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José Abrão
José Abrão

José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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“Boomer shooter”: Uma boa aplicação para a nostalgia

| 13.10.22 - 21:46 “Boomer shooter”: Uma boa aplicação para a nostalgia Tela de 'Project Warlock' (Imagem: divulgação)Já há bastante tempo estava no meu radar o mais novo “movimento” a fazer sucesso nos círculos de jogos independentes da Steam: os “boomer shooters”. Trata-se de jogos de tiro em primeira pessoa (FPS) inspirados na estética e na jogabilidade dos pioneiros do gênero lançados nos anos 1990, principalmente DOOM e Quake, baluartes da Id Software que iriam influenciar e dominar a década, catapultando os “jogos de tiro” ao topo dos mais vendidos na frente de jogos de estratégia, aventura e plataforma.
 
O nome da coisa é claramente inspirado pela sonoridade: “gen x shooters” provavelmente não soaria tão legal. E tem também a ver com a estética: são jogos bombásticos, coloridos, violentamente gráficos e com trilhas sonoras geralmente compostas inteiramente de Heavy Metal. A coisa toda é alimentada por doses variadas de nostalgia baseada em um período no qual video games para PC vinham em disquetes e o Windows 95 era uma novidade.
 
Que nostalgia geralmente é o combustível do cenário independente de jogos não é exatamente novidade, mas o fenômeno boomer shooter me surpreendeu de duas formas. A primeira delas é que esta nostalgia finalmente chegou ao 3D: na última década e meia, a ‘pixel art’ e jogos em estilo 2D dominaram a cena, com a lente cor de rosa do retrô firmemente estabelecida sobre as gerações de 8 e 16 bits. Sendo assim, ver que a nostalgia conseguiu olhar com olhos bondosos para os horrendos anos iniciais do 3D é uma surpresa.


'Cultic' é um dos mais atmosféricos do movimento (imagem: divulgação)
 
O segundo ponto que me surpreendeu foi como, ao contrário de outras ondas na cena independente, o boomer shooter explodiu para a fora, ou seja, com o quanto o público estava voraz por esse tipo de jogo. E essa voracidade não se limita aos balzaquianos como eu, mas abrange quem não conheceu esse tipo de jogo: basicamente quem ingressou no mundo dos games por volta de 2010 em diante.
 
Ao mesmo tempo, são ambas as coisas que possibilitaram esse ressurgimento: a partir de Gears of War (2006) e Call of Duty 4: Modern Warfare (2007) tem início a infame “geração marrom”, composta por jogos de tiro obcecados com “realismo” e focados inteiramente na experiência multiplayer com lançamentos que rapidamente se tornaram anuais, sem muitas novidades, invenções e sempre com uma paleta de cores sem graça de pretos, cinzas e, é claro, marrons.


'Ion Fury' é um dos mais fiéis ao estilo old-school (imagem: divulgação)
 
O boomer shooter joga tudo isso pela janela retomando uma jogabilidade voltada para a experiência single player, estética arrojada e com a criatividade no talo. Quer ser um robô super-inteligente movido à sangue que decide ir ao inferno para se abastecer? Essa é a premissa de Ultrakill. Que tal uma experiência mega fiel e desafiadora ao estilo noventista? Busque Ion Fury.  Quer ser um cavaleiro medieval em um mundo de fantasia onde machados soltam raios laser coloridos? Tente Amid Evil. Quer enfrentar hordas demoníacas ao mesmo tempo em que precisa acertar o ritmo da música no estilo de Guitar Hero? Essa mistura já pariu dois jogos: Metal: Hellsinger e BPM. De repente você quer o jogo, mas não os gráficos datados: experimente Project Warlock. Quer uma narrativa single player focada em atmosfera, mistério e enredo? Cultic foi lançado nesta quinta (13/10).
 
Enfim, a cena indie é cheia de fases e ondas passageiras, mas esta veio como um bálsamo, trazendo cor, variedade e criatividade para um gênero estagnado há quase 20 anos. E ainda por cima tem a vantagem do preço: mesmo com dólar alto, estamos falando de jogos cujos valores ficam entre 20 e 70 reais, muito diferente dos atuais lançamentos que podem escalar até 350.

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