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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Os irmãos Shira, Yoshi e Avi (Imagem: divulgação)O criador da sensacional Bojack Horseman, Raphael Bob-Waksberg, está de volta com uma nova série de animação original na Netflix. Long Story Short, também com arte de Lisa Hanawalt, é contada fora de ordem, em vários períodos diferentes, conforme acompanha os casos da família Schwooper, ao longo de mais de uma geração: os pais, os filhos e os netos, com histórias que vão de 1959 a 2022.
A comédia, enredada pela melancolia e pelo drama familiar rotineiro, tira vantagem da familiaridade quase estereotípica de algumas casas por todo o mundo, como da mãe superprotetora, ao mesmo tempo em que traz características únicas e específicas o suficiente para nos envolvermos com as peculiaridades de cada Schwooper.
O tempo, a inconstância e as mudanças da vida são o tema central. Nossos personagens permanecem os mesmos, com suas qualidades e defeitos, mas estão sempre em pontos diferentes a cada década, lidando com questões diferentes, difíceis e ordinárias: um divórcio, o luto de um familiar querido, um coração partido adolescente.
A impermanência é abraçada com naturalidade de uma maneira rara em qualquer tipo de narrativa: ter um roteiro geralmente dá a uma história e seus personagens algum grau de controle, muito diferente da vida real. Em Long Story Short, a transição constante entre pessoas e décadas nos confere uma perspectiva reconfortante dos fatos que nos parece impossível ao contemplar nossas próprias vidas.
Outra diferença em relação a quase todas as sitcoms animadas nesse formato (Os Simpsons, O Rei do Pedaço, Uma Família da Pesada) é esta liberdade do agora: um mesmo episódio pode explorar, tematicamente, um mesmo sentimento ou acontecimento por vários anos.
Além disso, essa é a primeira série que vi até agora que teve coragem de admitir que a pandemia de covid-19 aconteceu. Por ser um trauma recente, a pandemia é praticamente ignorada em tudo que tem sido produzido ou, se não, apenas mencionada. Em Long Story Short, ela ganha a importância merecida de um evento catastrófico e traumático global, que impactou a vida de literalmente todo mundo: há perda, há confusão, há aulas remotas que não funcionam e gente fazendo pão.
Enfim, Bob-Waksberg se revela novamente um roteirista brilhante. Se em Bojack Horseman seu olhar afiado e suas críticas sagazes pesavam sobre a indústria cultural e o mundo das celebridades, esse mesmo olhar recai agora sobre o banal, sobre gente comum, e continua igualmente certeiro. E assim como Bojack, o programa é hilário, com sacadas incríveis e piadas visuais maravilhosas, enquanto ainda continua irremediavelmente melancólico.