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Ana Clara Dias

"O inferno são os outros"

| 30.10.19 - 14:08
Estamos condenados a ser livres. Esse foi o veredicto de Sartre para a sociedade. O problema é que nossos desejos pessoais nem sempre agradam os outros. Somos livres, mas é pelo olhar do outro que reconhecemos a nós mesmos. É por isso que é tão difícil sermos nós mesmos.

Não é fácil parar de se preocupar com o que os outros pensam de nós. Somos seres sociais, e é natural que a gente viva levando em consideração a opinião das pessoas, principalmente daquelas que a gente ama. Mas é preciso cuidado para que essa preocupação não tome as rédeas da nossa vida. 
 
Outro dia conversando com uma amiga entre um intervalo de uma atividade e outra, ela me mostrou, orgulhosa, uma foto dela. Linda. Numa praia de uma viagem recente, uma paisagem incrível, edição impecável. Daquelas fotos que a gente olha e pensa, como faz para ter uma igual? Logo em seguida respirou fundo. Não pareceu triste, mas conformada.
 
Já que ela havia gostado tanto da foto, perguntei por que ela não postou. “Eu não!”, disse ela. Bem decidida. Fiquei pensando alguns segundos no que pudesse ter de errado, já que ela é uma pessoa bastante ativa nas redes sociais. Não me contive. “Por que não?, questionei. “Porque eu estou muito pelada”, finalizou ela. Não insisti no assunto. Talvez ela realmente só não queria postar a foto mesmo, por falta de vontade. Mas tenho quase certeza que não. Fiquei com isso na cabeça o restante do dia.
 
E aí vai a verdade nua e crua sobre o caso da minha amiga, que diz muito sobre todos nós também, mas que a gente nunca quer admitir. O problema não era a foto, o biquíni ou a “nudez”. Por trás da justificativa da minha amiga mora o medo de ser julgada. O medo dos rótulos. Dos amigos, do pessoal do trabalho, da família. Que se a gente for pensar bem, é isso que rege toda nossa vida. 
 
É muito triste que em pleno século XXI a gente ainda precisa “se esconder” para não ser julgado. Usar uma máscara social. Para agradar a quem? A troco de que? De aprovação. Todos nós queremos ser aceitos. E existe um padrão para isso em diversos grupos. Viver para sustentar uma aparência é, sem dúvida, a prisão de si mesmo. E por isso, tudo que você faz no “campo secreto” vai parecer pecado, ilegal ou imoral.
 
Estamos felizes diante disso tudo? Essa é a pergunta que realmente devemos fazer a nós mesmos. 
 
Eu acho que não. 
 
Caso contrário a procura por acompanhamento psiquiátrico e busca por remédios psicotrópicos não teria aumentado tanto, e os divãs não estariam tão cheios. As pessoas estão gritando por socorro o tempo todo a parecemos não ouvir. É mais fácil não falar, não tocar no assunto e deixar para lá.
 
Onde vamos chegar com isso? Estamos alimentando pessoas carentes, inseguras, traumatizadas e infelizes. É isso que queremos para os nossos filhos?
 
A vida é muito curta para não sermos nós mesmos. Liberte-se das amarras que o prendem. Dos preconceitos enraizados. Dos olhares maldosos. Tem muita gente dizendo o que você tem que fazer, mas você não “tem que” nada que não esteja alinhado com o seu coração. Permita-se ser e estar. 
 
Perigoso mesmo é a gente viver aprisionado no que nos ensinaram que é certo, bom e bonito, e nunca mais se libertar. Correndo o risco de não saber viver mais sem um manual de instruções.
 
*Ana Clara Dias é jornalista e professora

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