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Caso Polyanna

Dois anos de impunidade

Quem são os culpados? | 22.09.11 - 23:19 Dois anos de impunidade Quem são os culpados? A pergunta exibida em outdoor lembra que o crime aida aguarda solução (Foto: Fábio Lima)


Catherine Moraes

Um relatório de quebra de sigilo telefônico. Segundo o Superintendente da Polícia Judiciária do Estado de Goiás (SPJ), Álvaro Cássio, essa é a peça que falta para solucionar o caso de Polyanna Arruda, publicitária assassinada em 23 de setembro de 2009. Dois anos depois, muitas perguntas ainda estão sem respostas. Onde está o resultado do exame de DNA que seria feito logo após o crime? Por que uma quadrilha de roubo de carros espancou, estuprou e, no fim, deixou para trás todos os pertences da vítima? Quem matou três dos sete integrantes (identificados) da quadrilha?

Tânia Borges, a mãe de Polyanna, se reuniu nesta quinta-feira (22/9) com delegados que investigam o caso. Eles a convocaram para esclarecimentos mas não há novidades. Existe apenas a promessa de que, em breve, o inquérito estará pronto. Nesta sexta-feira (23/9), Tânia vai realizar uma manifestação em frente ao Ministério Público. Ela terá em mãos um abaixo-assinado com 10 mil assinaturas pedindo a entrada da Polícia Federal no caso. O ato está marcada para as 17h.

Cristão praticante, o pai de Polyanna, Sérgio Borges, conta que hoje tem uma visão diferente sobre a punição de crimes. Com olhos lacrimejados, ele diz que passou a ser a favor da pena de morte depois da barbaridade cometida contra a filha. “Enquanto os bandidos estão pela rua, nós estamos cada vez mais enjaulados. Hoje temos cerca elétrica, muro alto e medo permanente de sair de casa”, desabafa. Sérgio diz ainda que o Estado precisa se preparar para reinserção de ex-detentos. "Hoje eles matam três, vão presos, e depois saem querendo matar dez. Isso não está certo.”

Após dois anos de espera, muita dor e dúvidas, o casal acredita que entrada da Polícia Federal no caso possa acelerar a resolução do crime e, que assim, a justiça seja feita. Mas, para o delegado-geral da Polícia Civil, Edemundo Dias, o caso é de competência da corporação goiana. Ele assegura que tomou todas as providências possíveis e designou os melhores delegados para a investigação. Edemundo diz que há prioridade para alguns crimes, e a morte de Polyanna é um deles.

No mês passado, um dos principais suspeitos de envolvimento no assassinato da publicitária ganhou a liberdade, beneficiado pela nova Lei de Prisão Provisória em vigor desde 4 de julho e que alterou 32 artigos do Código de Processo Penal. Questionado sobre a soltura de Assad Haidar, Edemundo explica que trata-se de uma decisão do Judiciário a qual teve de acatar. “O sistema penal é arcaico. A Polícia Civil é cobrada, mas o maior problema hoje é o sistema penal”, finaliza.

Falta de investimentos
Na opinião do advogado criminalista e conselheiro seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO) Pedro Paulo de Medeiros, atribuir a culpa ao Judiciário não é o melhor caminho para solucionar casos como o de Polyanna Arruda. Para o advogado, o principal problema é a falta de investimentos na segurança pública. Com mais tecnologia e qualificação, seria possível diminuir a lentidão que atrapalha as investigações em Goiás. “A demanda por respostas é maior que os serviços realizados pelos profissionais da polícia, Ministério Público e Judiciário”, pontua.

Medeiros não descarta a possibilidade de a PF assumir o caso, como querem os pais da vítima, mas diz que este passo não é tão simples.  “Tem de mostrar graves violações versadas no Tratado Internacional de Direitos Humanos, do qual o Brasil é signatário”, explicou o conselheiro.

Segundo o advogado, a família pode pedir ao procurador-geral da República para recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), solicitando deslocamento de competência do estadual para o federal. Medeiros apontou também a possibilidade de o Ministério da Justiça expedir portaria, determinando que a PF investigue o caso para a Justiça goiana.


O crime
Em um dia de rotina, Polyanna Arruda Borges saiu de casa às 7h30 para ministrar uma palestra a estudantes na 4ª Semana de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), no Jardim Goiás. A empresária era sócia, com o marido, Thiago Leopoldino de Paula, da agência Inédita Propaganda. Eles estavam casados há cinco meses e Thiago chegou a ser apontado como suspeito incialmente, hipótese que foi logo descartada.

Durante as investigações, a polícia chegou a uma quadrilha especializada em roubo de veículos que é apontada como responsável pela morte da publicitária. Em depoimento, um dos suspeitos deu detalhes do crime. 

Após passar a noite de  22 de setembro de 2009 cheirando cocaína, Marcelo Barros Carvalho, Assad Haidar de Castro e Lavonierri da Silva Neiva saíram,  no dia seguinte, para roubar três Primas encomendados por um receptador identificado apenas como Diango.

Ao avistar o veículo encomendado, o grupo jogou o carro onde estavam na frente do Prisma Preto de Polyanna. Eles a renderam e a levaram para o Residencial Humaitá, às margens do Córrego  Caveirinha, na Região Norte de Goiânia. Ao invés de roubar o carro, Assad e Lavnierri teriam decido estuprá-la. Polyanna resistiu, chutou os órgãos genitais de Lavonierri e unhou os dois criminosos. O ato de valentia era uma tentativa de sobreviver e não ser violentada sexualmente.

Dominados pela raiva e pelo efeito da cocaína, estupraram e mataram a jovem com sete tiros, além de espancá-la deixando vários hematomas no rosto. Em seguida, ligaram para Diango e contaram sobre o assassinato. O receptador teria determinado que o carro fosse abandonado, já que estaria “sujo”. Os integrantes fugiram em um Clio prata.

O Prisma foi encontrado na mesma manhã, parcialmente queimado, na Rua Xavante, no Residencial Caraíbas, por policiais militares acionados por moradores da região. Dentro dele estavam a bolsa com todos os documentos e pertences da publicitária e um notebook.

Por volta de 18h30 do dia 24 de setembro de 2009, um homem encontrou Polyanna morta e nua, sob um barranco às margens do Córrego Caveirinha. A polícia colheu material para exame de DNA criminal, a ser realizado em Brasília, mas os resultados nunca foram divulgados.

Confissão e soltura
Em 14 de dezembro de 2010,  Marcelo Barros Carvalho confessou participação no latrocínio e contou, com detalhes, como tudo aconteceu.  Ele ainda afirmou que os companheiros de crime eram Assad e Lavnierri. Com isso, a polícia disse que o caso estava praticamente resolvido e o inquérito seria apresentado em poucos dias.

Assad Haidar de Castro foi solto no início do mês passado pois responde na Justiça apenas por roubo de carga e porte de arma. Segundo o delegado Odair José Soares, que já era responsável pelo caso antes de assumir a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Assad também deve ser indiciado por homicídio, estupro e roubo de carro e pode ser condenado a mais de 40 anos de prisão.

Queima de arquivo?
O Clio usado no crime foi repassado a Luciano Assis Santos, 21, que seria responsável por guardar o carro. Com a morte do avô, o integrante da quadrilha usou o veículo para ir ao enterro e desagradou os autores do crime. No dia 23 de novembro de 2009, ele saía de casa quando foi abordado por dois indivíduos que estavam em uma motocicleta de cor escura. Eles pararam, o carona desceu e atirou várias vezes contra Luciano. O jovem morreu no local e o caso ficou sob investigação da delegada Adriana Ribeiro de Barros.

O Clio foi levado pelos atiradores e repassado a Edson Pereira de Paula, conhecido como Porquinho. No início de dezembro de 2009, a polícia o prendeu em flagrante por receptação, mas Edson ganhou liberdade provisória três dias depois e não foi visto novamente.

O segundo membro do grupo a ser assassinado foi Lavonierri da Silva Neiva, 24. Em 2 de dezembro de 2009, ele morreu em susposta troca de tiros com policiais militares. Lavonierri dirigia um Prisma, que havia acabado de roubar no Jardim Atlântico e suspeita-se que Deberson Ferreira Leandro, 27, outro integrante da quadrilha, estava no carro. Deberson teria entregado Lavonierri aos PMs. Esse caso foi investigado pelo delegado Vinícius Ney Barbosa.

Último a morrer, Deberson estava em um telefone público na esquina da Rua Barão de Mauá com a Couto Magalhães, na Cidade Jardim, na Região Sudoeste de Goiânia, quando foi assassinado. O crime ocorreu no dia 17 de fevereiro de 2010, por volta de 21h50. Moradores disseram à polícia que um homem chegou em um Gol branco, desceu do veículo, chamou pela vítima e atirou três vezes, acertando a cabeça de Deberson.

Suspeito de tentar matar PM era informante
Quando Deberson morreu, agentes da Polícia Civil afirmaram que ele tinha livre acesso às delegacias especializadas, batalhões da Polícia Militar e também à Secretaria de Segurança Pública. Trabalhava como informante da polícia e falava sobre o paradeiro de ladrões de carro e traficantes em troca de favores.

O criminoso era investigado pela tentativa de homicídio do ex-policial militar Jander Figueira da Mota, assassinado em 2008. Jander prestou depoimento ao Ministério Público e solicitou sua inclusão no Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas, o que não chegou a se concretizar. Em dia 2 de abril de 2009, ele foi morto em uma emboscada em Torixoréu (MT) com tiros de pistolas 9 milímetros de ponto 40, por cinco homens que estavam em um Palio prata.


Comentários

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  • 25.09.2011 19:31 Alessandra Moraes

    Nós as vezes temos pena dos criminosos presos naquelas condições,mas nos esquecemos que estão presos por crimes cometidos,e é através desses grandes jornalistas que percebemos que o que eles estão tendo como consequência desses crimes bárbaros é muito pouco.

  • 23.09.2011 14:05 Ingrid Ritter

    Quando será que "bandido bom será bandido morto" neste país? Muito se fala pouco se faz, onde está a competencia policial para fazer pagar quem comete estas barbáries? Estamos todos inseguros!

  • 23.09.2011 12:07 Luciano Lima

    É com muito pesar que acompanhamos este crime sem solução. Todos nós estamos sujeito ao mesmo crime, podendo acontecer com qualquer um da nossa família.

  • 23.09.2011 09:17 Fabrícia Hamu

    Um crime bárbaro, uma família destruída, um viúvo amoroso acusado injustamente de assassinato... De fato, sobra dor e falta impunidade. Nessas horas, tenho vergonha de viver nesse país.

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