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Cintia Dias

País que mais mata pessoas trans no mundo

| 02.04.24 - 12:38
No último dia 31 de março, celebramos o Dia Internacional da Visibilidade Trans. Há uma luta a ser celebrada, com conquistas e visibilidade crescentes, mas sabemos também que essa luta está só começando. Há muito trabalho a ser feito para que as pessoas transgêneros alcancem a dignidade que lhes é devida. No Brasil, a responsabilidade é ainda maior, pois, ano após ano, é o país que mais mata pessoas trans no mundo, por 14 anos seguidos, segundo relatório divulgado pela Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
 
Definimos pessoas trans como as que não se identificam com o gênero atribuído ou designado em seu nascimento. Por aí, já podemos imaginar a imensidão da violência simbólica que essas pessoas sofrem desde o nascimento, nascendo e crescendo em uma sociedade binária, que só reconhecem menino e menina. Além disso, com todo o universo simbólico que isso representa em uma sociedade patriarcal, crescem sem se adequarem àquilo que o outro, seja esse outro o familiar, seja o outro dos espaços de sociabilidade nos quais convive, determina como seu gênero. Esse sofrimento se torna sofrimento subjetivo, sofrimento no corpo, sofrimento silenciado.
 
Desdobra daí um enfrentamento constante a violências físicas, simbólicas, psicológicas, intrafamiliares, institucionais e abandono. Tudo isso influencia ainda no acesso aos direitos à educação, à saúde, à qualificação profissional e a empregos dignos. É difícil sobreviver! 
 
Segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), em 2022 foram 151 pessoas trans mortas no Brasil, sendo 131 assassinadas e outras 20 que cometeram suicídio. Ainda segundo a Antra, as travestis e transexuais são o grupo mais vulnerável à violência, com uma expectativa de vida de 35 anos, enquanto a da população em geral é de 74,9 anos. Isso comprova o tamanho do problema que temos a enfrentar, pois denota uma estigmatização conservadora e violenta contra a população trans no país.
 
É claro que temos conquistas a comemorar, como o uso do nome social, a atenção especial que a população trans tem garantida na rede SUAS, bem como a política específica do Ministério da Saúde para essa população. Temos ainda o orgulho de que em 2018 Erica Malunguinho (PSOL) foi a primeira deputada estadual, por São Paulo, trans eleita na história do país e Erika Hilton (PSOL), mulher trans, foi a vereadora mais votada do país em 2020, e em 2022 foi eleita deputada federal.  Mas falta muita luta para alcançar a dignidade mínima. 
 
Há um imenso caminho de luta pela visibilidade, pelo acolhimento, pela garantia de vida, de condições básicas de saúde, educação, emprego e pelo orgulho de serem quem são. O dia da visibilidade trans é um dia de luta que nos convoca enquanto sociedade a uma transformação profunda da nossa relação com a diferença.
 
*Cíntia Dias é socióloga, feminista, presidenta do Psol Goiás e co-coordenadora  do fórum Goiano de Mulheres

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