No Junho Verde, o mundo se une em prol da conscientização sobre a escoliose idiopática, uma alteração na coluna vertebral causada por uma curvatura lateral que acomete cerca de 3% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A escoliose não se trata apenas de aparência e estética. Ela não tem cura e, na maioria das vezes, é silenciosa e progressiva, e, nos casos graves, pode afetar a funcionalidade dos órgãos internos. Mas diversas são as formas de tratamento, cuja eficácia depende do diagnóstico prévio e precoce.
Uma ferramenta poderosíssima contra essa condição é a informação, e por isso precisamos quebrar o silêncio! Discutir sobre a temática é essencial para promover a conscientização, contribuir com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, além de combater estigmas e oferecer suporte às pessoas afetadas.
A falta de conhecimento e o julgamento já me causaram muitos abalos emocionais. Além da dor física, sofri muito com a dor psicoemocional. Quando mais jovem, muitas vezes me curvei diante do peso na consciência e do sentimento de culpa por um problema que eu não escolhi ter, mas era julgada como se tivesse escolhido.
Falar sobre a escoliose é necessário para que as pessoas conheçam as outras facetas da doença. Se todas as crianças e adolescentes tivessem a oportunidade que eu não tive, de ter um diagnóstico precoce e realizar um tratamento adequado, elas não precisariam sofrer com a deformidade física, com o preconceito e com o capacitismo durante tantos anos.
Mesmo sem a possibilidade de um tratamento conservador, nunca é tarde para cuidar da escoliose. A intervenção cirúrgica foi um sonho que pude realizar em 2024, aos 26 anos de idade. Hoje carrego comigo duas hastes metálicas e 20 parafusos pediculares em toda a coluna dorsal, e essa foi a melhor escolha que eu poderia ter feito em minha vida!
Mesmo com o medo de enfrentar um tratamento tão invasivo, eu contei com o apoio das pessoas que me amam e do profissional incrível e humano que eu escolhi. Não foi nada fácil, mas eu venci! Venci todo o procedimento cirúrgico sem complicações, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a alta, a recuperação em casa... Todo o suporte que recebi foi fundamental para que eu vencesse esse processo difícil.
Hoje, parafusada, eu posso afirmar que tive a minha vida transformada, tanto física e mental, quanto esteticamente. E mesmo grata pela oportunidade, às vezes ainda me pego pensando sobre o sofrimento que poderia ter sido evitado.
Por isso é tão necessário que essa discussão venha à tona e vire pauta, para que pessoas como eu não precisem passar pelo agravamento da doença e pelo sofrimento. Por meio de uma sociedade bem informada e inclusiva, podemos promover a saúde e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que enfrentam a escoliose.
*Ana Luíza Carvalho é jornalista e pós-graduanda em Comunicação Pública e Jornalismo Político.