Leonardo Razuk
Goiânia - Frankenmuth é uma pequena cidade no norte dos Estados Unidos, com pouco mais de 5,5 mil habitantes, mas de características bem marcantes. Localizada a cerca de 150 km de Detroit, a cidadezinha também é conhecida como Little Bavaria por ser uma verdadeira colônia alemã incrustrada no estado do Michigan. Com ruas ladeadas com floreiras, arquitetura típica alemã e restaurantes oferecendo os melhores pratos da culinária germânica, Frankenmuth recebe milhares de turistas todos os anos para eventos típicos da Alemanha como a Oktoberfest e o Bavarian Fest. Uma lugarejo com muita personalidade, ao contrário de quatro de seus mais ilustres filhos que ainda lutam por uma identidade musical própria.
Os irmãos Josh, Jake e Sam Kiszka (vocal, guitarra e baixo, respectivamente) e o baterista Daniel Wagner formam o Greta Van Fleet, grupo de hard rock que já conquistou uma grande projeção e sucesso mundial, mas que ainda não tem uma cara e sofre com as inevitáveis e frequentes comparações com o Led Zeppelin. The Battle at Garden's Gate, o novo disco da banda, é mais uma batalha travada pelo quarteto na tentativa de se afastar das comparações e trilhar seu próprio caminho.
O esforço da banda é louvável e a qualidade técnica não faz deles um mero pastiche do Led Zeppelin. O Greta Van Fleet não é uma banda inovadora e original, faz mesmo um rock nostálgico, com sabor, cheiro, cores e visual de passado, mas se você se livrar das comparações com o Led, poderá se divertir com seus discos e shows. E, se pensarmos bem, poucas são as bandas atuais que realmente conseguem apresentar algo inovador. O problema do GVF é que as semelhanças são muito gritantes, exageradas e passam do ponto de ser apenas uma “referência”.
The Battle at Garden's Gate não busca romper com essa incômoda comparação sendo moderno ou modista, mas tenta afastar a banda das associações à dupla Page-Plant e explorar outros rumos, ainda que também ligados ao rock dos anos 1970. Greg Kurstin, vencedor do Grammy por trabalhos com Adele e Beck e que também já dirigiu discos de Paul McCartney e Foo Fighters, é o responsável pelo trabalho e por tentar guiar a banda por novas estradas. E um desses caminhos levou o Greta Van Fleet para o sul dos EUA. A temporada na musical cidade de Nashville fez os irmãos Kiszka se aproximarem de texturas mais sulistas, do rock do deserto e do folk rock que podem ser ouvidos em músicas como Tears Of Rain e Stardust Chords.
A faixa de abertura do disco, Heat Above, também dá outros tons ao som do Greta Van Fleet, com um climão mais progressivo, cheio de teclados, violões folk e ares que remetem muito mais ao Rush do que ao Led Zeppelin. Trip The Light Fantastic, Light My Love e My Way, Soon são outras canções que privilegiam mais a melodia e o psicodelismo do que os riffs duros do rock’n’blues zeppeliano.
No entanto, o Greta Van Fleet ainda derrapa pelo caminho. Mesmo nesse disco é possível identificar fortes (e incômodas) semelhanças com a guitarra de Jimmy Page, os vocais de Robert Plant ou mesmo a bateria de John Boham. E músicas como Broken Bells ou The Weight of Dream, com seus quase nove minutos, parecem ter a clara pretensão de ser a Stairway to Heaven dos garotos de Frankenmuth.
Só que a guerra não está toda perdida. Nessa nova “batalha no portão do jardim”, o Greta Van Fleet arrombou algumas portas e avançou em busca de sua identidade própria. A esperança é que eles sigam nesse caminho. Afinal, são jovens talentosos que fazem música também para jovens. E com o devido amadurecimento, o Greta Van Fleet pode ser um estopim para que a geração dos algoritmos de streaming mergulhe mais fundo nesse tal rock and roll. Que os deuses nórdicos os ajudem nas próximas batalhas.