Sete mil anos seria plausível para a idade do Ravanastron?
Segundo André Bueno (2016, pp. 7-8), a preservação da história da antiga Índia foi feita no ambiente das práticas religiosas, confundindo-se, assim, com a história do “hinduísmo e, de forma contígua, do jainismo e do budismo”. De fato, “a preservação da cultura indiana tradicional dispensou, por séculos, a necessidade de ser historiografada”. Ao que parece, entre os indianos, a exemplo dos gregos, “suas histórias deveriam trazer exemplos morais e espirituais, sem uma preocupação exata com questões cronológicas ou factuais”. Por conseguinte, para Bueno, “é da arqueologia moderna que proveio um exame mais nítido das civilizações indianas antigas”.
Ao que parece, a exemplo do que ocorreu na China, a Índia, teve um passado neolítico autóctone. Embora seja possível que a ocupação da antiga Índia tenha ocorrido há dezenas de anos antes da Era Cristã, para Alda Mauro Tírico (1964, p. 299), em A originalidade hindu e a sua sobrevivência, a primeira civilização da Península Hindustânica teria florescido em c. 5000 a. C. Trata-se da Civilização do Vale do Indo ou Civilização Harappeana. É oportuno lembrar que o nome da “Índia” deriva do vocábulo “Indo” (Sindhu na língua sânscrita: “rio”), em alusão ao maior rio daquele país. De acordo com Hilda Moreira de Frias (2003, pp. 179-180), no artigo História e Religião na antiga Índia, os persas e iranianos adaptaram a palavra “Indo" para Hendu e os gregos para Indus.
Naquele tempo, ainda segundo o relato de Tírico (ibidem), o Vale do Indo seria o lar de diversas populações primitivas (khonds, kols, katharis, thakours, munda etc.). E, mais tarde, aquelas primeiras etnias indianas seriam absorvidas “por uma onda dravídica”, termo relacionado com os povos dravidianos ou drávidas. Mesmo na época da publicação de seu artigo (1964), Alda Tírico noticiava que as “línguas dravídicas” predominavam no Sul da Índia moderna, nomeadamente: “o tamoul, o telougou, o malayalam, o kanarais e o toulou, entre outras”.
Sobre esse assunto, em um trabalho mais recente, Emiliano Unzer deixa grafado em seu livro
História da Índia (2018, e-book):
A noroeste da Índia e leste do Paquistão há uns quatro mil anos atrás, corriam rios abundantes e perenes [...]. Terra essa que é chamada de Punjab, “cinco rios”, pois assim corriam os rios a desaguarem todos como afluentes do rio Indo. (Unzer, 2018).
De acordo com Unzer (
ibidem), foi exatamente naquela localização que, há pouco tempo, foram “encontrados os primeiros vestígios de assentamentos planejados e permanentes de comunidades humanas”, datadas de aproximadamente 2200 antes da nossa Era. Das escavações de dois sítios arqueológicos emergiram duas cidades. A primeira delas recebeu o nome de
Harappa. Daí a origem do epíteto
Civilização Harappeana. E a segunda, Mohenjo-Daro.
Figura 8: Mapa do vale do rio Indo e dos sítios arqueológicos
Harappa e Mohenjo-Daro.
Fonte: livro História da Índia - Emiliano Unzer
No entanto, Emiliano Unzer sublinha: “há evidências de continuado assentamento em outros sítios [...] mais recuados no tempo, como em Mehrgarh” (no atual Paquistão), cujas datas remontam ao “sétimo milênio a. C., na transição da vida nômade para a sedentária”.
Figura 9: Sítio arqueológico - Cidade de Harappa
Vale do Indo (atual Paquistão)

Figura 10: Sítio arqueológico - Mohenjo-Daro
Vale do Indo (atual Paquistão)
Então, repetindo a pergunta que iniciou esse Tópico “Sete mil anos (5000 a. C.) seria plausível para a idade do Ravanastron?” Considerando as informações coletadas até aqui, na minha opinião, a resposta é sim.
Lembrando que, nas próximas Colunas, vou tentar responder àquela pergunta motivada pela citação de Pierre Sonnerat a respeito de Ravana (o rei do Ceilão) encontrada no livro Le Musée du Conservatoire national de musique. Catalogue descriptif et raisonné par Gustave Chouquet (1884): “O famoso gigante hindu de dez cabeças”.
• Ravana realmente existiu? Ou trata-se de um personagem da mitologia3 indiana?