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Transformação

Sociedade vive aceleração digital imposta pela pandemia, dizem especialistas

Relações digitais devem ser aprofundadas | 09.08.20 - 08:02 Sociedade vive aceleração digital imposta pela pandemia, dizem especialistas Foto: DivulgaçãoCarolina Pessoni
 
Goiânia
- Com a pandemia do novo coronavírus, foi preciso adaptar o cotidiano às medidas de distanciamento social impostas para segurança. Home office, reuniões de trabalho por videochamada, projetos salvos na nuvem... Tudo isso passou a fazer parte da rotina de empresas. Especialistas afirmam que a covid-19 foi um acelerador da digitalização das relações e forçou o trabalho remoto, ao fazer com que as empresas passassem a adotar essas medidas como forma de não pararem suas atividades.
 
O professor do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás (UFG) Iwens Sene Junior afirma que aconteceram outras grandes revoluções tecnológicas no passado, mas a revolução digital nesta pandemia é sem precedentes e a maior em escalabilidade, velocidade, escopo e abrangência. "Infelizmente, em momentos de crise existe um crescimento tecnológico natural muito rápido. As empresas terão que se adaptar a um novo ambiente, e rapidamente. Aqueles que incorporam mudanças em seu DNA continuarão tendo sucesso", afirma.
 
Para ele, tentar controlar e gerenciar os efeitos da pandemia é algo que está colocando empresas, escolas, políticos e pessoas domésticas a se adaptarem ao caos, e que trabalhar em casa nunca foi testado com tanta robustez como agora. "Muitas organizações se adaptaram com sucesso, pois o trabalho remoto mudou para uma necessidade absoluta, mas outras estão se saindo menos bem e isso representa um grande problema para elas", destaca Iwens.
 
Essa visão é compartilhada pelo professor Leonardo Antônio Alves, que é mestre em Engenharia Elétrica e de Computação e vice-coordenador do curso de Engenharia de Software da UFG. Ele ressalta que houve um grande salto em várias áreas, com aberturas que nem imaginávamos que iria ocorrer. "Posso citar, por exemplo, a telemedicina, que nunca tinha sido possibilitada e hoje já é uma realidade na vida das pessoas. Também o crescimento de compras on-line. Muitos que tinham receio ou até medo de utilizar já testaram de forma forçada e aderiram a essa modalidade de consumo ou pelo menos aos aplicativos de delivery", explica.
 
O professor diz ainda que, historicamente, a humanidade tem seus saltos e revoluções em períodos de guerra ou de grande pressão, que é exatamente o que estamos passando agora. "Nesse momento, o grande envolvimento digital das pessoas e uma maior presença digital de todos com certeza fará saltar alguns degraus no uso de tecnologia e forçará um aprimoramento tecnológico também. Se não for a revolução em si, será um estopim para ela", ressalta Leonardo.
 
As tecnologias utilizadas agora, entretanto, não são exatamente novas. Algumas foram aceleradas e aprimoradas, principalmente pelas mudanças de comportamento e geográfica com que as pessoas se encontram. "Essas ferramentas, em sua maioria, já estão conosco há algum tempo. O que ocorreu foi que o impulsionamento de seu uso de forma maciça fez com que elas pudessem ser realmente validadas", explica o professor Leonardo.
 
Para o co-fundador do Instituto Gyntec Academy, Marcos Bernardo (ao lado), as pessoas usavam o mínimo que essas ferramentas já ofereciam, muitas vezes por resistência para capacitação, e a pandemia fez com que as empresas ficassem mais abertas por conta da necessidade urgente. "Podemos falar que estamos na era da educação 4.0, com um ambiente digital que se funde com o tradicional. A transformação digital que ocorreria em quatro anos vai acontecer em menos de dois, e as empresas que não se prepararem vão ficar para trás", afirma.
 
Segundo uma pesquisa do Instituto Gyntec, 42% das organizações ainda estão no modelo analógico, sem sites ou redes sociais. Marcos explica que essas empresas terão mais problemas, já que precisarão se adaptar rapidamente à interatividade com seu consumidor e ao marketing de conteúdo, por exemplo. "Percebemos uma abertura. Muitas empresas estão terceirizando essa digitalização por meio de contratação de start ups para fazer essa adaptação. Será preciso desenvolver pessoas ou contratar consultorias para se encaixar nessa nova realidade", diz.
 
Marcos ressalta, entretanto, que Goiás é um estado muito conservador e tradicional, que precisa ainda investir em inovação para crescer. “Estamos vivendo uma transição de geração, a 4ª Revolução Industrial. Quem não se adaptar vai sumir, sem histórico, sem autoridade, sem reputação”, diz. Ele explica que em nosso estado a demanda maior é de start ups de atendimento, agronegócios, logística e automatização de equipes de vendas. “Além disso, o instituto ainda oferece cursos, como de e-commerce e marketing digital, que inclusive tiveram 50% de aumento na procura”, ressalta.
 
Adaptação na prática
Na seguradora em que Djalma Alves Monteiro atua como diretor técnico, as estações de trabalho foram transferidas para as casas dos colaboradores já na primeira semana após o decreto governamental de calamidade pública. Todas as funções antes disponíveis na sede da empresa passaram a estar à disposição nas residências. "O uso da tecnologia de ponta nos ajudou. Sistemas, comunicação - incluindo os ramais de telefonia, impressão, digitalização, enfim, todos os recursos necessários para a continuidade da rotina de trabalho de nossos colaboradores foram disponibilizados em uma semana".


A seguradora na qual Djalma Alves Monteiro é diretor técnico transferiu as estações de trabalho para a casa dos colaboradores (Foto: Divulgação)
 
Devido à pandemia, o grupo foi forçado a colocar toda equipe, inclusive os analistas de contratos, em trabalho home office. Como o grupo trabalha com grande volume de documentos físicos, a logística para distribuí-los em vários endereços tornou o processo de análise física inviável. A solução do problema veio através do uso da tecnologia. "Em duas semanas nossa equipe de tecnologia implementou um processo de captura de documentos, análise e aprovação totalmente digital. Com a nova estratégia, nossa empresa ganhou agilidade e escalabilidade. Hoje processamos mais documentos, com melhor qualidade e em menos tempo", destaca.
 
O gerente de marketing de incorporadora Ademar Moura (ao lado) afirma que a pandemia trouxe a percepção de que todos os investimentos que a empresa já realizava no digital faziam muito sentido para a nova realidade que o mundo já estava caminhando e que acabou se acelerando. "Cada vez mais os clientes resolveram buscar informações, ter algum tipo de experiência digital antes de irem para o físico. Conseguimos apresentar todos os produtos de forma digital, como o tour virtual pelo decorado, tour pela localização do empreendimento, fazemos vídeos de produtos, desenvolvemos todas as ferramentas para que o cliente tenha essa sensação de realmente estar visitando, de fato, o empreendimento. Já estávamos preparados para as assinaturas dos contratos também acontecerem de forma digital, o que implementamos agora", explica.

Além disso, em meio à pandemia, a empresa fez uma nova adequação e promoveu um live meeting, reunindo mais de 500 corretores para lançar o novo empreendimento da incorporadora.
 
Do ponto de vista tecnológico, Ademar ressalta que passaram a usar mais as plataformas de conferência para fazer reuniões e diminuíram consideravelmente os encontros presenciais. "Começamos a utilizar outras redes sociais como ferramenta de levar informação e conteúdo para corretores e clientes, além dos hábitos de higiene e limpeza que foram modificados e intensificados pela nova necessidade", diz.
 
Djalma e Ademar ressaltam as adaptações como mudanças positivas. Os dois gestores analisam que houve um aumento da produtividade dos processos, com maior eficiência no trabalho. "O uso adequado da tecnologia é um grande aliado. O rápido restabelecimento do fluxo operacional da nossa empresa foi possível com o emprego de alta tecnologia, conduzido pelas estratégias idealizadas com esforço e dedicação das pessoas", diz Djalma. Segundo ele, os novos processos continuarão na rotina da seguradora, mesmo após o fim da pandemia. "A extraordinária dedicação e determinação da equipe para superar os desafios e manter a continuidade dos negócios é um ativo que precisa ser valorizado. Vamos prosseguir com os novos processos, aprimorando sempre que necessário", destaca.
 
"O ponto positivo é que a gente ganha mais eficiência, tempo, estamos mais inteirados e com mais informação", afirma Ademar Moura. Para o diretor de marketing, a perda é nas relações humanas. "Para mim, o lado negativo é mais pelo ponto de vista humano, porque acabamos perdendo um pouco dos laços, a proximidade. Pode ser que voltemos aos hábitos antigos, mas também pode ser que a gente se adapte a essa nova postura", diz.
 
Realidade veio para ficar
"Vivemos novos hábitos de consumo. As soluções que chegaram vão manter o sentido", é o que diz o diretor de Marketing do jornal A Redação, que é especializado em comunicação coorporativa, Sérgio Paiva. Para ele, as grandes companhias mudaram o foco nas suas missões e em poucos meses se posicionaram de uma nova forma. Muitas tecnologias que apareceram agora, avalia, já estão incorporadas pra sempre porque mudou a maneira como o consumidor tem feito o seu relacionamento com as marcas.
 
"Tivemos um pico de consumo de serviços digitais, mas quando tudo estiver mais controlado e seguro, muitas pessoas vão querer voltar aos formatos tradicionais. Entretanto, outras mudanças vieram para ficar, como o trabalho remoto. Muitas empresas estão revendo a sua necessidade de oferecer uma estrutura completa e cara para colaboradores, sendo que podem pegar esse investimento e repassá-lo para tecnologia e soluções mais assertivas na nossa realidade", ressalta Sérgio.
 
Cada segmento de mercado trouxe soluções muito sofisticadas e elaboradas. Para o diretor de marketing, algumas tecnologias já estavam sendo desenvolvidas, mas elas podem ficar ainda melhores se houver boas ferramentas para que esse serviço seja bem feito. "Agora, a gente precisa de estrutura, internet funcionando melhor, 5G, internet das coisas. Se conseguirmos juntar tudo isso, teremos ferramentas ainda mais poderosas", afirma.
 
Sérgio diz ainda que a maneira como as empresas passaram a ver seus produtos e serviços foram revistos. Todas as cadeias produtivas precisam estar conectadas e todo mundo está fazendo isso agora. "A pandemia causou uma disrupção na realidade que a gente está vivendo. Toda realidade de negócios e a dicotomia entre o digital e o físico não volta mais. É uma nova realidade que pode trazer mais qualidade de vida, mais serviços adequados, mais produtos que sejam assertivos para o consumidor final", projeta.
 
(Foto: Divulgação)


Essa opinião é compartilhada pelo professor Iwens Sene Junior. Para ele, a pandemia mostrou de forma clara que a banda larga é uma solução que suporta a utilização nesse período com tantas aulas, filmes e reuniões acontecendo ao mesmo tempo. "A crise do coronavírus nos oferece uma oportunidade para repensar a maneira como estruturamos nossas sociedades e economias. Afinal, quantas reuniões físicas você realmente precisa quando a conectividade digital é acessível e confiável? O deslocamento de milhões de trabalhadores entrando em seus escritórios poderia ser evitado proporcionando uma melhora na produtividade e um meio ambiente mais saudável, que é o melhor acréscimo direto que a pandemia nos proporcionou", reflete.
 
Marcos Bernardo corrobora o posicionamento e afirma que quem quiser continuar no mesmo modelo de negócios vai ter dificuldade. “É um novo mundo, uma nova economia. Todos precisam se adaptar à nova realidade. Não adianta esperar por um normal que não vai mais voltar. É preciso implantar a mudança de processos e isso vai do empresário para o colaborador na construção dessa nova cultura organizacional”, encerra.
 


Comentários

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  • 09.08.2020 08:18 RALPH RANGEL

    Excelente artigo, estamos vivendo a transformação digital há algum tempo, e com certeza a pandemia está acelerando o processo, ainda é cedo para afirmar se o processo está consolidado, de toda sorte senti falta da análise sobre o ponto de vista governamental, temos visto que a tecnologia tem sido utilizada neste setor para automatizar a burocracia e não para eliminá-la.

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