, ela sempre resiste e luta contra os acontecimentos até finalmente se ver livre.
Além dela, quem rouba a cena inteiramente é Marleyda Soto como Mariangel. A atriz, que também dá vida à personagem Úrsula, em Cem Anos de Solidão, faz jus ao seu reconhecimento como um dos grandes nomes da Colômbia em atividade. Ela consegue conferir delicadeza e maternidade à personagem ao mesmo tempo em que precisa ser uma guerreira dura e calculista.
Se fosse apontar um ponto fraco, seria Lucas Galvino como Preá: o ator parece ser o único limitado a um nível Malhação de atuação, mas também parece confinado a um papel que tem cara de ter sido reduzido. Ao lado de Janalice e Mariangel, seu personagem é raso e antipático, o que quase te faz questionar porque diabos ele possui um espaço como protagonista.
Mesmo assim, o resultado é uma narrativa que envolve e conquista de cabo a rabo e que possui um desfecho 100% satisfatório e que vale a pena a ser assistida.