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Valeu, Amy!

Valeu, Amy! | 23.07.11 - 16:20

Todo mundo sabia que esse dia iria chegar, mais cedo ou mais tarde. E eu, se fosse realmente um jornalista competente, já teria esboçado esse texto há mais tempo. Shame on me! O fato é que a cantora Amy Winehouse bateu as botas hoje, em Londres, no apartamento onde vivia. A causa da morte ainda não foi definida, mas, devido aos maus hábitos que ela teve em vida, todo mundo já supõe que esteja ligado ao consumo de álcool e drogas. Tomara que eu esteja errado, pois gosto de ver jornalista queimando a língua. Como naquele vacilo histórico da Veja que afirmou em sua capa que a morte da Cássia Eller foi motivada pelas drogas e a perícia mostrou o contrário.

Amy se junta ao triste clube dos ídolos mortos aos 27 anos. Essa pequena, digamos, maçonaria musical começa com o bluesman mor Robert Johnson e passa por Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain. Todos com a carreira precocemente abortada aos 27, a idade onde o cara decide se prefere morrer jovem do que ficar velho como escreveu (e não fez) Pete Townshend ou chegar aos 64 como escreveu (e fez) Paul McCartney.

Amy se destacou em uma geração pasteurizada onde divas insípidas como Beyoncé, Rihanna ou Kesha conseguem holofotes (tristes tempos esses...). Enquanto as outras são coordenadas por produtores especialistas em hits, Amy tinha uma carga de referências que a coloca em um patamar diferenciado da média. A inglesa bebeu na melhor fonte da música negra norte-america e pegou o caminho certo. Motown e Stax foram consumidas em doses cavalares, tal qual vodca e cocaína. De vez em quando pintava um ska, como de vez em quando na sua vida pessoal pintava um baseadinho. Mas essa não era a rotina. A parada ali costumava ser mais pesada, em fitas como crack, heroína e cocaína escorrendo pelo nariz.

Além da carga musical diferenciada que Amy trouxe, seu visual também remetia ao seu período de referência estética. O penteado, o vestidinho e a maquiagem foram reinventados diretamente dos anos 60 para a geração 00. A prova disso é que basta um rolê pelo Metrópolis para ver o quanto as garotas redescobriram o visual das Supremes sem nunca ter sequer ouvido o som do grupo feminino estadunidense. E a culpa disso, é claro, recai sobre a Amy.

Não tive possibilidade temporal de acompanhar a derrocada de Johnson, Jones, Morrison, Joplin e Hendrix. A de Cobain acompanhei. Todo mundo já sabia que a morte do líder do Nirvana chegaria. Pouco tempo antes de seu suicídio, ele teve um princípio de overdose na Itália. Me lembro de ver essa notícia no Jornal Nacional. Eu sabia que o cara que eu gostava iria morrer logo. Com a Amy, todos sabíamos que o caminho era o mesmo. Mas quando a notícia chega, ela nos surpreende. E nos abala.

O fato é que perdemos uma artista grandiosa de forma precoce. Sei que é batido, mas nesses momentos sempre me recordo de Renato Russo, outro talento que se foi muito cedo: "É tão estranho, os bons morrem jovens...".

E que Amy continue sendo feliz no outro plano, com seu cigarro, sua vodca e sua carreira esticada em um balcão do céu. Pois é assim que era era feliz. Foi assim que ela escolheu morrer. E ninguém nunca teve nada a ver com isso.


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