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Fabrícia  Hamu
Fabrícia Hamu

Jornalista formada pela UFG e mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège (Bélgica) / fabriciahamu@hotmail.com

Inspiração

Ser mulher é difícil demais

| 28.05.13 - 12:38
Goiânia - Estava no salão de beleza fazendo as unhas, quando Val entrou. Val nasceu Valter, mas descobriu logo cedo ser uma mulher no corpo de um homem. Foi expulsa de casa aos 15 anos, pelo padrasto. Virou travesti e fez programas na rua por 11 anos. Agora tornou-se maquiadora profissional e atende clientes durante o dia.

Os modos delicados, os seios de silicone e os longos cabelos negros contrastam com os braços compridos, o peitoral forte e a voz aguda. Mas não há dúvidas de que Val é uma mulher. Pensa e sente como uma. Finalizada a maquiagem da cliente e as minhas unhas, começamos a bater papo e engatamos uma conversa de duas horas.

Pergunto como é a vida de um travesti fazendo programa na rua. “Dura”, me responde ela, na lata. “Aliás, dura não. Duríssima. A gente come o pão que o diabo amassou”, completa. Além de constantes episódios de violência física, Val também diz que precisava lidar com outro problema: a resistência dos homens em usar camisinha.

“Parece incrível, mas a maioria dos meus clientes não queria colocar o preservativo. Embora eu fosse uma pessoa completamente desconhecida, que eles não tinham a mínima ideia se possuía ou não alguma doença sexualmente transmissível, não  estavam nem aí e queriam transar sem camisinha de todo jeito.”

Val afirma que nunca aceitou. “Sem preservativo não rola”, sentencia. “Mas muitas colegas minhas aceitavam. Cobravam mais caro pelo programa sem camisinha e faziam o que cliente queria. Uma delas morreu de aids”, conta. O perfil dos clientes: homens, casados em 90% dos casos, com idade entre 25 e 65 anos.

“O pior de tudo era a hipocrisia. Eram loucos para que eu fizesse sexo anal neles, exigiam as maiores extravagâncias, mas depois davam uma de machões e santos. Uma vez, um cliente ligou para a esposa quando o programa terminou e deu o maior esporro, porque ela disse que ainda não estava pronta para ir à igreja”.

Fiquei pensando nas mulheres desses caras. Elas se casam, juram fidelidade eterna e vivem sob constante vigilância, porque os maridos gritam, monitoram seus passos e exigem que elas sejam santas. Enquanto isso, os machões fazem programas com travestis sem camisinha e as expõem a todos os riscos possíveis.

Não vou questionar a preferência por travestis, porque tara é uma coisa pessoal e que foge a qualquer tipo de explicação racional. O problema é realizar as fantasias sexuais sem o menor cuidado com quem se está casado, querer gozar a qualquer custo e mandar a segurança do outro às favas.

Triste constatar que, em muitos casos, uma mulher casada fica na completa dependência da boa vontade de um travesti que se prostitui. Se ele quiser se proteger das DSTs e exigir que o cliente use camisinha, ela não correrá riscos. Se ele ceder e transar sem preservativo, ela terá de correr para o laboratório e rezar para não ter adquirido nenhuma doença.

Complicado. O que fazer numa situação dessas? Virar uma psicopata e seguir o marido todas as noites, para saber se ele sai com travestis ou não? Fazer exame todo mês para saber se está com aids? Exigir que o homem use camisinha em casa? Surtar e divorciar por medo de pegar uma doença?

Enquanto torrava meus neurônios buscando uma maneira de sair daquela sinuca de bico, Val me contava que seu sonho é fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Quer ser atendida no Hospital das Clínicas da UFG, porque acha que se enquadra perfeitamente nas exigências para realização do procedimento.

“Ainda não consegui uma vaga, mas tenho fé que meu dia vai chegar”, diz ela, esperançosa. “Na verdade, eu sou uma transexual, não um travesti”, explica. Pergunto se ela não tem medo da cirurgia. “Da operação não. Tenho medo é de quando eu me tornar definitivamente uma mulher. Ser mulher é difícil demais”. Concordo.  

Comentários

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  • 02.06.2013 23:21 Igor Luiz Pancoti

    Eu Teamo muito Maria Thereza Motta Luiz Pancoti e Igor Luiz Pancoti Motta

  • 01.06.2013 22:20 Alessandra Biage

    E mulheres sonham em se casar!!!

  • 28.05.2013 13:42 Dabi Martins

    Como sempre muito bom...

  • 28.05.2013 13:39 Fabrícia Hamu

    Concordo plenamente com você, Ângela. Os travestis tanto são vítimas de doenças e da falta de respeito alheia, que cito no texto episódios de violência física frequentes aos quais eles são submetidos e casos em que morreram de aids por terem sido contaminados por clientes. Em nenhum momento disse que todos os travestis se prostituem. Me referi no texto especificamente aqueles que fazem programa e que, infelizmente, mesmo sabendo que podem adquirir DSTs, não se protegem como deveriam. Um abraço

  • 28.05.2013 12:59 Ângela Almeida

    "(...) uma mulher casada fica na completa dependência da boa vontade de um travesti. Se ele (...) exigir (...) camisinha, ela não correrá riscos. Se ele (...) transar sem preservativo, ela terá de correr para o laboratório e rezar para não ter adquirido nenhuma doença." :o Respeito muito a sua competência, mas achei MUITO equivocado o enfoque que você utilizou, Fabrícia. A pessoa que se prostitui, homem ou mulher, em relação hetero ou homossexual, deve usar preservativo para SE proteger, acima de tudo. A proteção ao cliente deve ser a motivação DO CLIENTE pra exigir o preservativo. A proteção do(a) cônjuge... você acha mesmo que ela está em questão na relação de um ser casado com um(a) prostituto(a)? Não sei qual das formas que você propôs para a proteção do(a) cônjuge seria factível e eficaz, mas o caminho está mais por aí que em confiar na boa vontade do travesti. Detalhe 1: nem todo travesti se prostitui. Detalhe 2: os(as) prostitutos(as) não são unicamente fontes de doenças... são vítimas, também. Em todo mais, concordo com você... Triste realidade, mesmo...

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