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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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O tal do “Museu de Lula” é mais que válido

A importância do movimento sindical é notória | 13.04.12 - 18:42


Observei certo rebuliço em torno do financiamento para a construção Museu do Trabalho e do Trabalhador, apelidado maldosamente de “Museu de Lula”. Nego está “indignado” com a verba pública investida de R$ 18 milhões no projeto cultural, sendo que R$ 14,4 mi serão do Governo Federal e R$ 3,6 mi da prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), município que o sediará. Balela pura esses questionamentos. Mais que isso, miopia social. Talvez vá até além, o mais puro preconceito de classe.

É clara e notória a importância do movimento sindical do ABC paulista para a história do Brasil, independente de cores partidárias. Negar que ali surgiu algo que mudou profundamente (se de forma positiva ou negativa, deixo a seu cargo) nosso país, ou é burrice, ou é torpeza. Confesso que nesse caso não acredito muito na hipótese da estupidez, logo... A relevância histórica do que aconteceu naquelas greves do final da década de 1970 foi tamanha que, veja você, foi a escola política de um presidente da República, pouco mais de 20 anos depois.

Além da crítica de cunho partidário óbvia, afinal tanto a União quanto a cidade de São Bernardo são administradas por governos petistas, existe ainda a crítica de cunho social. É gente que pensa que só rico pode ter memória no Brasil. Observe que a maioria dos nossos museus tem nomes de poderosos, está nas casas que foram de poderosos ou preserva a lembrança só dos poderosos. Sempre quem conseguiu chegar ao poder consegue resguardar sua memória. Normalmente, os perdedores têm sua memória aniquilada. Ninguém conta a história de quem não chegou lá. E, via de regra, o povo não chega lá. Movimentos populares, camponeses, de luta pela terra, de reocupação urbana, de resistência são jogados na marginalidade do esquecimento. Para dar uma singela idéia do que estou falando, ao invés de preservar toda região onde foi construído o vilajero de Canudos e aconteceram todas as batalhas que levaram a seu ocaso, construíram um açude que cobriu todas as ruínas.

Cabe a pergunta: fizeram o mesmo, por exemplo, na casa onde morou a família real brasileira de Dom Pedro I e II? Outro questionamento pertinente: será que o movimento sindical do ABC teria seu memorial caso em suas entranhas não tivesse sido forjado um presidente do Brasil? Você, cara esperto que é, sabe a resposta.

Precisamos cada vez mais democratizar a formação de novos museus para preservação da história, seja ela oficial ou popular. Entendo que esse museu em São Bernardo do Campo é um híbrido. Tem sua nascente popular e de combate ao establishment, contudo se transforma e adere ao status quo, compõe com forças que antes eram contrárias e conquista o poder nacional. Mesmo se ele não tivesse, digamos, “chegado lá”, seria necessário que se preservasse essa memória. Qualquer crítica que perceba como irrelevante essa história para o Brasil é, obviamente, capciosa.


Comentários

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  • 15.04.2012 04:54 João Gabriel Alves Camargo

    Erico, informe-se melhor. O nome oficial do MASP é "Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Masp). Quanto ao texto, Kossa, está irretocável. Contra fatos não há argumentos. Parabéns.

  • 14.04.2012 06:57 Gustavo Grilo

    Achei seu texto extremamente partidario. Acho que o museu do trabalho e do trabalhador pode ser uma coisa legal, mas o fim que ele vai tomar, como VOCE BEM SABE, sera outro. Sera o museu do Lula sim, mas nao de uma forma pejorativa, sera o museu em homenagem a ele e nao aos trabalhadores...

  • 14.04.2012 06:49 CArlos tahan

    Entendo sua argumentaçao, mas acreito que o fim não justifica os meios, portanto acho salutar envocar a história do nosso país e de um trabalhador que chegou ao planalto e ajudou a democratizar socialmente nosso povo, mas sem essa de verba pública. Sou, ou melhor, era Petista de carteirinha, reconheço os avanços que o governo Lula teve, da mesma forma que confesso que esse PT ajudou a derrubar nosso sonho de ter um país de governantes honestos. E isso me traumatizou politicamente.

  • 14.04.2012 01:34 Erico

    Como colunista acho que você tem todo direito à adoração (e bajulação) do mito Lula, mas como jornalista acho estranho chamar “qualquer crítica” de “capciosa”. Aqui vai, no entanto, uma crítica respeitosa. Seu texto expressa claramente a essência do pensamento da esquerda brasileira (acho que com a maior representação no PT) em que o fim justifica os meios. Para defender a construção de um museu em comemoração da esquerda (travestido em outra nomenclatura) tudo é permitido, inclusive o uso do dinheiro público para tal. Como jornalista, talvez você pudesse fazer um comparativo com a Fundação Sarney sendo mantida pelo erário. Aí não pode, não é? Afinal de contas, o senador é rico e poderoso! Talvez seja bom lembrar que petista pobre é coisa de 2001. Hoje a “cumpanheirada” tá empregada em cargos de confiança, com a chave dos cofres públicos e bastante rica (pergunte ao filho prodígio do homem ou ao Zé Dirceu). E mais, a maioria dos nossos museus não recebe nome de “poderosos”. A maioria é neutra (ex: Museu de Artes de São Paulo) ou recebe o nome de pessoas que trabalharam pela cultura brasileira, como Iberê Camargo e Cora Coralina. Não acredito no merecimento de um ex-presidente que sempre preferiu uma partida do Coringão à uma tarde no MASP.

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Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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