Ludymila Siqueira
Goiânia - As ações das estatais despencaram após o resultado do 2º turno das eleições presidenciais, com vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) no domingo (30/10). Só a Petrobras (PETR4) registrou queda de 0,067% às 13h19 desta quinta-feira (3/11), com ações cotadas a R$ 29,84. O cenário, no entanto, já aponta sinais de melhora após o anúncio de que Geraldo Alckmin (PSB), eleito vice-presidente da República, será o responsável por coordenar a transição do governo. A análise é do economista Eurípedes Júnior.
Em entrevista ao jornal A Redação, Eurípedes Júnior, que também é professor universitário, explicou que a reação do mercado em relação ao resultado da eleição não é surpresa. Isso porque, segundo ele, o governo de Bolsonaro é mais "pró-mercado". "Administrar empresas públicas não é forte do PT, que sempre as utilizou como instrumento político. Apesar das minhas ressalvas com o atual governo, não podemos desmerecer a gestão profissional que as estatais tiveram, principalmente a Petrobras, Eletrobras e o Banco do Brasil. Essas empresas vêm sendo tocadas por executivos de mercado e que, agora, devem passar a ser tocadas por políticos ou seus conchavos, o que pode prejudicar a rentabilidade, eficiência, etc. Então essas devem sofrer mais", analisou.
Economista Eurípedes Júnior (Foto: divulgação)
"Ainda está muito cedo para avaliar todo o cenário, bem como com o que os investidores devem se preocupar agora. Qualquer preocupação ou decisão é precipitada. Precisamos ver os próximos movimentos para termos mais clareza sobre nosso futuro", descreveu. O economista ainda ressaltou que "um dos pontos que mais têm tranquilizado o mercado está ligado ao Congresso Nacional, que tem um perfil mais de direita".
Impactos no agronegócio em Goiás
De acordo com o analista de mercado da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro, ainda se sabe muito pouco sobre os efetivos planos do governo eleito para o setor. Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, o profissional ressaltou que o plano de governo escrito ainda "é vago" no que diz respeito a pesquisas e sustentabilidade, por exemplo.
"Acredito que não teremos grandes mudanças no mercado do agronegócio. Isso porque o setor é sólido e atrai muito o comércio exterior, em razão da competitividade e qualidade dos produtos. Tivemos uma pauta de abertura de novos mercados ao longo do governo Bolsonaro e deve continuar com este novo governo. Além disso, os nomes cogitados aos ministérios ligados ao agro são conhecidos pelo setor. Então, no meu ponto de vista, acredito que em termos de políticas governamentais não há grandes mudanças no radar. É claro que a vigilância é importante. De fato, o resultado das eleições não era a preferência do setor", destacou.
Em Goiás, entidades ligadas ao agronegócio declararam apoio à reeleição de Bolsonaro, que teve no Estado 58,71% dos votos, ante a 41,29% de Lula. Para o analista, existiu um forte apoio ao atual presidente, mas muito mais em relação a questões ideológicas do que em vantagem econômica voltadas ao setor. Segundo Palavro, em outros governos existiam subsídios maiores em agricultura empresarial, principalmente relacionados a taxas de juros. Já durante o governo Bolsonaro, conforme pontua, os maiores aumentos no termo de crédito e redução de juros foram dados à agricultura familiar e à agricultura média.
"Agora, com o novo governo, cabe diálogo. As entidades do agro devem fazer essa transição, conversando com novos representantes para que o setor siga exercendo seu trabalho e obtendo bons resultados ao País. A vitória de Lula descontenta grande parte do setor, mas, como empresários e cidadãos, sabem que as coisas funcionam dentro de uma democracia, e a negociação com o novo governo será um fato daqui em diante", pontuou.
Dentre as maiores preocupações do agronegócio estão as garantias e seguranças jurídicas voltadas ao setor, como o livre mercado e a propriedade privada. Esse alarme, segundo o especialista, se dá em razão do discurso de Lula, que tem se mostrado de forma negativa frente aos representantes do setor. Palavro afirmou ao AR que "não serão necessários grandes movimentos do governo para manter a competitividade do mercado, basta apenas não atrapalhar, já que o setor entrega um bom resultado não só ao Estado, mas ao País".