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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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A sagaz visão de Bernardo Élis

| 01.12.22 - 21:52 A sagaz visão de Bernardo Élis (Foto: Arquivo Nacional)Depois de muito procurar, finalmente consegui colocar as mãos em três livros de Bernardo Élis, único imortal goiano: Ermos e Gerais, Veranico de Janeiro e O Tronco. Os devorei nessa ordem. Acho que falar da excelência e qualidade destas obras é chover no molhado, portanto prefiro falar de como a atualidade de O Tronco, seu romance mais famoso, me impressionou.
 
O livro de 1956 possui temas sociais pertinentes e muito presentes nas obras de outros famosos escritores regionalistas brasileiros como Erico Verissimo e Jorge Amado, mas que ressoa com o Brasil de hoje, ao meu ver, ao ter como ponto nevrálgico a oposição de forças.
 
A trama se passa na vila do Duro no que hoje é o Estado do Tocantins, próximo à fronteira com a Bahia em 1919 e acompanha um conflito familiar entre poderosos locais que não estão acostumados a ter a sua autoridade feudal questionada.
 
Além de ser uma aula de História sobre República Velha – alô, vestibulandos! – o romance é todo baseado em dicotomias: o moderno e o provinciano; o passado e o presente; o progresso e o reacionário; a tradição e a novidade. Há mérito também em culminar em certo meio termo: não há futuro sem passado e o que é costume não pode durar para sempre.
 
Nisso, o tema mais marcante, e que voltaria a ser muito bem trabalhado por outro escritor goiano também de Corumbá logo depois, José J. Veiga, é a crítica ao autoritarismo.
 
Vicente, o que mais de próximo temos de um personagem protagonista, apesar de suas razões pessoais, se impõe como alguém que quer que o passado do coronelismo e dos jagunços dê lugar às leis e ao Estado de direito, mas acaba descobrindo a duras penas que as coisas não funcionam assim: não se pode vencer o autoritarismo com palavras.
 
Da mesma forma, o reacionário não abre mão por simples lógica ou fatos. Na trama, Artur Melo e seu pai, o coronel Pedro Melo, estão dispostos a ir até as últimas e mais destrutivas consequências para manter seu poder. Porque para eles, e aqueles que os apoiam, não é somente uma mera questão de poder: é a vida como ela é; as coisas como são e deveriam ser; o mundo como Deus o desenhou.
 
Élis é muito feliz em ver e transmitir de forma muito bem-feita o fato de que a política transcende para dentro do campo da filosofia existencialista. Ao falar de Goiás em 1919 ele podia muito bem estar falando de 2019.

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