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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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Uma inclusão inesperada

| 23.02.23 - 07:00 Uma inclusão inesperada (Foto: divulgação)Muito se comenta hoje sobre a necessidade da inclusão em todos os campos da vida e, principalmente, no meio do entretenimento devido ao impacto positivo da representatividade. Como essa representatividade é feita muitas vezes é criticada, porém, por ser meia-boca ou por repetir perpetuamente tropos cansados.
 
Pessoas negras e a comunidade LGBTQIA+ conhecem isso bem: sua presença em peças de mídia aumentou significativamente, mas uma boa representação ainda é caso raro. Acaba que, para a minha enorme surpresa, uma das séries mais inclusivas que eu já vi é também a mais improvável: Chucky.
 
Sim, Chucky, vulgo brinquedo assassino daquela série de filmes slasher tardios iniciada em 1988. Pois é. O seriado, já com duas temporadas disponíveis na Star+, é criado e conduzido pelo criador da franquia, Don Mancini, e com o retorno de todo o elenco, e se passa como continuação stand-alone dos filmes.
 
Mas isto não é o ponto. O ponto é que uma série camp de terror possui como protagonistas um garoto gay; um garoto negro e gay e uma garota. Na esfera imediata de personagens ainda estão uma criança autista; uma pessoa com deficiência; e não um, mas dois personagens não-binários.
 
O que faz toda essa representação ser boa é que a história não é sobre nada disso: estas pessoas estão lá vivendo suas vidas normalmente – ou o mais normal possível quando um boneco com a voz de Brad Dourif está te perseguindo com uma faca de churrasco.
 
E isso é importante porque muitas vezes programas com personagens queer ou autistas tendem ao melodrama a uma pegada um tanto exploratória da experiência queer e autista destes personagens, que acabam ficando unidimensionais: eles só são aquilo que representam, o que acaba não sendo inclusão de verdade.
 
Há uma piada recorrente sobre isso no Twitter brasileiro: “queremos gays trambiqueiras”, partindo do pressuposto de que personagens gays são limitadas a apenas isso e muitas vezes acabam morrendo nos programas em que estão incluídos. Por isso, de todos os programas hoje no streaming, Chucky surpreende e se destaca por fazer uma inclusão de verdade e não só pra inglês ver.

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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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