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João Novaes

Mapa para o lamaçal

| 22.05.15 - 17:09
Goiânia - Assisti há alguns dias a um filme realmente perturbador, uma mapa que te promete a via láctea, mas que te leva a infernos dantescos criados pela própria indústria cinematográfica! David Cronemberg, ao contrário de seu filme anterior, o fraco “Cosmópolis”, consegue mexer profundamente com qualquer espectador em seu “Mapa para as estrelas”! Com uma atuação impecável de Julianne Moore, talvez em seu melhor papel, em que interpreta uma atriz obsessiva na busca pelo papel que um dia fez sua mãe suicida , em si, é um resumo de toda a perversa indústria hollywoodiana. Mas ainda estão ali ninguém menos que John Cusack na pele de um terapeuta/coach  - o Dr. Stafford Weiss -  de atores e atrizes cheio de lábia e um imenso ego dominador que afasta sua filha problemática.

Infelizmente revelar a grande chave do roteiro de Mapa para as estrelas, seria cometer um spoiler, o que não pretendo nestas breves linhas.  Mas talvez possa dizer que o incesto seja o grande tema desta pesada obra! Mia Wasikovska encarna uma garota problemática e com diversas cicatrizes de queimaduras pelo corpo. É uma espécie de prima distante do próprio Chucky que volta para solapar e implodir a hipocrisia de sua família. O filme flerta com filmes de terror em seus melhores momentos, com personagens assombrados por diferentes fantasmas pessoais.

É notável também a atuação do garoto Evan Bird, que apesar de seus parcos 16 anos já demonstra todo o sarcasmo, a imbecilidade e o doentio culto ególatra que a indústria causa em jovens atores ou crianças que escolhem essa carreira estranha do show business ! O pobre Benjie Weiss já passou pelas clínicas de reabilitação antes frequentadas por Robert Downey Jr., como brinca o roteiro de Bruce Wagner, que o tempo inteiro traz fatos reais para darem veracidade a sua história.  Em “Cosmópolis”, Cronemberg já havia se utilizado da linguagem documental, colocando Robert Pattinson – que também está neste brilhante filme – em sua limousine para atuar em meio aos protestos do Occupy Wall Street, em 2009.  Em “ Cosmópolis” Pattinson fazia um  bilionário que só vive dentro de sua limousine, já em “ Mapa para as estrelas” o diretor inverte sua posição e o transforma em um chofer que sonha em ser ator dentro deste mesmo carro.

O diretor usa um método estranhamente eficaz de repetição de frases, ditas pelas diferentes bocas de suas personagens que causam uma reconstrução constante de padrões e significações a seu roteiro! A busca insana pela fama e o poder associado a ela dão um tom de thriller ao longa!  E a busca pelas estrelas, feitas por turistas incautos, daqueles que procuram ver as mansões de astros da indústria em Beverlyhills, transforma-se numa metáfora para o mapa real de vilania, obsessão e loucura que vêm em seu rastro.  

Um filme para psicanalistas!-não por acaso encontrei dois grandes psicanalistas de nossa capital  na sessão, o casal Luciano e Sônia Caldas! Porque loucura pouca é bobagem! E “Mapa para as estrelas” leva este estado de neurose, perversão e insanidade à enésima potência!  Na verdade está traçado ali, naqueles fotogramas digitais um  verdadeiro mapa para os labirintos da mente humana em decomposição ! Um emaranhado de estranhezas, peculiaridades e sordidez muito bem engendrados pelo diretor!

A cena em que Julianne Moore defeca em frente a sua problemática assistente é ao mesmo tempo bizarra, incômoda e eficaz na tarefa de Cronemberg de dessacralização de suas estrelas! Assim como quando o pobre Benjie entra em alucinação, pensando ver o espírito de uma menina morta e ataca o pescoço de seu colega de elenco mais novo que está roubando sua cena na péssima série de Tv em que atuam!

A trilha sonora do longa é que deixa um pouco a desejar! Composta em sua maior parte por trilhas incidentais para as cenas, as músicas quando escutadas a parte das imagens só irritam e causam tensão. Não têm uma releitura e talvez o humor que Tarantino consegue impor às suas releituras de clássicos do rock mundial reinseridos no contexto de suas tramas.  Mas serve ao seu propósito de criação e manutenção do suspense da trama!

“Na testa de meus amigos, em cada mão estendida, escrevo seu nome . Na escada da morte eu escrevo seu nome. Liberdade!”  Esse texto é repetido continuamente no longa e carrega em si o fogo avassalador que quase matou e depois cicatrizou a personagem de Mia, mas que não abandonou sua alma! O fogo também permeia a vida da personagem de Juliane Moore, pois sua mãe morreu em um incêndio.  E as labaredas da vaidade, tão comuns na indústria cinematográfica lambem os rostos de cada um dos personagens da trama. O pior suicida é aquele que não se contenta só em se matar, mas também quer arrastar os outros para seu próprio inferno! Inesquecível, impactante, um filme visceral!

*João Novaes é diretor, produtor executivo e crítico de cinema e televisão (joaonovaes2@gmail.com).
    

Comentários

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  • 25.05.2015 13:09 Luciano Caldas

    Gostei muito do seu texto e já estou repassando para outros q ousaram não gostar do filme.

  • 25.05.2015 13:06 Luciano Caldas

    Lindo texto, gostei muito da sua elaboração e já estou dividindo seu texto com outros. Abs

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