Michelle Rabelo
Goiânia - "Encostar a barriga no balcão e negociar. Tendo a consciência de que o agronegócio é uma das maiores vitrines do Brasil". Assim, sem truques ou caminhos tortuosos, o consultor e ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera, enxerga a possibilidade de um futuro mais próspero para o agronegócio brasileiro: apostando em acordos comerciais bilaterais e fugindo do que ele chama de 'isolamento político e diplomático' - reflexo do tarifaço imposto pelos EUA. O médico veterinário e agropecuarista esteve em Goiânia nesta terça-feira (11/11) e falou com exclusividade ao jornal A Redação.
"Nós não temos até hoje nenhum acordo comercial. Zero. Todos os nossos concorrentes têm. A agricultura americana, por exemplo, já tem 19 acordos comerciais, com blocos ou com países. Nós estamos há 20 anos olhando para o acordo do Mercosul com a União Europeia", disse, minutos antes de analisar o cenário nacional para um grupo seleto de produtores rurais que se reuniram na sede do Sicoob UniCentro Br para debater temas como as perspectivas econômicas, os desafios, as oportunidades e os impactos da Reforma Tributária para o futuro do agronegócio.
A convite da cooperativa de crédito, Cabrera veio à capital para o 'Agrotalks UniCentro Br' e, na ocasião, voltou a criticar a falta de uma postura mais ativa da diplomacia brasileira no que se refere ao trato com possíveis parceiros comerciais. "Os EUA acabaram de fechar um grande acordo comercial com a União Europeia. Na prática, um produto americano entra nos países do bloco em condições muito mais favoráveis do que um do Brasil. Não porque eles são mais eficientes, mas porque eles têm um acordo comercial", explica.
O ex-ministro citou o exemplo da laranja. "O México é um país que está sendo governado por uma linha mais à esquerda, como o Brasil. Eles conseguem colocar laranja mexicana no mercado americano e nós não conseguimos colocar a nossa. Tudo por falta de um acordo comercial. Enquanto eles pagam zero de imposto, por causa do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), nós pagamos US$ 415 por tonelada de suco. Então, embora a gente seja mais competitivo, estamos perdendo o mercado americano", completa.
Selo de qualidade
Ainda sobre a competitividade do agronegócio brasileiro, durante sua fala, Cabrera fez questão de destacar o país como potência agroalimentar. "Hoje somos um dos maiores fornecedores de comida do mundo. No último ano, enviamos alimentos para 229 países e territórios, nos consolidando como o maior fornecedor para o Oriente Médio, e liderando as exportações tanto para o mundo árabe quanto para Israel. Isso é reflexo direto do fato de que o nosso agronegócio está associado à tecnologia, à sustentabilidade e à segurança alimentar", frisa.
Diante do desempenho, o consultor defendeu que "é hora do agro comunicar o que ele faz pelo Brasil e pelo mundo”. O que, na opinião dele, ajudará a dimensionar corretamente os desafios enfrentados pelos produtores rurais, como a excessiva burocracia que dificulta a gestão e a operação no campo; a alta carga tributária, que é um fator que impacta a competitividade e a rentabilidade do agronegócio; e as constantes intervenções do governo, com portarias e leis trabalhistas.
Na mídia
Ao jornal A Redação, Cabrera também comentou a forma como o agronegócio vem sendo apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) que está ocorrendo em Belém, no Pará. “O agronegócio é a locomotiva da nossa economia, ninguém pode negar isso. Então, o agronegócio deveria ter um espaço especial. Teria que ter a voz dos agricultores. A COP30 significa sustentabilidade e quem é o verdadeiro guardião da natureza? É o agricultor! É insano você dizer que o agricultor é destruidor do meio ambiente. Ninguém quer destruir aquilo que está te sustentando. A gente precisa entender e valorizar isso.”
Ele finaliza dizendo que a agricultura brasileira é a mais desenvolvida em termos de trópico e que poucos países do mundo têm a sustentabilidade que a produção de alimentos tem no Brasil. "Nós temos uma história incrível para ser contada, mas isso não está sendo feito na conferência, o que é uma pena".
Leia mais
Sistema OCB/GO lidera parceria para qualificação de trabalhadores