Jales Naves
Especial para AR
Goiânia - Já no prefácio o autor chama a atenção do leitor para a palavra tradição, “desgastada por ser tão usada em Minas Gerais”. Explica que tudo em Minas é tradição, “mesmo não sendo”. Acrescenta: substantivo feminino de continuidade ou permanência de uma doutrina, de uma visão de mundo, de costumes e valores de um grupo social ou mesmo de uma escola de pensamento. E justifica: “tradição, palavra que pode ser aplicada de forma justa e honesta quando nos referimos à Escola de Minas de Ouro Preto – EMOP, como era chamada quando nasceu”.
Em outros tempos mudou o nome para Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto – EMMOP, durante uma época esteve ligada à Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro, até 1959 e, hoje, é conhecida como Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, que foi integrada, com a Escola de Farmácia, ao sistema de Universidades Federais, em 1969.
A belíssima obra que Uoster Zielinski produziu, “Escola de Minas de Ouro Preto – Livro do Sesquicentenário”, que acaba de ser lançada, é um documento precioso, para colecionadores. O livro se destaca no formato, no texto esmerado, no conteúdo e na preocupação em reafirmar o sentido do termo, frequentemente criticado politicamente por ser associado a ideias de conservadorismo. Publicado pela Editora Miguilim, celebrou os 150 anos de existência da Escola de Gorceix, fundada em 1876, e retrata sua história e seus legados.
Natural de Farroupilha, RS, e depois de décadas morando em Belo Horizonte, Uoster Zielinski se sente “um verdadeiro mineiro”, assim como Gorceix foi afetuosamente considerado por Dom Pedro II. Graduado em Desenho e Pintura pela Escola de Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais, publicou pela Miguilim a biografia do fundador da Escola de Minas, o normalista Claude-Henri Gorceix, em 2023, e o livro infantil “Se o Jorge fosse um porco, ele seria bonito”, também nesse ano. Ele prepara ainda a publicação da biografia do agrônomo igualmente de origem francesa, Raoul de Caux, que trabalhou com Gorceix durante a implantação do Instituto Agrícola de Itabira em 1896, que será lançado no próximo ano. Uoster desenvolve projetos de comunicação junto à comunidade Emopiana desde 2003.
Recheado por 715 fotos e ilustrações, no livro o leitor vai conhecer a história de como Gorceix fundou a Escola de Minas de Ouro Preto a convite de Dom Pedro II. As várias conquistas e reconhecimento da Escola de Minas no Brasil e no mundo. A decisão da direção da Escola em permanecer em Ouro Preto depois que a capital do Estado foi transferida para Belo Horizonte, e seu desenvolvimento acadêmico após ocupar o antigo Palácio dos Governadores em Ouro Preto. Sua integração ao sistema de Universidades Federais; as entidades correlatas que circundam a instituição, como as famosas repúblicas estudantis de Ouro Preto, seus museus, sua atualidade e os homens que fizeram a Escola ter fama internacional, entre outros assuntos.
Momento único
A Escola de Minas da UFOP, ao comemorar seus 150 anos de fundação, em 2026, vive um momento único, como ressaltou o diretor, professor José Alberto Naves Cocota Júnior, que “nos permite vislumbrar a sua trajetória em perspectivas, visando planejar os rumos que irá tomar para continuar a sua história”. Outra oportunidade como esta, só daqui a 50 anos, quando estará ainda ativa, relevante e em plena glória, mantendo viva a tradição iniciada por seu fundador. A expectativa é que seus futuros dirigentes a mantenham “significativa e pertinente para a educação, pesquisa, ciência e desenvolvimento tecnológico”, afirmou.

No ano do sesquicentenário da Escola, a Associação dos Antigos Alunos comemora 84 anos, mantendo ativa a missão de valorizar e apoiar os alumni da instituição. “Procuramos manter laços estreitos entre a Escola de Minas e seus diplomados, em defesa dos interesses de toda a comunidade, sem jamais deixar de lado as tradições. Estimulamos, acima de tudo, um ambiente de fraternidade, de espírito sadio e de cooperação mútua entre antigos e atuais alunos”, afirmou José Luís Amarante, presidente da A3EM. “São valores que aprendemos principalmente durante o nosso convívio estudantil, onde não éramos apenas colegas, mas sim abraçamos uma relação de irmandade para toda a vida. Nossa rede de relacionamento, nos moldes de algumas associações alumni estadunidenses e europeias, é única entre as universidades brasileiras. O que nos diferencia é o que nos aproxima; o que nos aproxima é o que nos deixa mais fortes”.