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Rimene Amaral

A PEC da Blindagem e a demência instantânea

| 25.09.25 - 16:58 A PEC da Blindagem e a demência instantânea (Foto: Reprodução)
 
 
A Câmara dos Deputados em Brasília acomoda hoje 513 políticos eleitos pelo povo. Eles deveriam ser os representantes das ideias da sociedade, da população e daqueles que se alinham com os mesmos ideais. A partir das eleições de 2026, este número passará a ser de 531, de acordo com projeto aprovado pelo Senado, em junho deste ano. Serão 531 Deputados Federais com ideias as mais diversas, variadas e, é claro, ideias absurdas e condenáveis, como foi o caso da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Blindagem que propunha, resumidamente, ampliar a proteção de parlamentares contra investigações e processos criminais e civis. Conhecida também como PEC da Bandidagem.
 
Estes 531 políticos passariam a ser intocáveis e apenas seus pares poderiam permitir quaisquer investigações. Ah, inclusive presidentes de partidos políticos, sem cargo eletivo, que recebem dinheiro público. Estes também se elevariam à casta dos deputados e as regras valeriam também para eles. Imagina?
 
Dos atuais 513 deputados, 344 votaram a favor da tal PEC da Blindagem. Em três votações. Estes concordaram que eles mesmos não poderiam ser presos nem em flagrante delito! O texto previa a necessidade de permissão deles próprios para abertura de ações penais contra eles próprios. Segundo a proposta, o Legislativo teria o período máximo de 90 dias para analisar pedidos de prisão e a abertura de processos criminais, por exemplo. Alguém confiaria? Tudo em sigilo, em off, sem qualquer transparência. Será que essa era a vontade de todos aqueles que os 344 famigerados legisladores representam? Creio que não.
 
Não foi à toa que a população, há muito adormecida, foi às ruas. Ainda humilde, perto do poder que tem, o povo conseguiu mandar seu recado. E não é de ver que tiveram representantes desta sociedade fingindo demência e pedindo desculpas a seus eleitores pelo apoio a tamanho absurdo? Teve deputado dizendo que não sabia o que continha o texto! Como não? São pagos para isso! E muito bem pagos. Teve quem cortou um dobrado nos vídeos gravados e publicados em redes sociais para tentar uma costura grande e tentar justificar o voto favorável ao absurdo, pedindo desculpas, se fazendo de vítima da própria escolha e da própria atitude. Uma deputada goiana disse que foi pressionada pelo partido, mas não foi além, não fez qualquer denúncia. Apenas se desculpou. Outro renomado deputado do Estado de Pernambuco, que pregava ideias diferentes, também fingiu demência e soltou os cachorros, dizendo achar um absurdo a tal da PEC que ele também votou a favor. Não se enganem: são todos iguais.
 
Teve deputado que enviou e-mail em massa tentando explicar que achou que tivesse votado de um jeito, mas errou e votou a favor. Muita leréia! Muito papo-furado que, espero, tenha deixado seus eleitores em modo alerta. Esses mesmos eleitores que invadiram as redes sociais dos tais legisladores, inconformados e indignados, com toda a razão, terão o poder maior de escolher, no ano que vem, os 531 nomes que farão parte da nova legislação. Espera-se, que eles, os eleitores, não se esqueçam, pelo menos desses 344 políticos que votaram a favor de si mesmos e deixaram seus representados com cara de tacho. Um deles, que se absteve, também merece o mesmo destino, a não ser que estivesse inconsciente numa cama de hospital.
 
Mas é tempo de manter a lembrança viva e, quando 2026 chegar, quando aquele mesmo político que já te assediou pedindo seu voto, inclusive o que se absteve, aparecer novamente, com aquela lábia que lhes é peculiar, com aquele mesmo papinho pra boi dormir, o eleitor possa sorrir, dizer que está tudo bem, que terá o prazer de garantir seu voto ao tal e chegar na hora mudar de ideia e escolher outro representante, que tenha a mesma ideologia do eleitor e que pense, acima de tudo, na sociedade. Se algum deles vier a reclamar de traição, quando as urnas os colocarem na lata de lixa da história política brasileira, qualquer um poderá, assim também, alegar demência e pedir desculpas pelo erro e pela troca de voto. Chumbo trocado não dói. 
 
Rimene Amaral é jornalista, radialista e fotógrafo

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