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Rodrigo Sobreira

A desconstrução de um muro invisível

EUA e Cuba viraram página símbolo do séc XX | 17.12.14 - 19:35

Goiânia - O ano de 2014 chega ao seu capítulo final virando a página de um dos maiores símbolos do século XX: a relação EUA-Cuba. Após longas negociações entre os presidentes Barack Obama e Raul Castro, incentivadas pelo Papa Francisco, foram anunciadas novas diretrizes da política norte-americana para a pequena ilha caribenha. O rompimento das relações entre os países, após a Crise dos Mísseis em 1962, durou mais de 50 anos e constituiu um dos pilares da estratégia norte-americana para América Latina durante a Guerra Fria. 
 
Os acontecimentos recentes no Oriente Médio, na Ucrânia e os possíveis desdobramentos geopolíticos para a Ásia Central levantaram a possibilidade de uma “Nova Guerra Fria”. Enquanto os EUA enfrentam as consequências de sua política para o Oriente Médio, o Estado Islâmico é a principal delas, a Rússia se volta para seu projeto de hegemonia na Eurasia.

A China é o terceiro elemento nesse tabuleiro, investindo na construção de gasodutos e oleodutos em países como Cazaquistão e Turcomenistão. Por enquanto, é cedo para afirmar o ressurgimento de um novo embate entre superpotências – o próprio conceito de superpotência deve ser repensado. De qualquer forma, a garantia de uma área de influência estratégica geopolítica é essencial para qualquer país que queira assumir a função. Por esse motivo, Cuba significava tanto no equilíbrio de poder no século passado e a reaproximação com os Estados Unidos é tão simbólica. 
 
Do ponto de vista da retórica de ambos os governos, o embargo econômico e as relações cortadas forneciam subsídios de afirmação para suas políticas. Por um lado, uma ameaça vermelha a poucos quilômetros do território nacional; por outro lado, uma luta assimétrica entre uma pequena ilha e a maior potência do planeta. A mudança de conjuntura leva a uma mudança no discurso e na prática. Cuba busca alternativas para o desenvolvimento e tem adotado experiências inspiradas nas Zonas Econômicas Especiais chinesas – o tão debatido Porto de Mariel é uma delas – isto é, uma zona franca e industrial com diversos incentivos.

Os Estados Unidos enfrentam o desafio de reconfigurar e sustentar sua posição de superpotência. Do lado cubano, é importante observar como o governo irá tratar a reaproximação, uma vez que o regime apontava o isolamento como uma das principais causas dos problemas de desenvolvimento da ilha. Do lado norte-americano, a simbólica frase de Obama “todos somos americanos” e a citação a José Martí podem apontar para uma nova fase na política para América Latina, ainda que apenas mais um esforço de consolidação hegemônica.
 
O presidente Obama admitiu que a estratégia de isolamento falhou e uma nova abordagem nas relações deve ser construída. Para isso, também recomendou a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo – o país estava incluído desde 1982. Vale ressaltar que a reforma do Canal do Panamá ampliará significativamente o volume de mercadorias transportadas na região, aumentando a importância estratégica de todos os países próximos. No entanto, o bloqueio econômico permanece até a revogação da Lei Helms-Burton de 1996. O congresso americano, único que pode revogar a lei, já sinaliza contra, principalmente, devido ao forte lobby cubano anticastrista. 
 
De qualquer forma, trata-se de um ato histórico. Com a mediação de um Papa argentino, uma das feridas abertas da Guerra Fria pode começar a cicatrizar. Porém, como tudo em Política Internacional, é preciso aguardar atenta e pacientemente os próximos eventos. Ou citando o autor Fred Halliday: “Existem duas respostas frequentes para qualquer evento histórico, ambas inapropriadas, se não totalmente equivocadas: dizer que tudo mudou ou dizer que nada mudou”. 

*Rodrigo Sobreira é analista internacional e mestrando em Ciência Política pela UFG.


Comentários

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  • 28.12.2014 00:44 Júlio César

    O que mudou é o seguinte: agora Cuba terá uma ditadura com dinheiro.

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