Muita gente nem consegue imaginar a combinação 'feijoada + vinho', mas a bebida combina muito mais com o prato tradicional brasileiro do que a famosa cerveja. É que o gás da cerveja faz com que a digestão do prato fique ainda mais lenta.
No entanto, é preciso escolher o vinho certo. Para isso, é importante esquecer essa ideia de harmonizar feijoada com espumante, ainda mais se for branco. O prato requer vinhos encorpados, com taninos para aguentar o peso da receita.
Quando se fala em harmonização, é importante levar em consideração duas regras. Ou se harmoniza pelo contraste ou pela semelhança, mas, independente disso, o prato e o vinho precisam estar no mesmo nível, ou seja, uma receita delicada, requer um vinho delicado, e um prato pesado pede um vinho encorpado.
Uma colega sommelière brasileira, a Ana Carolina Dani, acredita que o ideal é separar os elementos principais do prato e tentar equilibrá-los com os do vinho. No caso da feijoada, temos dois elementos principais: a gordura e o sal, presente principalmente nas carnes defumadas. Também é interessante observar a textura. A feijoada é um prato viscoso, denso, que requer um vinho de textura similar, como ela mesma diz.
O primeiro elemento a procurar no vinho, então, é o tanino. Para não ser esmagado pela feijoada, o vinho precisa da força e da estrutura dos taninos. O outro elemento que devemos prestar atenção é na gordura. Nesse caso, a associação deve ser por contraste. O vinho deve ter tensão, frescor, acidez elevada, para ‘quebrar’ a gordura da feijoada.
O cerco vai, então, se fechando. Vinhos com maioria da uva Merlot, como os feitos em Bordeaux, nas regiões de Saint-Emilion e Pomerol, embora sejam tânicos, pecarão pela acidez mais baixa. Um pouco mais adaptados, os crus de região do Médoc, com maioria de Cabernet Sauvignon, podem ser uma opção, embora não sejam os ideais. No sul da França, na região de Languedoc, os vinhos podem ser bastantes generosos, reforçando o lado pesado e ‘quente’ do prato.
Mas, sem dúvidas, o que precisamos mesmo para conseguir harmonizar qualquer coisa é abrir a mente. Isso nos possibilita experimentar novos sabores, combinações. E o resultado é sempre positivo. Sou sempre a favor de arriscar.
*Hugo Alexandre de Sousa é sommelier e sócio-proprietário do Badio Winebar