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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

O Blog

O dilema da noite de Goiânia e bandas covers

Por que nos divertimos com alguém fingindo? | 07.04.15 - 11:26


Goiânia - Certa vez disse que uma banda cover é igual a um travesti: parece muito mesmo com o que queremos e gostamos, mas falta o essencial. Ainda penso assim. E por isso me impressiona o atual fenômeno que a noite de Goiânia vive. É cover para tudo quanto é lado, de tudo quanto é estilo. Do pop ao metal. Da música brasileira ao stoner rock. A música autoral está praticamente sem espaço na noite goianiense. E não vejo um futuro muito promissor para quem não quer se camuflar de outro para subir em um palco.


Parcela dos músicos responsabiliza os donos do pub pela onipresença das bandas covers. Não vejo por aí. Conheço e tenho o prazer de ser amigo de quase todos os empresários da noite que abre espaço para a música ao vivo, em especial no segmento alternativo. Todos foram forjados nos festivais autorais de Goiânia. Nenhum, repito, nenhum se orgulha de ter tantas bandas covers em sua grade de programação. Todos sonham em abrir todas as noites para a música autoral. O problema é que sua conta no final do mês não fecha caso faça essa opção.


Outra parte responsabiliza o público. Também não concordo. Compreendo quem sai de casa e quer se divertir. O curador de um pub tem que agradar as pessoas que se dispuseram a gastar seu dinheiro e tempo naquele espaço. Uma coisa aprendi nos anos que trabalhei pesado com produção cultural: nunca culpe o público pelo seu fracasso. Quem paga ingresso para ir a um evento não tem compromisso algum com o sucesso financeiro da noite. Ele vai lá e quer se divertir. Ponto. Ele não é partícipe de sua planilha financeira. Se o cara prefere ver o cover de um clássico do rock à música autoral, fazer o quê? O dinheiro é dele.


Mas esse grande interesse pelo cover me deixa um pouco curioso. Por exemplo, eu gosto muito de futebol. Mais que música, para dar uma dimensão. E não tive oportunidade de ver os grandes jogadores brasileiros em campo por uma questão geracional. Assim como não tive a possibilidade de ver as grandes bandas do rock em seu auge criativo pela mesma razão.


Será que eu gostaria de ver vários bons jogadores da atualidade vestidos como, sei lá, a Seleção Brasileira de 1970, simulando aqueles lances geniais que só vimos pela televisão? Mesmo que os caras atuais fossem muito bons e chegassem perto daquilo que Pelé, Gérson, Rivellino, Tostão e companhia fizeram, acredito que não pagaria ingresso para ver um Brasil/70 cover contra a Itália/70 cover no Serra Dourada. Pagaria para ver esses craques hoje em campo, mesmo que muito longe das performances originais? Sim, pagaria. Igual pago para ver os respeitáveis tiozões do rock exalando agressividade, tal qual um macaco na jaula do zoo, e dizendo que preferem morrer do que envelhecer.


O original, mesmo que longe do auge, ainda permanece com a aura que Walter Benjamin falava. Aura essa que um cover, por melhor que seja, nunca terá.


E qual seria a saída para que a música autoral volte a ganhar espaço, garantir boas bilheterias aos empresários da noite e as bandas covers voltem a ser bregas como eram poucos anos atrás? Não faço a mínima ideia. Se soubesse, falaria para todos meus amigos donos de pubs. Enquanto isso, seguimos curtindo os travestis na noite de Goiânia.  


Comentários

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  • 15.04.2015 17:30 Erika

    É Pablo, esses dias tava falando exatamente sobre isso numa mesa de bar. A noite de GYN vem se resumindo a covers e festas semelhantes em quase todos os lugares. Guento mais não, tô ficando velha. E vc mais que ninguém sabe que sou frequentadora assídua de shows e eventos de rock. E o que me impressiona também é que uma casa lança uma festa e na outra semana todas estão lá fazendo o mesma tema da festa... no final, tudo igual e a mesma coisa. Mas, enfim, tenho que te parabenizar pelas discotecagens por aí, sempre levantando e animando a pista. E pra quem acha que isso não é trabalho, fiquem em casa e põe um dvd de sua banda fallows. :)

  • 09.04.2015 02:04 Daniel Barbosa

    Interessante, Pablo. Mais interessante ainda porque nunca vi nem ouvi você criando nada quando "diverte" a galera nos Pubs em que você "discoteca". Porque apenas apertar o play num set list préviamente escolhido é, travestir-se dos craques da musica. Diminuir e/ou desvalorizar o trabalho dos intérpretes é típico do musico frustrado, aquele que não conseguiu crescer na musica e virou crítico da mesma. Assim como a maioria dos árbitros de futebol. Quase todos sonhavam em ser jogadores...

  • 08.04.2015 23:03 Gilberto Lima

    Há bandas fazendo música autoral na cidade sim. Quem não vive a música de dentro ou está preso a um cabresto, escreve qualquer coisa pra polemizar e diminuir. Os "covers" são essenciais para quem toca de 3 a 4 horas por noite e tem que manter a casa aquecida. O subtítulo da matéria, "Por que nos divertimos com alguém fingindo", de todo esse blá blá blá vazio, é o que mais me deixa indignado. Não há ninguém fingindo, meu caro Kossa, há pessoas trabalhando duro para alegrar as pessoas mundo afora. Não desmereça o músico que há tantos anos é colocado como um trabalhador menor - é feio e injusto. Nesse sentido vc desmerece grandes intérpretes da história da música brasileira que nunca compuseram uma letra sequer. Você está equivocado, mas tudo bem, você é só um "jornalista".

  • 08.04.2015 11:34 Marcus Humberto

    Acho que pode começar com uma cobertura maior e melhor dos eventos autorais. As ferramentas de hoje permitem a elaboração de grandes reportagens a baixo custo; o público de hoje procura tudo na Internet e responderá a isso. Não dá mais pra ficar só nas resenhas, né? A propaganda é a alma do negócio, só que essa responsabilidade hoje está somente nas costas das próprias bandas.

  • 08.04.2015 10:25 Fred Castro

    A solução pra mim são as bandas saírem da comodidade de esperar o espaço, ter um som responsa e verdadeiro, e sempre estar nos corres para o melhoramento da banda, tanto de publico quanto espaço para tocar, culpar casas é complicado, afinal teve capital ali investido, são particulares e os donos direcionam para onde quiserem, nada mais justo, cativar o publico para que ele esteja no show é o primeiro passo...

  • 08.04.2015 09:09 Rafa

    Acho que são poucos trabalhos autorais de qualidade e muitas bandas talvez 70% delas fazem música por hobbie,isso faz com que o PUB que busca lucro prefira cover, despertando mais clientes, e de fato o cliente que vai ao PUB, busca qualidade e se for para ele pagar 15 ou 20 dinheiros pra ver uma banda, que seja uma banda boa, msm sendo cover. Mas ANTES DE TUDO a cidade começou errado, deviam dar valor ao músico local, em vez de chamar a banda para tocar e pagar ao músico com cervejas, podiam pagar um valor justo a eles, assim iria cativar a banda, os músicos iriam atras de mais qualidade e investimento por natural obrigação.

  • 08.04.2015 07:34 Kennedy

    Como ter uma solução se quem poderia ter alavancado o Rock Goiano o fez cair pela sarjeta por conta de trocados??? O problema não é de hoje não.. vem se arrastando desde lá de trás.. Simples assim.. o problema é que como se tem amigos influentes não se pode dar nomes aos bois.. Por conta disso vivemos essa "monstruosidade" acessa por palitos já queimados... E como o público "já" foi moldado está é a nossa realidade.. prestigio o rock goiano desde o final da década de 80 e me orgulho de não ir atrás de "travestis" na noite Goiana...

  • 07.04.2015 23:33 Rafael Inacio

    Acho que essa resposta vc não vai ter. tentei imaginar aqui tenho até uns palpites mais é tenso mesmo....eu mesmo se fizer um evento só toca autoral, não gosto de cover aceito os que fazem bem mais deixo claro pra banda que não gosto..agora fica a pergunta o que fazer?

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Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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