Fiz a promessa para mim mesma de não escrever sobre política, até porque nenhum dos lados me paga para isso. Mas vocês terão de tolerar minhas críticas construtivas, afinal a Arte me dá a licença poética para provocar e eu prefiro ficar do lado mais humanista, analisando a perversidade arraigada, como um ranço, em cada um de nós, cidadãos de bem e eleitores invictos.
Do "Mito da Caverna", de Platão (380 e 370 a.C.) à literatura contemporânea de "Ensaio sobre a Cegueira"(1995) de José Saramargo (1922-2010), adaptada para o cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles, em 2008, até o cult e outsider, mas também muito premiado, o estadunidense "The sound of metal" (2020) na tradução livre, "O som do silêncio", podemos aprender várias lições e tentar colocá-las em práticas.
Alguns de nós, devem ter passado a vista e os ouvidos num vídeo, que circula pela internet, onde o escritor português confirma que: "nós nunca vivemos tanto na Caverna de Platão como hoje". Somos escravos das telas, das redes sociais e das fake news que transbordam aos zilhões por milésimos de segundos. Meu Facebook nunca pediu tanta solicitação de amizade como agora, em princípios de pré-campanha presidencial para 2026.
Celebridades e sub-celebridades se cotovelam cada vez mais para ter audiência, expondo suas vidas familiares deliberadamente para conseguirem ibope e serem vitimizadas por unanimidade. Desde violência doméstica, traições, pensões atrasadas, cirurgias plásticas mal sucedidas, direção de trânsito ofensiva por menores em propriedade particular, privatização de praias, ou 'bons samaritanos' fazendo generosas doações para alívio de consciência. Já dizia o ditado: "a caridade deve ser anônima, caso contrário é vaidade" até porque nos dias de hoje, o valor das compras do supermercado do jeito que está!? Só quem tem cautelas sobrando está podendo com tanta bondade e desapego.
Influencer, na minha opinião, é quem ensina a pensar e desafia o sistema promovendo e disseminando a verdade. A filosofia de Platão e a literatura de Saramargo são um oásis em meio a este deserto tóxico de notícias e fofocas de quinta categoria.
"The sound of metal" é um filme norte-americano que conta a dramática trajetória de um jovem baterista (o ator me lembrou muito a fisionomia de Pedro Scoob), ex usuário de heroína, que está numa fase plena, fazendo turnê com sua banda de hard core e de sua bela namorada. Tudo vai bem, até subitamente ele perder a audição. Daí os artifícios da narrativa cinematográfica absorvem a atmosfera fria da realidade, porque ele precisa decidir sobre como fazer escolhas coerentes que marcaram para sempre seu carácter e sua vida. Assistir dramas deste nível ascende em mim uma fagulha de esperança pela Humanidade.
Infelizmente alguns têm de passar por caminhos tortuosos, espinhosos e obscuros, mas felizmente há paz de espírito, dentro do silêncio, em cada um de nós. Para aqueles, em especial, que passam raspando de perder a audição (se o episódio ter sido verdadeiro), desejo do fundo do meu coração que Deus o proteja e abençoe e, que isso sirva de lição para tomar decisões conscientes que deixarão marcas para o futuro das próximas gerações.
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais