Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 14º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Levantamento

Pesquisa revela trajetórias de estudantes 60+ na UFG

Número de estudantes cresce na universidade | 10.10.25 - 12:32 Pesquisa revela trajetórias de estudantes 60+ na UFG Raimundo Alves foi entrevistada pelo Jornal UFG quando cursava Ciências Sociais (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)
A Redação 

Goiânia - 
Realizar sonhos interrompidos na juventude, continuar ativo mesmo após a aposentadoria e ainda buscar aperfeiçoamento profissional contínuo: muitas são as motivações que levam pessoas com mais de 60 anos de idade a iniciarem uma graduação. Este público, já muito distante da faixa etária considerada “esperada” nas universidades, que é entre 18 e 24 anos, tem aumentado sua presença nas instituições e mostram uma mudança social e cultural de nosso tempo. Uma pesquisa etnográfica realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) revela que estudantes com 60 anos ou mais estão ativamente redefinindo os significados da velhice, desafiando a ideia de que a universidade é um espaço exclusivo para jovens.
 
A pesquisa foi realizada durante o doutorado no Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFG, por Delson Ferreira, hoje com 68 anos, professor do Instituto Federal Goiano. Delson buscou explorar as experiências deste público em um local onde a juventude é, em peso, o maior foco. Os principais achados da tese de Delson Ferreira indicam que, por meio de seus próprios agenciamentos, esses estudantes constroem experiências universitárias bem-sucedidas, tanto em termos de aprendizado quanto de realização pessoal. Eles enfrentam esse ambiente acadêmico historicamente centrado na juventude, lidando com preconceitos como o etarismo, muitas vezes sintetizado na pergunta "O que você está fazendo aqui?".
 
O que a pesquisa mostra é que o preconceito não é suficiente para barrar o avanço destas pessoas na universidade. A pesquisa mostra uma nova perspectiva adotada por esses estudantes que, ao invés de se "desengajarem" socialmente — um papel tradicionalmente associado à aposentadoria e ao envelhecimento —, criam novos projetos e possibilidades para suas vidas. O que para muitas pessoas significa o fim de uma trajetória e um “dever cumprido”, torna-se para estas pessoas, uma possibilidade de novas realizações.
 
Além de investigar suas motivações e os impactos da graduação em suas vidas, o trabalho busca oferecer subsídios para a criação de políticas públicas voltadas para o acolhimento e a boa convivência com este público crescente no ensino superior brasileiro.
 
Entrevistados
O estudo etnográfico foi realizado com 11 estudantes de graduação da UFG, sendo seis mulheres e cinco homens, com idades que variavam de 60 a 77 anos no momento das entrevistas. As entrevistas foram feitas por webconferência, pois ainda foram coletadas no período da pandemia. O perfil predominante dos entrevistados é de pessoas brancas (sete), pardas (três) e uma negra, todas cisgênero e heterossexuais. A maioria se identifica como de classe média ou média-alta, e grande parte já estava aposentada. O pesquisador destaca a ausência, entre os respondentes, de pessoas indígenas ou LGBTQIAPN+, apontando uma limitação do campo no que se refere à diversidade.
 
Políticas públicas de acesso
As experiências desses estudantes em cursos regulares de graduação na UFG diferem significativamente das oferecidas pelas Universidades da Terceira Idade (Unatis). As  Unatis funcionam como projetos de extensão, com uma educação "não formal" voltada ao bem-estar, socialização e lazer, sem conferir um diploma de graduação. É uma experiência bem diferente dos estudantes entrevistados na pesquisa, por exemplo. Como destaca o pesquisador, “os estudantes da UFG estão integrados ao ambiente acadêmico formal, com os mesmos direitos, deveres e exigências de qualquer outro aluno, o que lhes garante uma experiência de pertencimento e legitimidade plena, culminando na obtenção de um diploma de graduação”.
 
Em sua tese, Delson destaca a iniciativa recente da Universidade de Brasília (UnB) de criar um vestibular exclusivo para pessoas 60+. Para ele, esse é um exemplo de política de acesso que mantém a integração formal, facilita o ingresso e pode ser replicado por outras universidades.
 
UFG e projeto no Senado
A UFG, atenta às mudanças culturais e sociais vivenciadas nos últimos anos, criou em 18 de outubro de 2024 o Núcleo Interdisciplinar em Envelhecimento (Nipee UFG 60+/UFG). O Núcleo possui planejamento estratégico e atua nas dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. Entre as metas institucionais em discussão, está a possibilidade de promover maior acesso de pessoas com 60 anos ou mais à Universidade. Segundo a coordenadora do Núcleo, Ruth Losada de Menezes, essa pauta vem sendo debatida como uma iniciativa que poderá, futuramente, consolidar-se em política institucional, aproximando a UFG de outras universidades que já adotam medidas semelhantes. Em outubro, o Nipee realizou seu primeiro simpósio, fortalecendo o diálogo sobre o tema.
 
Existe também o Projeto de Lei 468/24 que tramita no congresso que torna obrigatórios vestibulares especiais para pessoas idosas, com formatos acessíveis e adequados. O objetivo é garantir a oportunidade igualitária de acesso à educação. Em análise na Câmara dos Deputados, o texto inclui a medida no Estatuto da Pessoa Idosa. Hoje, a lei já prevê que as instituições de educação superior ofertem às pessoas idosas, cursos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades formais e não formais. O deputado David Soares (União-SP), é o autor do projeto. Caso o projeto seja aprovado esta política será imediatamente obrigatória em todas as instituições de ensino superior.
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351