Goiânia - Na semana que passou uma notícia envolvendo mais um desses novos “humoristas” que acham que “humor inteligente” é ridicularizar pessoas pela internet, mostrou que a crueldade quando se trata de aviltar um ser humano por sua aparência ser considerada esteticamente “diferente” do que a sociedade entende como “aceitável” pode ter atingido seu limite.
No último dia 22, vários sites publicaram a notícia de que a família de uma estudante da pequena cidade de Monte Aprazível (SP), a cerca de 35 quilômetros de São José do Rio Preto (SP), entrou na Justiça após a foto da filha, na época com 17 anos, ter sido publicada em abril sem autorização numa rede social pelo apresentador e humorista Oscar Filho.
A ação pede R$ 109 mil por danos morais à adolescente e à família. Segundo a psicóloga Joseane Cristina Fernandes, que assina um laudo médico sobre o caso, a estudante entrou em depressão após a postagem, precisando de acompanhamento psicológico.
Até terminar o parágrafo acima, imagino que muita gente que está lendo esse texto – e não conhece toda a história – já deva estar pensando que a garota está “fazendo drama”.
Acontece que a adolescente, que apresenta sequelas de uma paralisia facial, teve sua foto colocada junto a uma montagem seguida da seguinte frase: “Você já se sentiu tão diferente que até sua própria imagem te acha estranho?”.
Na época em que Oscar Filho fez a “brincadeira”, seus próprios seguidores o criticaram duramente por sua falta de sensibilidade, o que fez com que ele posteriormente tirasse a imagem do ar.
Independentemente de a jovem ter ou não sequelas, deformidades e anomalias severas de uma paralisia, o questionamento que se cabe aqui é qual o direito que uma pessoa tem de pegar uma foto de alguém que está em uma rede social, fazer uma montagem – sem a sua autorização – ridicularizando-a, e publicar para todo o país ver?
Oriundo da mesma “escola” de Danilo Gentili e Rafinha Bastos – que já declarou que mulher feia deve agradecer e abraçar a um homem que estuprá-la – Oscar Filho joga por terra todo seu talento para fazer humor, e entra no rol dos atuais humoristas que, para conquistar “likes” e comentários em suas postagens, usam e abusam do politicamente incorreto. O importante é ser o assunto do momento, na velha ideia do “falem mal, mas falem de mim”. Essa fórmula é manjada e velha.
Na sociedade atual, a intolerância a quem é considerado “diferente” tem crescido exponencialmente. Ao invés de evoluirmos na aceitação das diferenças que são uma das características mais importantes da raça humana – afinal, se todos fossem iguais, que graça o mundo teria? – estamos regredindo ao ponto em que todo mundo tem de ter o mesmo corpo, usar a mesma roupa, gostar das mesmas coisas.
Paradoxalmente, nunca houve tanta diversidade, infelizmente, acompanhada de tanta intolerância.