Carolina Pessoni
Goiânia - Frutas, legumes, temperos, queijos, carnes, pimentas... Tudo isso poderia fazer parte do estoque de qualquer supermercado se os outros itens que compõem a lista de produtos oferecidos nesse lugar não fossem botinas, peças de artesanato, redes, raízes medicinais, cabaças, berrantes e até fumo de rolo. Neste caso, essa variedade toda tem endereço certo: o Mercado Central de Goiânia.
Localizado no número 322 da Rua 3, no Centro da capital, o mercado é um dos pontos mais tradicionais da cidade. Lá é possível encontrar produtos tradicionais da culinária e da cultura do Estado e ainda saborear os tradicionais salgados das lanchonetes locais.
O primeiro mercado municipal da cidade funcionava no local onde atualmente é o Parthenon Center. Foi fundado em 1950, na gestão do prefeito Eurico Viana. Posteriormente foi transferido para o Mercado Centro Comercial Popular, conhecido como Camelódromo do Centro. No dia 24 de outubro de 1987 foi, então, inaugurada a sua sede definitiva, onde está até hoje.
Mercado Central ainda na Rua 4, onde hoje é o Edifício Parthenon Center (Foto: Hélio de Oliveira/ Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Goiânia)
Com área construída de 6.787 metros quadrados divididos em três pavimentos, o mercado foi inaugurado com a finalidade de abastecimento de alimentos. No início, eram 120 permissionários que vendiam, principalmente, secos e molhados, além de hortifrutis.
Com o surgimento de diversos mercados e grandes centros de compras espalhados pela cidade, o terceiro piso do mercado não teve o interesse esperado. Por isso, foi necessária a remoção dos poucos permissionários deste pavimento, em novembro de 1995, na gestão do prefeito Darci Accorsi. Atualmente, no terceiro piso funciona o Restaurante do Trabalhador.
Entretanto, desde sua inauguração o Mercado Central mantém seus atrativos e um público cativo fiel. Seja pela qualidade e sabor dos queijos, farinhas, pela tradição do artesanato ou pela amizade construída entre comerciantes e clientes, o local ainda é um ponto de encontro tradicional em Goiânia.
Tradição
Valdivino de Paula trabalha no Mercado Central desde 1964, quando ele ainda funcionava na Rua 4. Ele conta que começou como ajudante, a convite dos irmãos e, posteriormente, adquiriu sua permissão, já em 1984.
Sempre com frutas frescas da região, como banana, mamão, abacaxi e laranja, a banca do seu Valdivino é uma das mais tradicionais e visitadas do Mercado. "A banca sempre foi no mesmo lugar. Tenho clientes fixos que se transformaram em amigos", conta.
Valdivino de Paula trabalha no mercado desde 1964 (Foto: Letícia Coqueiro)
Para ele, o mercado é uma grande família, um local de onde não pensa em sair tão cedo. "É um privilégio trabalhar no Mercado! Aqui já criamos raízes, temos amizades de mais de 40 anos. Meus filhos cresceram aqui dentro e foi daqui que tirei o sustento para criar minha família. Não penso em largar nem parar de trabalhar aqui. Se parar, enferruja", brinca.
Nivaldo Pereira de Almeida também tem uma longa história no Mercado. Trabalha na mesma casa de carnes do local há 25 anos. "De início, o que me chamou a atenção de trabalhar aqui foi o horário certinho de entrar e sair", relembra.
Ele conta ainda que os anos de trabalho no mesmo ponto resultaram em amizade com muitos clientes. "A gente considera uma família, é muito tempo de convivência", conta o açougueiro que também criou a família e educou os filhos com o trabalho no Mercado. "Não penso em sair daqui", afirma.
Nivaldo Pereira trabalha na mesma casa de carnes do Mercado Municipal há 25 anos (Foto: Letícia Coqueiro)
O administrador do Mercado, Rafael Saêtta, se considera "honrado e privilegiado" por estar à frente desse símbolo de Goiânia. "Hoje, juntamente com a Associação dos Permissionários, alinhamos as necessidades cotidianas e tentamos resolver as demandas de maneira eficiente", explica.
Para Rafael, o mercado tem uma grande importância para o Centro e para a capital. "Aqui já foi o ponto de encontro de diversas gerações, carrega na bagagem décadas de mudanças na cidade. Hoje o mercado tem um peso histórico. Temos gerações de famílias que tocam o mesmo negócio. É de grande valia que ele não seja esquecido pela população", reforça.
Diante da popularização dos centros comerciais e da expansão dos hipermercados pela cidade, manter o público do Mercado Municipal tem se tornado um desafio. "A procura pelo Mercado teve queda, a população mudou bastante e as pessoas que frequentam o espaço já não são as mesmas. Trazer a população novamente para cá é o nosso maior desafio!"
A coluna Joias do Centro tem o apoio da Sim Engenharia
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