Quando ouço a expressão de que alguém é “pior que carrapato”, minhas pernas tremem na hora. Se o cara consegue ser mais chato e irritante que carrapato, quero ficar pelo menos a 100 milhas de distância do fulano. Nessas horas, toda precaução do mundo pode ser pouca. Nego chato já é grave, se o indivíduo é chato e grudento “pior que carrapato”, a coisa pega proporções dramáticas.
Sei o que é carrapato. Meu cachorro, o Xico, já sofreu com essa praga. É um inferno. Todo dia, era um tempão de baculejo no bichinho e um tanto de parasitas queimados em seguida. Uma vez por mês, dá-lhe remedinho na nuca do cachorro. Uma canseira sem fim para nos livrarmos da infestação. Vez ou outra, ainda aparece um carrapato no Xico. E na mesma hora já bate a preocupação de que a crise intensa volte. Só a tensão.
Aí você, caro leitor, imagine quando um cara é comparado a esse martírio. E o mais grave: é considerado mais complicado que o carrapato. Só contando com a ajuda dos céus para que nossos ouvidos e paciência sejam poupados. O cara pior que carrapato lhe pega para conversar nos momentos mais inoportunos. Você engatou um papo legal com aquela garota que sempre habitou os seus sonhos. Já foram algumas cervejas e as afinidades começam a aparecer. Tudo leva a crer que esse será o grande dia. Mas não. Existia um cara pior que carrapato no meio do caminho.
Ele interrompe o lance agradável para discutir política e lhe chamar de traidor do movimento. Para falar de futebol e provar por A mais B que você não entende nada do esporte. Para lhe apresentar a mais nova revolução do rock mundial, a banda em que ele toca. Nesse meio tempo, a menina que não é trouxa já foi embora e deixou você com aquele abacaxi nas mãos. Pronto. Você agora vai propagar aos quatro cantos do universo que aquele infeliz é pior que carrapato.
Os caras também aderiram ao mundo virtual. Nas redes sociais, eles são fartos. E mostram sua faceta chata a todo momento. Você tuíta alguma coisa sem relevância, ele devolve 50 tuítes debatendo profundamente e citando autores para provar que você foi politicamente incorreto naquele comentário. Elabora teses e mais teses começando com a expressão “eu, enquanto não sei o quê” como se isso fosse dar mais autoridade ao seu argumento e não se atenta ao elementar e explícito. Pede para que você o siga, o adicione ou compartilhe algo que você não tem o menor interesse. Flooda sua timeline com bobagens sem fim. Compartilha fotos escatológicas. São muitas as armas dos chatos na grande rede.
O pior é que ainda não inventaram um Frontline para gente pior que carrapato. A solução é sempre preventiva. A distância é a melhor alternativa. Dá para mapear e escapar de muito aluguel. Mas tem vezes que isso é impossível. Quando o carrapato gruda, aí, meu amigo, é sentar e chorar. E dar adeus a esses valiosos minutos da sua vida. Ok, carrapato, você ganhou! Sugue o sangue de minha paciência até que eu consiga passar você para outro. E tomara que não demore!