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Goiânia

Banda Marcial do Colégio ‘Pedro Gomes’ surgiu casualmente em 1965

Antes era uma simples fanfarra | 10.07.21 - 17:18 Banda Marcial do Colégio ‘Pedro Gomes’ surgiu casualmente em 1965 Eliete, Idelfonso, Armando e Marizete (acervo pessoal)Jales Naves
Especial para o jornal A Redação
 
Goiânia – A Banda Marcial do Colégio Estadual ‘Professor Pedro Gomes’, que revolucionou a participação das instituições de ensino de Goiás em desfiles e apresentações musicais, surgiu de forma casual, sem uma prévia discussão e definição e rapidamente ocupou espaço.
 
De início, ainda no Ginásio Estadual de Campinas, havia uma pequena fanfarra, com reduzidos equipamentos, como lembra o estudante Thales Bassalos Oliveira, com 13 anos em 1959: eram um bumbo, dois taróis, uma trombeta, duas cornetas, uma tuba e um triângulo; posteriormente foi ampliando esse quadro de instrumentos. O uniforme, igualmente, a destacava: calça preta com blusa vermelha e jaqueta com o cavalo alado da mitologia grega, Pegasus, cujo desenho foi feito pelo professor Antônio Henrique Péclat, dando um bonito visual ao conjunto, contrastando com o pessoal do Colégio Estadual de Goiânia, o eterno rival, cujo uniforme era branco.
 
Essa turma do Liceu, como se recorda, chamava o 'Pedro Gomes' de filial, chacrinha etc. Os desfiles eram na Av. Tocantins, em direção ao Palácio das Esmeraldas, em duas grandes comemorações: Dia da Independência, em 7 de setembro, e no aniversário da cidade, em 24 de outubro.


Armando e a baliza Leila Acioli (Foto do álbum de família)
 
 
A maior rivalidade era da fanfarra do ‘Pedro Gomes’ com a do Liceu de Goiânia. “O nosso símbolo era o Pegasus e o deles a Águia. Nós dizíamos que o ‘cavalo alado’ iria esmagá-la”, como relatou o estudante Carlos Roberto Braga do Carmo. “A nossa fanfarra contava com mais participantes, cuja inovação eram os bumbos na frente, com diversas coreografias, comandados por Lico, Arismar e Armando da Silva Guardiano”.
 
Transformação
 
A mudança começou em 1965, quando o paulista de Monte Alto, Armando Vieira dos Santos, que se formara em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo – época em que integrou a fanfarra do Liceu Coração de Jesus, na capital paulista –, passara em concurso público do Ministério da Educação e veio para Goiânia participar da implantação da Universidade Federal de Goiás, criada cinco anos antes e que era composta por cinco faculdades e institutos.
 
Um dia, conversando com um colega nesse trabalho na UFG, que era aluno do ‘Pedro Gomes’, falou de seu entusiasmo pela música, que vinha de seu pai, Sílvio Vieira dos Santos, que era violinista e muito ligado a grupos musicais. Essa informação chegou à professora Lígia Maria Coelho Rebelo, que era a diretora do Colégio e, sempre atenta a novidades que ampliassem o nome da escola, procurou-o para convidá-lo a lecionar nesse educandário. Como fazia sempre que descobria uma pessoa que se destacava numa área e ela o levava para integrar o quadro docente, o que resultou na grande projeção da escola quanto à qualidade do ensino.


Teresa Hezim, que abria os desfiles (Foto do álbum de família)
 
Já casado com Iraci Hamu – goiana de Formosa, cuja família se mudou para Monte Alto, quando o tio dela, Salomão, entrou como sócio numa fábrica da cidade, Crai, onde os dois se conheceram – e residindo no Setor Sul, em casa vizinha da professora Maria Helena Rebello Guimarães, filha de dona Lígia, ele impôs uma condição à ilustre visitante que recebeu, lançando um desafio a ela, achando que não conseguiria resolver:
 
– Só vou por uma boa remuneração”, disse, brincando.
 
– Tudo bem”, ela respondeu.
 
Passados uns dias, dona Lígia o surpreendeu em casa, numa nova visita, só que agora levando um contrato para ele assinar, como professor do ensino secundário, para lecionar Música no ‘Pedro Gomes’.
 
A partir daí teve início um trabalho que superou todas as expectativas.
 
Banda Marcial
 
O Colégio Estadual ‘Professor Pedro Gomes’, que já se destacava nas mais diversas atividades, tinha uma pequena fanfarra, formado por surdos, cornetas e bumbos, instrumentos que permitiam apenas dar ritmo ao desfile escolar, e era coordenada pelo inspetor de alunos Armando da Silva Guardiano.
 
O novo professor assumiu sua cadeira, passou a dar aulas e, nos momentos de folga, expressava seu entusiasmo pela música e a vontade de investir na estruturação de um novo grupo musical, para dar maior brilho às apresentações do Colégio, quando a ideia da Banda Marcial começou a ser germinada.
 
As aulas de Música chamaram a atenção dos alunos e logo o grupo foi se ampliando, cada um se revelando num equipamento, e Armando Vieira acabou assumindo, informalmente, a função de instrutor da banda. Orientava os interessados, explicava a função da cada peça e logo conseguiu, com a direção do colégio, adquirir 20 bumbos fuzileiros, que formaram a frente, 10 surdos médios e cinco surdos indianos, além de cornetas si bemol e fá.
 

Armando Vieira dos Santos, em 2021 (Foto do álbum de família)
 
Reuniu o pessoal e distribuiu cada instrumento para a pessoa que demonstrou maior aptidão e saberia extrair o melhor som durante as suas apresentações. Criou uma novidade: seis mulheres tocando flautinhas, as charmosas flautas doces. Outra inovação, a presença da baliza Leila Acioli, e ainda a comissão de frente, com seis integrantes. O desfile era sempre liderado pela estudante Teresa Hezim, elegante e esbelta, a única de farda vermelha e preto, com luvas brancas, e que também participava da Banda Marcial, tocando lira.
 
Nas primeiras exibições, a vibração de quem pôde acompanhar os ensaios e a evolução, pelo entorno do colégio, daqueles alunos que, de repente, haviam se tornado músicos. Saiam da av. Sergipe, sede da escola, e seguiam pela rua Benjamin Constant até a av. 24 de Outubro, indo por essa via até a rua José Hermano, passavam pela praça da Matriz e retornavam pela av. Sergipe até o colégio.
 
Em pouco tempo a Banda Marcial estava completa: 145 integrantes, afiados, dando o melhor de si na execução de suas marchas, e a conquista de admiradores por onda passava, de forma elegante e firme, numa cadência militar que encantava a todos em seu percurso.
 
Primeira grande conquista
 
Em outubro de 1965, no aniversário de Goiânia, a primeira grande exibição: uma semana antes do dia 24, o concurso para escolher a melhor banda da cidade colocou em disputa cinco instituições públicas de ensino – Colégio Estadual de Goiânia, Escola Técnica Federal de Goiás, Instituto de Educação de Goiás, Colégio Estadual de Catalão e o Colégio Estadual de Campinas –, e o Ateneu Dom Bosco. Diante das apresentações, com as torcidas organizadas com suas bandeirolas e o público, que prestigiou o evento, o primeiro lugar coube justamente à Banda Marcial do Colégio Estadual ‘Prof. Pedro Gomes’, sob os aplausos gerais, em seu desfile pela Praça Cívica, toda tomada de populares.
 
Logo após essa primeira grande vitória, a Banda Marcial recebeu um convite especial e se engalanou para participar: uma apresentação exclusiva no tradicional Colégio Santa Clara, também no bairro de Campinas, que aceitava apenas mulheres em suas atividades. Era a primeira vez que um grupo musical, formado em sua maioria por homens, se exibiu no interior dessa escola, e foi um grande sucesso, diante da excelente aceitação das alunas.
 
A partir daí começaram a surgir convites de todos os lados, de Goiânia e do interior de Goiás, sempre fazendo muito sucesso nessas apresentações, com todos devidamente uniformizados. Uma das apresentações aconteceu no espaço em frente à Matriz de Campinas, cujas obras estavam em fase de conclusão, e os músicos puderam tocar seus instrumentos e serem muito aplaudidos.
 
Foram dois anos em que o Colégio ganhou destaque, fama e conquistou troféus nas disputas de que participou.
 
A mudança na direção da escola, em janeiro de 1966, fechou um ciclo nesse trabalho. Quando dona Lígia Rebelo deixou o cargo e o passou à vice-diretora, professora Maria da Conceição Paixão, começaram alguns atritos e no final daquele ano o professor Armando Vieira dos Santos deixou o comando da Banda Marcial – com um agravante: aceitou o convite para dirigir, idêntica iniciativa, no rival Colégio Estadual de Goiânia, onde teve mais apoio e ficou por 30 anos, até se aposentar, em meados dos anos 1990.

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