O Rio de Janeiro amanheceu hoje, dia 29 de outubro, em paz! No dia seguinte à megaoperação planejada por mais de ano pelo Governo do Estado, as comunidades da Cidade Maravilhosa estão pacificadas. Não há mais drogas, não existem mais facções agindo nas comunidades - ou em qualquer outra parte da cidade -, não há mais violência!
Depois da operação de ontem que deixou perto de 130 mortos - com metade dos corpos encontrada na madrugada por moradores em área de mata próximo às comunidades, no Morro do Alemão - e a apreensão de um grande arsenal com armas de todos os calibres e uma caminhonete cheia de pacotes de drogas, estão todos tranquilos, a população toda. Isso porque já se sabe que as armas e os fuzis não voltarão mais às comunidades e as drogas foram apreendidas. Depois da megaoperação que matou perto de 130 pessoas, os traficantes deixaram de existir.
A população do Rio de Janeiro acordou hoje, um dia após a operação, sem traumas, aliviada com as 130 mortes e com o balanço positivo da megaoperação. A população está satisfeita com tudo o que aconteceu. Fim da guerra do tráfico. É o início da paz no Rio de Janeiro, que nunca havia enfrentado operação de tamanha grandeza.
É claro que os três parágrafos acima são uma ironia. Até porque essas operações policiais já são mais que corriqueiras no Rio de Janeiro. Há décadas! Mas quando a quantidade de mortes não ultrapassa os dois dígitos, acaba nem sendo notícia. E o que mudou? Essas operações têm trazido que resultados?
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, em menos de três anos, as operações mais letais no Rio de Janeiro chamaram a atenção:
28 de outubro de 2025: Complexos da Penha e do Alemão, com mais de 120 civis mortos, além de dois policiais civis e dois militares;
?6 de maio de 2021: Jacarezinho, com 27 civis mortos;
?24 de maio de 2022: Complexo da Penha, com 23 mortos;
?21 de julho de 2022: Complexo do Alemão, com 16 mortos;
?23 de março de 2023: Salgueiro, com 13 mortos
Há décadas a população assiste a esse tipo de intervenção policial acontecer nas comunidades do Rio de Janeiro. Os brasileiros assistem assustados. E o mundo, pasmo! Elas acontecem - sabe-se lá com que planejamento - e deixam mortos aos montes - civis e militares, bandidos e inocentes - sem qualquer preocupação com os Direitos Humanos. Deixam mortos!
O Rio de Janeiro já viveu tanto esse terror, que parte da população já não acredita mais que um dia possa haver paz. E a situação não se resolveu porque a forma de resolver não é uma polícia invasiva, que avança, mata, recolhe armas e drogas e sai das áreas de conflito, deixando os corpos para trás e o medo impregnado. Segundo especialistas em Segurança Pública e o Fórum Nacional de Segurança Pública, aumentar o efetivo policial nesses locais é o mais urgente.
E esse medo, que fica tatuado em quem precisa pedir permissão para chegar em casa, principalmente nos moradores das comunidades do Rio de Janeiro, é também uma visão desesperançosa por dias melhores e pela obrigação do Estado de garantir segurança. Uma apatia que foi verbalizada, friamente, por uma moradora que já viu outros tantos conflitos. Carla Fátima Pereira resumiu a sensação de muita gente: “Tenho esperança mais não. Até algum tempo atrás eu tinha, hoje não tenho mais não”. E um povo sem esperança é um povo sem vida. O fato é que por mais que se faça alarde, não há nada que comemorar. Nenhuma operação que resulte em morte deve ser comemorada ou considerada sucesso. Nenhuma!
*Rimene Amaral é jornalista, radialista e fotógrafo.